Vento meridional de Vênus foi detectado pela primeira vez em ambos os hemisférios

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Aquisição sequencial de espectros do lado diurno de Vênus a partir do Telescópio Canada-France-Hawaii em 19 de abril de 2014. Créditos: Pedro Machado et al.

A primeira evidência científica de que existe em Vênus circulação de vento entre o equador e os polos (vento meridional) foi reunida por uma equipe internacional liderada por Pedro Machado, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) [1] e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Este resultado foi publicado em artigo [2] na Icarus, uma publicação científica de referência na área de estudo do Sistema Solar.

Através do estudo da radiação solar refletida no topo das nuvens de Vênus, Pedro Machado e a sua equipe identificaram, em ambos os hemisférios, uma componente de vento perpendicular ao equador, concordante com a circulação atmosférica característica de uma célula de Hadley [3] e com uma velocidade média de 81 km/h.

Segundo Pedro Machado (IA e FCUL) afirmou:

Esta detecção é crucial para entender o transporte de energia entre a zona equatorial e as altas latitudes, trazendo luz a um fenômeno que há décadas permanece não explicado e que é a super rotação [4] da atmosfera de Vênus.

Atualmente a comunidade científica procura um modelo físico capaz de explicar este fenômeno de super rotação. Neste artigo, a equipe contribui para este modelo através de um estudo da variação do vento paralelo ao equador, ou vento zonal, ao longo do tempo e ao longo das várias latitudes, assim como com os primeiros dados sobre a existência de um vento meridional. Um dos próximos passos será identificar o ramo do vento meridional a menor altitude em que o ar regressa ao equador.

Machado e a sua equipe são também autores do único método, hoje existente, que utiliza a radiação visível para a medição, a partir de telescópios na Terra, da velocidade instantânea do vento na atmosfera de outro planeta. Baseia-se no efeito de Doppler [5] que as nuvens, pelo seu deslocamento, aplicam à luz do Sol que refletem.

Pedro Machado comentou:

Vários grupos de investigação tentaram medir o vento meridional em Vênus. As tentativas feitas até agora baseadas em observações a partir do solo foram infrutíferas, enquanto que as que utilizaram dados da sonda espacial Venus Express estavam limitadas ao hemisfério sul e revelando resultados pouco conclusivos.

Os dados deste foram obtidos com observações simultâneas e coordenadas da atmosfera de Vênus realizadas com a sonda Venus Express, da Agência Espacial Europeia (ESA), juntamente com o Telescópio Canada-France-Hawaii (CFHT) utilizando o espectrógrafo de alta resolução ESPaDOnS.

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A cúpula do Telescópio Canada-France-Hawaii. Créditos: CFHT e Jean-Charles Cuillandre

Notas 

[1] O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (Institute of Astrophysics and Space Sciences – IA) é a maior unidade de pesquisa portuguesa em ciências espaciais e integra pesquisadores da Universidade de Lisboa e da Universidade do Porto. O instituto recebeu a avaliação com “excelente” no último assessment da ESF (European Science Foundation). A atividade do IA é patrocinada por fundos nacionais e internacionais, incluindo a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (UID/FIS/04434/2013), POPH/FSE e FEDER através de COMPETE 2020.

[2] O artigo “Venus cloud-tracked and doppler velocimetry winds from CFHT/ESPaDOnS and Venus Express/VIRTIS in April 2014”, assinado por Pedro Machado, Thomas Widemann, Javier Peralta, Ruben Gonçalves, Jean-François Donati, e David Luz, foi publicado na revista científica Icarus, Volume 285 (DOI: 10.1016/j.icarus.2016.12.017).

[3] Uma célula de Hadley, pela primeira vez identificada na atmosfera da Terra por George Hadley no século XVIII, é uma circulação atmosférica caracterizada pela ascensão de ar quente na região do equador e fluindo na direção dos polos rumo a latitudes médias, onde desce de novo para mais perto da superfície e regressa ao equador.

[4] A super rotação da atmosfera de Vênus consiste no fato dos ventos paralelos ao equador, ou ventos zonais, serem responsáveis pela atmosfera venusiana completar uma volta ao planeta em apenas pouco mais de quatro dias terrestres, ou seja, 60 vezes mais rápido do que o período de rotação do globo sólido, que é de 243 dias terrestres.

[5] O efeito Doppler, no caso da radiação eletromagnética, é o aumento ou redução do comprimento de onda característico da radiação emitida ou refletida por um objeto e recebida por um observador devidos ao movimento desse objeto em relação ao observador. A partir deste efeito é possível deduzir a velocidade do objeto.

Fonte

IA: Vento meridional de Vênus foi detectado pela primeira vez em ambos os hemisférios

Artigo Científico

Icarus: Venus cloud-tracked and doppler velocimetry winds from CFHT/ESPaDOnS and Venus Express/VIRTIS in April 2014

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