Astrônomos mapeiam formação estelar em nebulosa fora da nossa Galáxia com o ALMA
Com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), os astrónomos revelaram detalhes intrincados de 30 Doradus, uma região de formação estelar também conhecida por Nebulosa da Tarântula. Numa imagem de alta resolução divulgada hoje pelo Observatório Europeu do Sul (ESO), que inclui dados ALMA, vemos a nebulosa numa nova luz, com nuvens de gás que nos mostram como é que as estrelas massivas dão forma a esta região.
Esta imagem composta mostra a região de formação estelar 30 Doradus, também conhecida por Nebulosa da Tarântula. A imagem de fundo, obtida no infravermelho, é já por si só uma imagem composta: foi capturada pelo instrumento HAWK-I montado no Very Large Telescope (VLT) e pelo Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy (VISTA), ambos do ESO, e mostra estrelas brilhantes e nuvens cor de rosa claras de gás quente. Os traços brilhantes vermelhos/amarelos que estão sobrepostos na imagem vêm das observações rádio obtidas pelo Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) e revelam regiões de gás denso e frio, com o potencial de colapsar e formar novas estrelas. Foi a estrutura em teia muito característica das nuvens de gás que levou os astrónomos a dar a esta nebulosa o nome de tarântula. Créditos: ESO, ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/Wong et al., ESO/M.-R. Cioni/VISTA Magellanic Cloud survey. Acknowledgment: Cambridge Astronomical Survey Unit
30 Doradus é uma grande região de formação de estrelas localizada na Grande Nuvem de Magalhães, no coração da Nebulosa da Tarântula. Está a aproximadamente 170.000 anos-luz de distância da Terra.
Créditos: IAU/Sky & Telescope
Tony Wong, professor da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, EUA, o qual liderou o trabalho de investigação sobre 30 Doradus apresentado hoje no Encontro da Sociedade Astronômica Americana (American Astronomical Society, AAS) e publicado na revista da especialidade The Astrophysical Journal, destacou:
Estes fragmentos podem ser os restos de nuvens, anteriormente grandes e que foram despedaçadas pelas enormes energias emitidas por estrelas jovens massivas, num processo a que chamamos feedback.
Tony Wong
Os astrônomos pensavam inicialmente que o gás existente nestas regiões estivesse demasiado disperso e sobrecarregado por este feedback turbulento para que a gravidade o conseguisse aglomerar para formar novas estrelas. No entanto, os novos dados revelaram também filamentos muito densos onde o papel da gravidade é significativo.
Os nossos resultados mostram que, até na presença de feedbacks muito fortes, a gravidade consegue exercer uma influência forte, permitindo a continuação da formação estelar.
Tony Wong
Esta imagem mostra a região de formação estelar 30 Doradus, também conhecida por Nebulosa da Tarântula, nos comprimentos de onda do rádio, observada pelo Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA). Os traços brilhantes vermelhos/amarelos revelam regiões de gás denso e frio, com o potencial de colapsar e formar novas estrelas. A estrutura em teia única das nuvens de gás é característica da Nebulosa da Tarântula. Créditos: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/Wong et al.
Situada na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia satélite da nossa própria Via Láctea, a Nebulosa da Tarântula é uma das regiões de formação estelar mais brilhantes e ativas da nossa vizinhança galáctica, a cerca de 170 000 anos-luz de distância da Terra. No seu coração encontram-se algumas das estrelas mais massivas conhecidas, algumas com mais de 150 vezes a massa do nosso Sol, o que faz desta região o local ideal para estudar como é que as nuvens de gás colapsam sob a ação da gravidade para formar novas estrelas.
Guido De Marchi, cientista na Agência Espacial Europeia (ESA) e co-autor do artigo que apresenta estes resultados, afirmou:
O que torna a 30 Doradus única é o facto de se encontrar suficientemente perto de nós para podermos estudar com todo o detalhe como é que as estrelas se formam e, no entanto, as suas propriedades são semelhantes aquelas encontradas em galáxias muito distantes, quando o Universo era jovem. Graças a 30 Doradus, podemos estudar como é que as estrelas se formavam há 10 bilhões de anos atrás, na época em que nasceram a maioria das estrelas do Universo.
Guido De Marchi
30 Doradus é uma grande região de formação de estrelas localizada no coração da Nebulosa da Tarântula. Mostrado aqui em composição, os dados de comprimento de onda milimétricos vermelho/laranja do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) se destacam como filamentos semelhantes a cordas contra os dados ópticos do Telescópio Espacial Hubble (HST). Os cientistas que estudam 30 Dor descobriram que, apesar do intenso feedback estelar – que é conhecido por moderar ou diminuir a taxa de nascimento de estrelas – a gravidade continua a moldar a região, dando origem à formação de estrelas. Créditos: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), T. Wong (U. Illinois, Urbana-Champaign); S. Dagnelo (NRAO/AUI/NSF)
Apesar da maior parte dos estudos anteriores relativos à Nebulosa da Tarântula se terem focado essencialmente em regiões do seu centro, os astrónomos já sabiam desde há muito que a formação de estrelas massivas ocorre também noutros lados. Para compreender melhor este processo, a equipa levou a cabo observações de alta resolução que cobrem uma grande região da nebulosa. Com o auxílio do ALMA, os investigadores fizeram medições da emissão de monóxido de carbono gasoso, conseguindo assim mapear as enormes nuvens de gás frio da nebulosa que colapsam para dar origem a novas estrelas — e observar como é que se vão modificando à medida que enormes quantidades de energia vão sendo libertadas por essas novas estrelas.
