
Impressão artística do encontro da sonda New Horizons com um objeto do Cinturão de Kuiper. Créditos: NASA/JHUAPL/SwRI/Steve Gribben
Na passagem do Ano Novo de 2019, a mais de 6,4 bilhões de quilômetros de casa, a sonda New Horizons da NASA passará por um pequeno objeto da Cinturão de Kuiper conhecido como 2014 MU69, transformando esse remanescente rochoso da formação planetária o objeto mais distante já visitado por qualquer espaçonave.
No entanto, ao longo das próximas seis semanas, a equipe da missão New Horizons vai obter uma espécie de antevisão do encontro com MU69 e uma rara oportunidade para reunir algumas informações críticas para o planeamento do “flyby”, com um fortuito olhar na direção do seu alvo a partir da Terra.
No dia 3 de junho e seguidamente nos dias 10 e 17 de julho de 2017, o objeto 2014 MU69 vai ocultar (bloquear a luz ou eclipsar) três estrelas diferentes, uma em cada data. Para observar a “ocultação estelar” de dia 3 de junho de 2017, mais de 50 membros e colaboradores da equipe vão se instalar ao longo de caminhos de visualização projetada na Argentina e na África do Sul. Os cientistas vão acoplar câmeras a telescópios portáteis durante a ocultação estelar e observar mudanças na sua luz que lhes poderão dizer muito sobre o próprio 20114 MU69.
Alan Stern, líder da missão New Horizons, membro do SwRI (Southwest Research Institute) em Boulder, Colorado, EUA, explicou:
Nosso objetivo principal é determinar se existem perigos perto de MU69, tais como anéis, poeira ou até satélites, os quais podem afetar o planejamento do voo. Mas também esperamos aprender mais sobre a sua órbita e possivelmente determinar o seu tamanho e forma. Tudo isto vai ajudar a alimentar o nosso esforço de planejamento do “flyby”.
O que os cientistas vão olhar?
Em termos mais simples, uma ocultação astronômica é quando algo se move em frente de outro objeto mais distante, ocultando-o.
Joel Parker, coinvestigador da New Horizons e do SwRI esclareceu:
Quando a Lua passa em frente do Sol e temos um eclipse solar, esse é um tipo de ocultação. Se estamos no percurso de um eclipse, isso significa que estamos no caminho que a sombra faz quando projetada na Terra, produzida pela Lua quando passa entre nós e o Sol. Se estivermos no local ideal e na hora ideal, um eclipse solar pode perdurar por até vários minutos.
Infelizmente, a equipe não terá este luxo com as ocultações de MU69. Marc Buie, investigador da New Horizons no SwRI, que lidera as observações das ocultações, diz que 2014 MU69 é tão pequeno (estima-se que tenha aproximadamente 40 km de diâmetro) que as ocultações só devem durar cerca de dois segundos. Mas os cientistas podem aprender muito só com isso e as observações com vários telescópios que observam partes diferentes da sombra podem revelar informações sobre a forma de um objeto bem como o seu brilho.

Os membros do time da New Horizons preparam um dos novos telescópios de 16 polegadas que serão usados nas observações das ocultações na Argentina e na África do Sul. Crédito: Kerri Beisser
Um desafio espacial
A time da missão tem 22 novos telescópios portáteis de 16 polegadas (40 centímetros) prontos, juntamente com outros três portáteis e mais de duas dúzias de telescópios fixos localizados ao longo do percurso da ocultação na Argentina e na África do Sul. No entanto, decidir exatamente onde colocá-los foi verdadeiro desafio. Este objeto do Cinturão de Kuiper, em particular foi descoberto há apenas 3 anos e consequentemente a sua órbita é ainda, em grande parte, desconhecida. Sem uma localização precisa da posição do objeto ou do caminho exato que a sua estreita sombra poderá atingir a Terra, a equipe está espaçando as equipes dos telescópios ao longo de “linhas de vedação”, uma a cada 10 ou 25 quilômetros, para aumentar a probabilidade de que pelo menos um ou mais dos telescópios portáteis aviste o centro do evento e ajude a determinar o tamanho efetivo de 2014 MU69.
Os outros telescópios fornecerão estudos múltiplos dos detritos que poderão constituir um perigo para a nave espacial New Horizons quando passar por 2014 MU69 a cerca de 56.000 quilômetros por hora no dia 1 de janeiro de 2019.
Cathy Olkin, cientista do projeto New Horizons, também do SwRI, destacou:
A observação, em dois continentes diferentes, também maximiza as nossas chances de ter bom tempo. Prevê-se que a sombra atravesse ambos os locais e nós queremos observadores nos dois, porque não iríamos querer que uma grande tempestade chegasse e nos impedisse de observar. Esse evento é demasiadamente importante e efêmero para perdermos.
A equipe vai receber um reforço aéreo durante a ocultação de 10 de julho de 2017, acrescentado pelo uso do poderoso telescópio de 100 polegadas (2,5 metros) do SOFIA (Stratospheric Observatory for Infrared Astronomy) da NASA. Graças ao recrutamento do SOFIA, com o seu ponto vantajoso acima das nuvens, o mau tempo sairá fora dos planos. O avião também deverá ser capaz de melhorar as suas medições manobrando-se ao longo do próprio centro da sombra da ocultação. Isto continua uma história de coordenação entre o SOFIA e as missões New Horizons. Os investigadores usaram o SOFIA para fazer observações similares de Plutão enquanto este passava em frente de uma estrela de fundo, mesmo antes da New Horizons voar perto de Plutão em 2015.
Informações para o planejamento do encontro
Qualquer informação sobre 2014 MU69, recolhido nos céus ou no chão, será bem-vinda. Carly Howett, vice investigadora principal do instrumento Ralph da New Horizons, também do SwRI, acrescenta que sabemos tão pouco sobre 2014 MU69 que a equipe está a planejar observações de um alvo que não compreende totalmente – e o tempo para aprender mais sobre o objeto é curto.
Só pudemos começar a planejar o encontro com 2014 MU69 depois do voo por Plutão em 2015. Isso nos dá dois anos, em vez dos quase sete que tivemos para planejar o encontro com Plutão. Portanto, é um “flyby” muito diferente e, em muitos aspetos, bem mais complexo de se planejar.
Caso o tempo coopere e a previsão da ocultação esteja correta, as observações podem fornecer a primeira medição precisa do tamanho e da capacidade de reflexão do 2014 MU69. Estes valores serão fundamentais para o planejamento do próprio “flyby”, com o tamanho do objeto e a refletividade da sua superfície, por exemplo, a equipe pode definir tempos de exposição nas câmeras e espectrômetros da nave espacial.

Primeiras impressões: caminho projetado da sombra da ocultação do objeto do Cinturão de Kuiper 2014 MU69, a qual cruzará a América do Sul e a ponta do extremo sul da África em 3 de junho de 2017. Créditos: Lowell Observatory / Larry Wasserman
Alan Stern complementou:
Os voos rasantes são implacáveis. Não há segundas chances. As ocultações são uma oportunidade única para aprender mais sobre 2014 MU69 antes do nosso encontro e vão ajudar-nos a planejar um “flyby” singular por uma relíquia cientificamente importante da era da formação do Sistema Solar.
Fontes
Phys.org: New Horizons deploys global team for rare look at next flyby target
NASA: New Horizons Deploys Global Team for Rare Look at Next Flyby Target
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