18 de março de 1965 – O passeio soviético no espaço, os mísseis intercontinentais e a explosão do Vostok 2M

Não Há Dia Sem História

18 de março de 1965, 1967 e 1980

Três eventos: o passeio soviético no espaço, os mísseis intercontinentais e a explosão do Vostok 2M

Ilustração do EVA de Aleksei Leonov

Ilustração do EVA de Aleksei Leonov

No dia 18 de março de 1965, há 51 anos, o cosmonauta soviético Aleksei Leonov saiu da nave Voskhod 2 para a primeira caminhada espacial da história. Ele fez a demonstração, preso a um cabo “umbilical” de cinco metros, para provar ao mundo – e talvez a si próprio – que isso era possível. Hoje, exatamente 45 anos depois, as caminhadas espaciais são denominadas “atividades extra veiculares”. São apenas tarefas de rotina e destinam-se a realização de trabalhos necessários. São tão comuns, que receberam até um código de jargão que as define: EVA, sigla em inglês para Extra Vehicular Activity.

Tributo a Aleksei Leonov

Tributo a Aleksei Leonov

Leonov ficou fora da nave por 12 minutos. Ao tentar passar pela escotilha e voltar para dentro, apareceu um imprevisto. O traje havia “estufado” devido ao vácuo exterior. Pode parecer coisa de desenho animado, mas o fato é que Leonov não conseguia passar na escotilha. A trezentos quilômetros de altitude, as coisas não são tão fáceis como no desenho do Woody Woodpecker, o Pica-Pau. Ele precisou retirar pressão de dentro do traje, o que representou uma operação altamente arriscada. Por pouco a primeira caminhada espacial não terminou num lastimável desastre. Há que diga que a despressurização não é instantaneamente letal, mas não sabemos ainda de um voluntário tenha feito o teste.

A Voskhod 2 retornou ao solo em segurança. Pavel Belyayev e Aleksei Leonov realizaram um dos tantos e bonitos espetáculos da sensacional corrida espacial e o magnífico século XX produziu mais uma imagem da evolução do homem. Mas nem tudo, naqueles tempos de guerra “implícita”, era belo. Havia uma ameaça espalhada pelo planeta. Tanto no Kremlin quanto no Pentágono, a lei era manter em alta o terror ao adversário. O perigo vermelho de um lado, a decadência capitalista de outro; talvez ambos fossem reais, ou talvez nenhum.

Lançamento do Javelin

Num lugarejo isolado e distante, na margem oeste da gelada baía de Hudson, no Canadá, havia uma base de lançamento de foguetes. Chamava-se Fort Churchil. No mesmo dia 18 de março, mas no ano de 1967, há 49 anos, apenas dois anos depois da caminhada espacial de Leonov, foi disparado de Fort Churchil um foguete tipo Javelin, da NASA, que atingiu um apogeu de 794 quilômetros. Não era o primeiro e, alegadamente, não havia nada de militar no disparo daquele Javelin – e nem em nenhum dos 3.200 mísseis que foram lançados de Fort Churchil naqueles anos. Fort Churchil não parava de lançar foguetes. Os lançamentos eram diários. Eram todos alegadamente pacíficos.

Para entender os motivos de tão intensa atividade de lançamento de foguetes, ou mísseis, “experimentais e científicos”, a partir de uma base tão ao Norte, precisamos ir um pouco adiante. Atravessando o Pólo Norte, a calota de gelo do Ártico se desfaz em icebergs no Mar de Barents e, a partir daí, o litoral norte da então União Soviética se alastra, aberto, de leste a oeste. Portanto, a partir de lançamentos feitos em Fort Churchil, os norte-americanos mantinham os soviéticos sob mira e sob intimidação. O Canadá não se opunha às experiências. O Canadá sempre foi membro da Comunidade Britânica e, como tal, decretava: alí era “mare nostrum” da OTAN.

