Gliese 710: GAIA divulga os encontros próximo do Sistema Solar com outras estrelas

http://www.esa.int/var/esa/storage/images/esa_multimedia/images/2013/12/gaia_mapping_the_stars_of_the_milky_way/13461326-3-eng-GB/Gaia_mapping_the_stars_of_the_Milky_Way.jpg

Impressão artística do Observatório Espacial GAIA mapeando as estrelas da Via Láctea. Crédito: ESA/ATG medialab; fundo – ESO/S. Brunier

Os movimentos de mais de 300.000 estrelas analisadas pelo satélite GAIA da ESA revelam que encontros próximos raros entre estrelas da Via Láctea com o nosso Sol podem perturbar a nuvem de cometas nos confins do nosso Sistema Solar, enviando eventualmente alguns deles na direção da Terra no futuro remoto.

À medida que o Sistema Solar se move através da Via Láctea e enquanto outras estrelas se movem nas suas órbitas, os “encontros próximos” interestelares são inevitáveis, embora o conceito de “próximo” signifique muitos trilhões de quilômetros.

Uma estrela, dependendo da sua massa e velocidade, precisaria chegar até cerca de 60 trilhões de quilômetros antes de começar a ter um efeito no distante reservatório de cometas do Sistema Solar, a Nuvem de Oort, que os astrônomos julgam que se espalhe por até 15 trilhões de quilômetros do Sol, cerca de 100.000 vezes a distância entre a Terra e o Sol.

Em comparação, o planeta mais distante, Netuno, orbita a uma distância média de aproximadamente 4,5 bilhões de quilômetros, ou seja, 30 vezes a distância Terra-Sol (30 UA).

A influência gravitacional das estrelas que passam perto da Nuvem de Oort pode perturbar os percursos dos cometas que aí residem, expelindo-os para órbitas que os aproximariam eventualmente do Sistema Solar interior.

Embora os cientistas estimem que estas perturbações sejam responsáveis por alguns dos cometas que aparecem nos nossos céus entre cem a mil anos, também têm o potencial de colocar cometas na rota de colisão com a Terra ou com os outros planetas do Sistema Solar.

Compreender as movimentações passadas e futuras das estrelas é um objetivo fundamental do programa GAIA, pois recolhe dados precisos sobre posições e movimentos estelares ao longo da sua missão de cinco anos. Após 14 meses, o primeiro catálogo de mais de 1 bilhão de estrelas foi divulgado recentemente, que incluiu os cálculos das distâncias e movimentos, em todo o céu, de mais de dois milhões de estrelas.

Ao combinar os novos resultados com informações existentes, os astrônomos começaram uma investigação detalhada e em larga-escala de estrelas que passando perto do nosso Sol.

Até agora, os movimentos de mais de 300.000 estrelas, em relação ao Sol, foram traçados através da Via Láctea e a sua aproximação máxima foi determinada em até cinco milhões de anos no passado e no futuro.

Destas estrelas, descobriu-se que 97 vão passar até 150 trilhões de quilômetros, enquanto 16 podem chegar até 60 trilhões de quilômetros de proximidade.

Embora estes 16 encontros sejam considerados razoavelmente próximos, os cientistas destacam um encontro particularmente marcante com a estrela Gliese 710, daqui a 1,3 milhões de anos. Os estudiosos preveem que Gliese 710 passará a apenas cerca de 2,3 trilhões de quilômetros (aproximadamente 16.000 vezes a distância Terra-Sol), bem dentro da Nuvem de Oort de cometas.

Essa estrela já está muito bem documentada e graças aos novos dados fornecidos pelo GAIA a distância estimada do próximo encontro foi recentemente atualizada. Anteriormente, havia um grau de certeza de 90% que passaria entre 3,1 e 13,6 trilhões de quilômetros. Agora, os dados mais precisos sugerem que passará na faixa de 1,5 a 3,2 trilhões de quilômetros, sendo 2,3 trilhões de quilômetros a distância mais provável estimada pelos astrônomos.

E mais, embora Gliese 710 tenha uma massa correspondente a 60% da massa do Sol, ela viaja muito mais devagar que a maioria das estrelas: quase 50.000 km/h na maior aproximação, em comparação com a média de 100.000 km/h.

A velocidade mais lenta na passagem significará que Gliese 710 terá muito mais tempo para exercer a sua influência gravitacional sobre os corpos da Nuvem de Oort, potencialmente enviando pacotes de cometas na direção do Sistema Solar.

Apesar da sua velocidade relativamente mais lenta, enquanto ocorrer a aproximação máxima, Gliese 710 aparecerá como o objeto mais brilhante e veloz do céu noturno.

Também igualmente importante, o estudo mais recente usou as medições do GAIA para fazer uma estimativa geral da frequência de encontros estelares, levando em consideração incertezas como estrelas que podem não ter sido observadas no catálogo existente.

Considerando 5 milhões de anos tanto no passado quanto para o futuro, a frequência global de encontros está estimada em aproximadamente 550 estrelas por cada milhão de anos, chegando até 150 trilhões de quilômetros, das quais cerca de 20 alcançam uma distância de 30 trilhões de quilômetros.

Isto equivale, aproximadamente, a um potencial encontro “próximo” a cada mais ou menos 50.000 anos. É importante realçar que não é garantida a ocorrência de perturbação dos cometas na nuvem de Oort pela estrela, de modo a entrarem nas regiões do Sistema Solar Interior e, caso isso aconteça, que a Terra esteja na “linha de fogo” dos cometas perturbados.

Estas estimativas serão refinadas com as divulgações futuras de dados do GAIA. O segundo lançamento está agendado para abril de 2018, contendo a informação de aproximadamente 20 vezes o número de estrelas do primeiro catálogo e também de estrelas muito mais distantes, permitindo a reconstrução até 25 milhões de anos no passado e no futuro da nossa galáxia.

Fontes

Phys.org: Close encounters of the stellar kind

ESA: Close encounters of the stellar kind

Artigo Científico

A&A: The completeness-corrected rate of stellar encounters with the Sun from the first Gaia data release

._._.

aa31453-17 – The completeness-corrected rate of stellar encounters with the Sun from the first Gaia data release

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