ESO: o telescópio VISTA descobre um novo componente da Via Láctea

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Com o auxílio do telescópio de rastreamento VISTA, instalado no Observatório do Paranal do ESO, os astrônomos descobriram um componente anteriormente desconhecido na Via Láctea. Ao mapear a localização de uma classe de estrelas que variam em brilho Cefeidas, foi descoberto um disco de estrelas jovens enterradas por trás de espessas nuvens de poeira no bojo central galáctico. Este diagrama mostra a localização dessas Cefeidas recentemente descobertas em uma impressão artística da Via Láctea. Créditos: ESO/Microsoft Worldwide Telescope

Com o auxílio do telescópio VISTA instalado no Observatório do Paranal do ESO, astrônomos descobriram um componente anteriormente desconhecido da Via Láctea. Ao mapear a localização de uma classe de estrelas que variam em brilho chamadas Cefeidas, foi descoberto um disco de estrelas jovens enterradas por trás de espessas nuvens de poeira no bojo central.

O rastreamento público do ESO VISTA Variables in the Vía Láctea (VVV) [1] usa o telescópio VISTA instalado no Observatório do Paranal para obter imagens múltiplas em épocas diferentes das regiões centrais da nossa Galáxia nos comprimentos de onda do infravermelho [2]. O rastreamento está descobrindo uma enorme quantidade de novos objetos, incluindo estrelas variáveis, aglomerados e estrelas em explosão (leia mais em eso1101Olhos infravermelhos do VISTA revelam 96 novos aglomerados estelares escondidos pelo disco da Via Láctea e eso1141).

Uma equipe de astrônomos, liderada por Istvan Dékány da Pontificia Universidad Católica de Chile, utilizou dados deste rastreamento, coletados entre 2010 e 2014, para fazer uma descoberta notável — um componente anteriormente desconhecido da Via Láctea, a Galáxia que nos acolhe.

Istvan Dékány, autor principal deste novo estudo, declarou:

Acredita-se que o bojo central da Via Láctea é constituído por imensas estrelas velhas. No entanto, os dados do VISTA revelaram algo novo — e muito jovem em termos astronômicos!

Ao analisar os dados do rastreamento, os astrônomos descobriram 655 candidatos a estrelas variáveis do tipo Cefeidas. Estas estrelas expandem-se e contraem-se periodicamente, levando entre alguns dias a meses a completar um ciclo e apresentando variações significativas de brilho durante o ciclo.

O tempo que uma Cefeida leva a tornar-se muito brilhante e depois a apagar-se outra vez é maior para as estrelas que são mais brilhantes e menor para as que são mais fracas. Esta relação precisa notável, descoberta em 1908 pela astrônoma americana Henrietta Swan Leavitt, faz do estudo das Cefeidas um dos meios mais eficazes de medir distâncias e mapear as posições de objetos distantes na Via Láctea e além dela.

No entanto, há um senão — as Cefeidas não são todas iguais — pertencem a duas classes diferentes, uma muito mais jovem que a outra. Da amostra de 655 objetos observados, a equipe identificou 35 estrelas pertencentes ao subgrupo das Cefeidas clássicas — estrelas brilhantes e jovens, muito diferentes das mais velhas normalmente residentes no bojo central da Via Láctea.

A equipe recolheu informação sobre o brilho e período de pulsação destes objetos e deduziu as distâncias a estas 35 Cefeidas clássicas. Os períodos de pulsação, que estão intimamente ligadas à idade, revelaram a juventude surpreendente destas Cefeidas.

O coautor do estudo Dante Minniti, membro da Universidad Andres Bello, Santiago, Chile, explicou:

As 35 Cefeidas clássicas descobertas têm menos de 100 milhões de anos de idade. As Cefeidas mais jovens podem ter apenas cerca de 25 milhões de anos, embora não possamos excluir a presença de Cefeidas ainda mais jovens e brilhantes.

As idades destas Cefeidas clássicas fornecem evidências sólidas de que tem havido um reabastecimento contínuo, não confirmado anteriormente, de estrelas recém-formadas na região central da Via Láctea nos últimos 100 milhões de anos. Esta não foi, no entanto, a única descoberta notável feita a partir desta base de dados do rastreamento.

Ao mapear as Cefeidas descobertas, a equipe traçou uma estrutura completamente nova na Via Láctea — um disco fino de estrelas jovens que se estende ao longo do bojo galáctico. Esta nova componente da nossa Galáxia tinha permanecido desconhecida e invisível em rastreamentos anteriores, uma vez que está enterrada por trás de espessas nuvens de poeira. A sua descoberta demonstra o poder único do VISTA, que foi precisamente concebido para estudar as estruturas profundas da Via Láctea através de imagens de grande angular de alta resolução nos comprimentos de onda do infravermelho.

Dékány comentou:

Este estudo é uma demonstração poderosa das capacidades inigualáveis do telescópio VISTA para investigar as regiões galácticas extremamente obscuras que não podem ser observadas por nenhuns outros rastreamentos atuais ou planejados.

Minniti acrescentou:

Esta parte da Galáxia era completamente desconhecida até o rastreamento VVV a ter encontrado!

Investigações subsequentes serão necessárias para determinar se estas Cefeidas nasceram próximo do local onde se encontram atualmente ou se tiveram origem noutro local. Compreender as suas propriedades fundamentais, interações e evolução é crucial para compreender a evolução da Via Láctea e os processos da evolução galática como um todo.

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “The VVV Survey reveals classical Cepheids tracing a young and thin stellar disk across the Galaxy’s bulge”, de I. Dékány et al., que foi publicado na revista especializada Astrophysical JournalLetters.

Notas

[1] O rastreamento VVV está observando as regiões centrais da nossa Galáxia em cinco bandas do infravermelho próximo. A área total observada pelo rastreamento é de 520 graus quadrados, contendo pelo menos 355 aglomerados abertos e 33 aglomerados globulares. O VVV é um rastreamento multi-época, podendo assim detectar um grande número de objetos variáveis e fornecendo mais de 100 observações cuidadosamente espaçadas em tempos diferentes para cada uma das regiões do céu observadas. Espera-se obter um catálogo com cerca de um bilhão de fontes pontuais, incluindo cerca de um milhão de objetos variáveis. Estes objetos serão depois utilizados para criar um mapa tridimensional do bojo da Via Láctea.

[2] As nuvens de poeira no espaço interestelar absorvem e dispersam a luz visível de forma muito eficaz, tornando-se opacas a este tipo de radiação. No entanto, para comprimentos de onda maiores, tais como os observados pelo VISTA, as nuvens são muito mais transparentes, permitindo observar regiões que se encontram depois da poeira.

Fonte

ESO: eso1542 — VISTA Discovers New Component of Milky Way

Artigo Científico

The VVV Survey reveals classical Cepheids tracing a young and thin stellar disk across the Galaxy’s bulge

._._.

eso1542a-The-VVV-Survey-reveals-classical-Cepheids-tracing-a-young-and-thin-stellar-disk-across-the-Galaxy’s-bulge

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