Esta visão ampliada da região norte de 30 Doradus revela as estruturas filamentosas que compõem a nuvem de gás. Esta região contém várias protoestrelas massivas – cada uma com mais de 5x a massa do Sol – e é caracterizada pela formação contínua de estrelas. Estudos futuros da região de formação de estrelas usando o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) ajudarão os cientistas a entender por que a formação de estrelas difere de local para local dentro de 30 Dor.
Créditos: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), T. Wong (U. Illinois, Urbana-Champaign); S. Dagnelo (NRAO/AUI/NSF)
Estávamos à espera de descobrir que as partes da nebulosa mais próximas das estrelas jovens massivas mostrassem os sinais mais claros da gravidade a ser ultrapassada pelo feedback, em vez disso, descobrimos que a gravidade continua a desempenhar um papel importante mesmo nas regiões da nebulosa que estão muito expostas ao feedback — pelo menos nas partes suficientemente densas.
Tony Wong
Na imagem divulgada pelo ESO, vemos os novos dados ALMA sobrepostos a uma imagem infravermelha da mesma região que mostra estrelas brilhantes e nuvens de gás quente cor-de rosa claras, obtida anteriormente com o Very Large Telescope (VLT) e o Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy (VISTA), ambos do ESO. A imagem composta mostra uma forma distinta de teia nas nuvens de gás da Nebulosa da Tarântula, o que deu precisamente origem ao seu nome. Os novos dados ALMA correspondem aos traços brilhantes vermelhos e amarelos que vemos na imagem: gás denso muito frio que pode um dia colapsar e formar estrelas.
Esta imagem infravermelha mostra a região de formação estelar 30 Doradus, também conhecida por Nebulosa da Tarântula, onde se destacam as suas estrelas brilhantes e nuvens cor de rosa claras de gás quente. A imagem é composta: foi capturada pelo instrumento HAWK-I montado no Very Large Telescope (VLT) e pelo Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy (VISTA), ambos do ESO. Créditos: ESO, M.-R. Cioni/VISTA Magellanic Cloud survey. Acknowledgment: Cambridge Astronomical Survey Unit
A nova investigação dá-nos pistas importantes sobre como é que a gravidade se comporta nas regiões de formação estelar da Nebulosa da Tarântula, no entanto o trabalho está longe de chegar ao fim.
Há ainda muito trabalho a fazer com este conjunto de dados e é por isso mesmo que estamos a divulgá-lo publicamente de modo a que outros investigadores possam levar a cabo os seus próprio estudos.
Tony Wong
Informações adicionais
Este trabalho de investigação está a ser apresentado no 240º Encontro da American Astronomical Society (AAS) na conferência de imprensa intitulada “Stars, Their Environments & Their Planets” (Quarta-feira, 15 de Junho de 2022, 18:15 hora de Portugal Continental). Os jornalistas podem ver a live stream da conferência de imprensa, divulgada publicamente no canal do YouTube do Gabinete de imprensa da AAS: https://www.youtube.com/c/AASPressOffice.
Este vídeo começa com uma visão da região de formação estelar 30 Doradus, também conhecida como Nebulosa da Tarântula, em comprimentos de onda ópticos, obtida com o telescópio de 2,2 metros do ESO no Observatório de La Silla. Localizada na constelação do sul de Dorado (O Dolphinfish) na vizinha Grande Nuvem de Magalhães, a Nebulosa da Tarântula é conhecida por suas nuvens únicas semelhantes a teias. Durante o vídeo, a imagem muda para uma visão infravermelha da Nebulosa da Tarântula. Os dados infravermelhos são fornecidos pelo Very Large Telescope (VLT) do ESO e pelo Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy (VISTA) e revelam nuvens rosadas de gás quente. Os dados de rádio obtidos pelo Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) são então sobrepostos, representados por listras vermelho-amarelo brilhantes. Essas listras destacam os locais de nuvens de gás densas e frias que têm o potencial de entrar em colapso e formar novas estrelas. Os dados de rádio são apresentados por conta própria, exibindo em detalhes algumas das estruturas de aranha que originalmente deram origem ao apelido de Nebulosa da Tarântula. Créditos: ESO/M. Kornmesser, ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/Wong et al., ESO/M.-R. Pesquisa Cioni/VISTA Nuvem de Magalhães. Reconhecimento: Cambridge Astronomical Survey Unit
Este vídeo com zoom começa com uma visão ampla da Via Láctea e termina com uma visão aproximada de uma rica região de formação estelar na vizinha Grande Nuvem de Magalhães, na constelação austral de Dorado (The Dolphinfish). A região específica mostrada, 30 Doradus, também é conhecida como Nebulosa da Tarântula. A visão final dessas nuvens foi capturada pelo Very Large Telescope do ESO e pelo Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy (VISTA) e sobreposta com novos dados de rádio obtidos pelo Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA). Os dados do ALMA revelam estrias amarelo-avermelhadas brilhantes de gás frio e denso que têm o potencial de colapsar e formar novas estrelas. Créditos: ESO/Digitized Sky Survey 2/N. Risinger (skysurvey.org)/R. Gendler (http://www.robgendlerastropics.com/), ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/Wong et al., ESO/M.-R. Pesquisa Cioni/VISTA Nuvem de Magalhães. Agradecimento: Cambridge Astronomical Survey Unit. Música: John Dyson
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