Nada ficava sem resposta, naquele jogo maluco de gato e rato. E nada era sem motivos. Bem no meio do litoral soviético, em contra face e de frente para a fronteira norte dos EUA, estava Murmansk, o porto e o fiorde de águas profundas onde a esquadra soviética preparava seus gigantescos submarinos lançadores de mísseis balísticos. Uma saraivada nuclear partindo de um lançador oculto, submerso, podia arrasar qualquer grande cidade norte-americana. Velocíssimos submarinos nucleares de ataque infestaram, patrulhando, as águas sob o gelo ártico e a entrada do Atlântico foi vigiada com redes de sonares que detectavam qualquer movimentação. Se o Canadá era da OTAN, o Mar de Barents era o “mare nostrum” da esquadra soviética. E nunca se podia saber exatamente em que ponto de Barents um submarino lançador poderia estar flutuando emboscado.

A vantagem tática soviética do Mar de Barents era suficiente para contrabalançar a arrogância pirotécnica de Fort Churchil. Mas os americanos tinham livre trânsito no Mediterrâneo. E também estavam construindo submarinos. Era preciso uma resposta.

Mais para o interior, além de Murmansk, na região de Arkangel, os soviéticos construíram secretamente uma base de lançamentos de mísseis: Plesetsk. Eles já tinham Baikonur, no interior do continente. Na verdade, Baikonur é em Tyuratan, mais para o interior. O nome de Baikonur foi dado para despistar. Baikonur fica 400 quilômetros ao norte de Tyuratan, onde está a base de lançamentos do Cazaquistão.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cosm%C3%B3dromo_de_Plesetsk

Foguete Cyclone-3 lançando o satélite meteorológico Meteor-3 (Plesetsk, 15 de agosto de 1991)

Plesetsk foi construído a toque de caixa, a partir de 1957. Sua localização exata é 68,2°de latitude Norte e 40,1° de longitude Leste. Ali os soviéticos fizeram seus lançamentos secretos. Foram muitos. Inclusive de satélites. De um lado Fort Churchil e do outro Plesetsk. A mesma arrogância pirotécnica dos dois lados. A paz estava devida e ostensivamente armada. Para a tecnologia de foguetes, foi a maravilha das maravilhas. Mas, para a detecção de satélites, também.

Os soviéticos tinham a razoável certeza de que, estando na frente dos americanos na tecnologia espacial e mantendo Plesetsk em segredo, seus satélites lançados dali jamais seriam descobertos. Ou pelo menos demoraria um pouco. Estavam enganados. Um professor de física da Escola de Gramática Kettering, em Northamptonshire, Inglaterra, explicou a um grupo de alunos como sintonizar um satélite com um simples rádio de ondas curtas e ensinou o efeito Doppler. Com isso eles passaram a determinar com exatidão a trajetória de satélites. Como o ponto de lançamento é um elemento da rota seguida por um satélite, ao perseguirem as ondas de um deles, o Cosmos 112, a “turma de Kettering” descobriu que ele não tinha sido lançado de Baikonur. Foi humilhante, para os soviéticos. A notícia saiu no The New York Times, na véspera do Natal de 1966.

Explosão do foguete Vostok 2M

A Guerra Fria foi, literalmente, esfriando ao longo dos anos setenta. Plesetsk foi tendo cada vez menos lançamentos. Sua base rival, Fort Churchil, foi desativada em 1980. E foi no dia 18 de março de 1980, há 36 anos, que, em Plesetsk, um número entre 48 ou 50 pessoas morreram, quando um foguete Vostok 2M explodiu, durante o preparo para o lançamento.

http://en.wikipedia.org/wiki/Vostok-2M

Vostok 2M

Milton W.

1 comentário

1 menção

    • Emmanuele Marques em 31/05/2016 às 21:31
    • Responder

    Excelente postagem! Parabéns pelo site de divulgação científica.

  1. […] [1] O primeiro homem a realizar uma atividade extra veicular foi o cosmonauta soviético Aleksei Leonov, no dia 18 de março de 1965, quando ele saiu da nave Voskhod 2 para a primeira caminhada espacial da… […]

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