16 de junho de 2000
Não Há Dia Sem História
MirCorp, a pioneira no negócio de viagens espaciais
Na madrugada do dia 16 de junho de 2000, há 16 anos, a cápsula da nave Soyus TM 30, com dois tripulantes a bordo, riscou incandescente o céu do norte do Cazaquistão dissipando energia por atrito em fagulhas coloridas até abrir seu para quedas de faixas alaranjadas e tocar o chão da estepe a 46 quilômetros da cidade de Arkalik.
Em poucos minutos os helicópteros chegaram ao local do aterramento com seus holofotes apontando para a cápsula chamuscada. As equipes de resgate saltaram e os coturnos pisotearam a relva fumegante. A escotilha da cápsula foi aberta e os astronautas Kaleri e Zalyotin foram retirados e levados para a readaptação. Eles haviam sido lançados 73 dias antes, de Baikonur, para cumprir a missão Mir EO-28, de reparos na estação espacial Mir, além de treinamento de longa permanência no espaço. E havia ainda outro detalhe. Eles estiveram a serviço de uma empresa privada, a MirCorp.
A estação espacial Mir nascera soviética em 1986, mas naquele momento, em junho de 2000, ela carecia, se não de um dono, pelo menos de alguém disposto a mantê-la voando. Isto já era quase impossível. Kaleri e Zalyotin haviam reparado um problema de perda de pressão – um furo no casco! – um sintoma da exaustão da Mir. Também já não havia mais recursos para financiar missões tripuladas – a Mir era um dos últimos monumentos da extinta União Soviética e ninguém mais tinha vontade política de sustentar tais monumentos. e tinha mais. Nos EUA, na Europa e no Japão, crescia o projeto de uma grande estação orbital internacional – e isso conspirava contra a manutenção da boa e velha estação russa. Na verdade, todos ja estavam sonhando com a ISS. O Cazaquistão até ajudava no que era possível. Mas como simples arrendatário da base de lançamentos de Baikonur, suas obrigações não iam além de dar livre acesso ao inquilino russo. Mas o Cazaquistão sempre poderia pedir explicações sobre outros eventuais hóspedes, o que poderia causar problemas. E se a base fosse levada para a Guiana Francesa ou para Cabo Canaveral? Nada feito. Os russos haviam alugado Baikonur (a locação vai até 2050) e não precisavam usar as bases dos outros. Em suma, a Mir se tornara um inconveniente.
Nesse contexto, um grupo de astronautas e administradores ligados ao programa espacial soviético-russo criou uma empresa, a MirCorp, que objetivava explorar comercialmente a estação espacial e a estrutura logística composta pelas naves Soyus e Progress. Foi a MirCorp que coordenou a missão EO-28 – Kaleri e Zalyotin estiveram no espaço trabalhando para ela. A MirCorp lutou bravamente até onde foi possível e fundou a tradição russa de conduzir turistas ao espaço. Teve um grande colaborador no norte-americano Dennis Tito. Mas não conseguiu manter a Mir em órbita. Em agosto de 2000 a administração espacial russa acusou-a de não cumprir o acordo assinado. A Mir foi, então, condenada a ser incinerada, o que ocorreu em março de 2001. A Mir Corp existiu legalmente até 2003, mas o idealismo que deu origem a ela continua vivo e as pessoas que a operaram continuam trabalhando.
Milton W.
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