23 de março de 1960 – O ‘clic’ do gatilho nuclear

Não Há Dia Sem História

23 de março de 1960

O ‘clic’ do gatilho nuclear

O dia 23 de março de 1960, há exatos 56 anos, realizou-se o lançamento de um míssil balístico de alcance intermediário, o Júpiter. Na mesma data, do outro lado do mundo, os Soviéticos lançaram também o míssil Burya.

Vejamos então os detalhes históricos por trás destes eventos.

Não estará mentindo quem disser que as conquistas espaciais do século XX foram o subproduto útil de uma corrida armamentista insana e inútil. Norte-americanos e soviéticos entregaram-se de forma tão obstinada e frenética ao desenvolvimento de mísseis balísticos e “cruisers”, de oxidantes e combustíveis líquidos e sólidos, de sistemas de navegação e de plataformas de lançamento, que não chega a surpreender o fato de o homem ter posto o pé na Lua.

http://www.astronautix.com/lvs/jupiter.htm

Míssil balístico Júpiter – Crédito: © Mark Wade

Embora o número exato de lançamentos feitos durante a Guerra Fria seja quase impossível de determinar, seguramente foram dezenas de milhares, contando só os que atingiram apogeus da estratosfera para cima. Com as justificativas mais inocentes possíveis – pesquisa da ionosfera, estudo meteorológico, observação da flora – cerca de trinta bases fixas de lançamentos, ao redor do globo mas principalmente no hemisfério Norte, trabalhavam diuturnamente.

O dia 23 de março de 1960, há exatos 56 anos, é emblemático deste estado de acirrada disputa em torno da liderança bélica. Em Cabo Canaveral, fazia-se o lançamento de um míssil balístico de alcance intermediário, o Júpiter. Com 18,3 metros de altura e 2,67 de diâmetro ele usava, como combustível, querosene e, como oxidante, oxigênio líquido. Um Júpiter chegava a 610 km de altitude no apogeu, o que lhe dava um alcance de quase 3 mil km. Havia sido um míssil Júpiter que, dois anos antes, levara ao espaço o primeiro satélite norte-americano, o Explorer I. Às vezes, era preciso interromper a atividade bélica para cumprir o “script” da atividade espacial – e para tentar diminuir um pouco a dianteira soviética.

Embora fosse um veículo de tremenda capacidade, o Júpiter não era um míssil adequado. As solicitações militares exigiam um foguete mais prático e seguro, que usasse combustível sólido. Os Júpiteres foram distribuídos em bases na Itália e na Turquia, apontados para Moscou, naturalmente. Quando os soviéticos ameaçaram levar os seus mísseis R-7 para equipar a base de lançamentos oferecida por Fidel Castro, em Cuba, os Júpiteres instalados na Itália e Turquia tiveram que ser recolhidos, por conta de um acordo “secreto”.

http://www.astronautix.com/lvs/burya.htm

Míssil Burya na plataforma de lançamento. Crédito: Lavochkin

O Júpiter lançado no dia 23 de março de 1960, de Cabo Canaveral, falhou. O terceiro estágio não disparou devido a uma falha do rádio. Mas foi lançado. No mesmo dia, os soviéticos também fizeram uma experiência com míssil. Também ocorreu uma falha. Mas apesar da falha, o míssil também voou.

A base de lançamentos de Kapustin Yar, em Vladimirovka, a oeste de Volgogrado, foi montada já no ano de 1946. De grande atividade, foi usada até mesmo para cinco detonações atômicas de pequena potência, além de lançamentos de mísseis. No dia 23 de março de 1960, um míssil de cruzeiro Burya foi lançado de lá com o plano de voar por 6.500 km até Ozerny, na Sibéria. O Burya tinha um apogeu de 25 mil metros e uma massa de decolagem de quase cem toneladas. Os impressionantes detalhes da velocidade, do alcance e do poder de um Burya, podem ser vistos nesta súmula do teste:

1960, março, 23 – Launch Site: Kapustin Yar. Launch Complex: VLAD. Launch Pad: -. Launch Vehicle: Burya. LV Configuration: Burya 10-03.

  • Burya flight 15 Nação: USSR. Agência: SSSR. Apogeu: 25 km (15 milhas). Planejado para voar a trajetória completa desde Vladimirovka até o Cabo Ozerniy. O peso de lançamento do booster stage foi 97,215 kg, e do cruise stage 34,680 kg. O segundo estágio entrou em ignição na velocidade Mach 2,85. Os motores do booster stage foram cortados na velocidade Mach 3,2. A separação dos estágios ocorreu normalmente em T+101,3 segundos. O sistema de astronavegação do cruise stage adquiriu suas estrelas-guia em T+114 segundos. O cruise stage iniciou o vôo de nivelamento na altitude de 18 km. O veículo voou ao longo de sua rota designada de 6.500 km por 2 horas e 4 minutos na altitude de 18-24,5 km na velocidade Mach 3,2-3,15. Em T+118 minutes, com o combustível completamente exaurido, o ramjet entrou em chamas. Em T+121 minutos a energia foi transferida para as baterias de emergência e foi expedido um comando de destruição que não funcionou. O voo continuou em queda até T+124 minutos.

É de se notar que, enquanto se realizavam tantos testes com fins bélicos eram realizados, a imprensa e a “mídia” mundial se maravilhavam com os feitos astronáuticos da corrida armamentista.

Milton W.

2 comentários

    • jose filho de Araujo em 23/05/2015 às 10:30
    • Responder

    Adorei lindo manda mais informações.

    • jose filho de Araujo em 23/05/2015 às 10:29
    • Responder

    Adorei essa matéria linda. Manda para meu e-mail. Mais assuntos sobre a data de 23 março 1967 ano… obrigada por tudo.

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