Não Há Dia Sem História
24 de março de 1979
“Columbia Space Shuttle”
No dia 24 de março de 1979, há 37 anos, o ônibus espacial Colúmbia chegou ao Centro Espacial Kennedy…
Garotos gostam de enfeitar o quarto com cartazes, flâmulas e adesivos de seus ícones culturais ou de qualquer símbolo que represente sua atitude. Uma banda, um time, um provedor de internet, um herói, uma ideologia, um refrigerante.
No início dos anos 70, os garotos da América, latina inclusive, conseguiam os endereços dos escritórios de publicidade e relações públicas das grandes corporações e mandavam, pelo correio, pedidos de adesivos, flâmulas, qualquer “souvenir” que pudesse enriquecer a coleção ou enfeitar a parede.
Já naquele tempo as grandes marcas investiam em popularidade e o “mailing” postal atuava num contexto em que praticamente não existiam meios de comunicação eletrônicos. Uma logomarca qualquer se espraiava por espaços geopolíticos, e por mercados, aparecendo grudada na capa de um caderno escolar, na janela de uma casa, no vidro de um automóvel.
Eram, em geral, as marcas de sempre, aquelas que representam o universo ocidental de consumo – ou de contestação do modelo. Patrocinadores de equipes de Fórmula 1, a língua exposta dos Rolling Stones, STP, o dedo em V, a estrela de Davi, Marlboro, Honda, Zeiss, Aerolíneas Argentinas, BBC, Positivo, Rolex.
Quando solicitada, a NASA enviava, num envelope cuidadosamente fechado e endereçado à mão, um “folder” contendo diagramas, ilustrações, explicações e cortes de projeto de uma nova e revolucionária nave espacial: o “Space Shuttle”.
O projeto clássico de sistema transportador espacial é composto de um foguete, na ponta do qual é encaixado o veículo orbital, nave, satélite ou sonda. À medida que sobe, a composição alija o foguete que lhe deu impulso. Então, no espaço, o veículo orbital realiza a missão. Para o retorno, a nave pode dispor de um revestimento que suporte a temperatura da reentrada, caso tenha tripulantes, ou ser simplesmente largada na órbita ou incinerada na atmosfera, caso não tenha tripulantes. Este método funcionou com as naves Apollo e funciona com as naves Soyus e Progress.
Mas o “Space Shuttle” tinha uma proposta diferente. A proposta de uma nave, como um avião, com um tanque de combustível líquido preso ao seu dorso, fornecendo combustível para os seus motores. Além disso, mais dois mísseis laterais, de combustível sólido, completando a energia necessária para a decolagem. O tanque de combustível era alijado no final do lançamento, assim como os mísseis laterais. E o que restava, em órbita, era um verdadeiro avião, em seu formato, embora sem maior mobilidade ou manobrabilidade do que uma nave “comum”.
Não era uma idéia que contemplasse a praticidade ou a economia. Era uma idéia que visava atender objetivos mais amplos, entre eles a humanização do voo espacial. Até então, os astronautas eram enlatados em cápsulas herméticas na decolagem e precisavam ser pescados no mar, no regresso, ou buscados nos confins da planície siberiana. No “shuttle” o formato de avião era familiar e a poltrona representava um elemento humanizador. Com suas janelas, seu manche e sua cabine de comando, o “shuttle” colocava o homem numa posição que ele ainda não havia experimentado, ao longo da odisséia da astronáutica. E descer do céu planando era uma ambição humana.
Não existem muitos argumentos a favor da praticidade de uma nave reutilizável, quando se trata de espaçonáutica. Mas não podem ser só os aspectos práticos e econômicos a serem levados em conta, quando se trata de adequar alguma coisa aos anseios populares, os gostos culturais. Se a astronáutica é uma aventura humana, e é, ela deve também satisfazer ideais estéticos e subjetivos. As naves espaciais clássicas, cápsulas sem janelas, haviam roubado a dignidade do homem. Esta dignidade o “shuttle” resgatava, colocando o homem no comando (pelo menos segundo a imagem clássica de comando). A nave reutilizável sugeria um veículo à disposição do homem. O pouso em voo planado, numa pista como qualquer outra, sugeria disponibilidade e liberdade de escolha de local de pouso.
O “shuttle” era um avanço muito mais em termos psicológicos do que propriamente tecnológicos. Ele abriria seu “bagageiro”, no espaço, e entregaria a carga no destino determinado. Algo bem próximo do entendimento popular e, por isso mesmo, necessário à divulgação e disseminação de uma cultura aeroespacial – de uma intimidade com a astronáutica. Poucos autores admitem o caráter de entretenimento e até de diversão que a astronáutica tem. E poucos são os que entendem como um tremendo avanço humano, poder descer do espaço num confortável voo planado. O “shuttle” era um espetáculo.
O ônibus espacial Colúmbia, designado OV 102, foi construído nas instalações da NASA em Palmdale, Califórnia. A coordenação foi do Laboratório de Propulsão a Jato de Pasadena e do Instituto Tecnológico da Califórnia. As asas foram construídas pela Northrop Grumman Corp., a tradicional Grumman. O contrato foi adjudicado em 26 de julho de 1972, mas a construção só começou efetivamente em 36 de março de 1975.
O Colúmbia recebeu este nome em homenagem a um navio de bandeira estadunidense que, capitaneado por Robert Gray, realizou uma circunavegação em 1792. Todos os “Space Shuttles” receberam nomes de navios estadunidenses célebres. O Colúmbia foi inspecionado e considerado pronto no dia 8 de março de 1979.
Carregado até a Base Aérea de Edwards, onde foi montado no dorso de um Boeing 747, decolou no dia 20 de março e tomou rumo leste. Realizou um “tour” até a Flórida, sendo exibido em três escalas em bases aéreas ao longo da rota, até chegar ao Centro Espacial Kennedy, em 24 de março de 1979. O ônibus espacial Colúmbia estava pronto para voar, a poucos metros da plataforma de lançamento.
Uma das maiores aventuras humanas ia começar.
Milton W.
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