Dados meteorológicos do Curiosity sugerem a existência de salmouras em Marte

http://www.nasa.gov/jpl/msl/nasa-mars-rovers-weather-data-bolster-case-for-brine

O dispositivo REMS (Rover Environmental Monitoring Station) do rover Curiosity inclui um sensor de temperatura e um sensor de umidade, montados no mastro do rover. Um dos pequenos braços do REMS pode ser aqui visto à esquerda do mastro. Créditos: NASA / JPL-Caltech / MSSS

Em Marte, as condições meteorológicas e do seu solo medidas pelo rover Curiosity, em conjunto com um tipo de sal encontrado à superfície, podem sugerir a existência de salmouras à noite.

Os percloratos, identificados no solo marciano pela missão Curiosity e anteriormente descobertos pelo Phoenix, têm propriedades de absorção de vapor de água da atmosfera e baixam a temperatura de solidificação da água. Este tem sido, há anos, o mecanismo proposto para a possível existência de salmouras momentâneas em latitudes mais altas em Marte, apesar das condições frias e secas atuais do Planeta Vermelho.

Os novos cálculos foram baseados em dados de temperatura e umidade recolhidos durante mais de um ano marciano pelo Curiosity. Eles indicam que as condições no local quase-equatorial do veículo exploratório são favoráveis à formação de pequenas quantidades de água salgada durante algumas noites do ano, secando novamente durante o nascer-do-Sol. As condições deverão ser ainda mais favoráveis nas latitudes maiores, onde as temperaturas mais frias e maior quantidade de vapor de água podem resultar em uma maior umidade relativa, mais frequente.

O autor principal do estudo, Javier Martin-Torres, membro do Conselho Espanhol de Investigação e da Universidade de Tecnologia de Lulea, Suécia, que trabalha na equipe científica do Curiosity, afirmou:

A água líquida é um requisito para a vida como a conhecemos e o alvo importante das missões de exploração de Marte. As condições perto da superfície atual de Marte são pouco favoráveis à vida microbiana como a conhecemos, mas a possibilidade da existência de salmouras em Marte tem implicações mais amplas para a habitabilidade e para os processos geológicos relacionados com a água.

http://www.nasa.gov/content/curiosity-view-ahead-through-artists-drive/#.VTl-ByFVhBc

Esta imagem capturada em 10 de abril de 2015, a partir da câmera de navegação do rover Curiosity mostra a superfície a frente do veículo enquanto este se direciona na direção oeste através do vale chamado de “Artist’s Drive” [1]. Créditos: NASA/JPL-Caltech

Os dados meteorológicos do artigo publicado na revista Nature Geosciences foram recolhidos pelo dispositivo REMS (Rover Environmental Monitoring Station) do Curiosity, construído através da colaboração da Espanha e inclui um sensor de umidade relativa e um sensor de temperatura do solo. O projeto MSL (Mars Science Laboratory) da NASA tem usado o Curiosity para investigar tanto as condições ambientais do passado de Marte como as condições atuais da região da Cratera Gale. O trabalho também se baseia em medições do hidrogênio no solo recolhidas pelo instrumento DAN (Dynamic Albedo of Neutrons) do rover, construído pela agência espacial da Rússia.

Ashwin Vasavada, cientista do projeto Curiosity do JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, EUA, um dos coautores do artigo, comentou:

Nós não detectamos as salmouras diretamente, mas o cálculo da possibilidade da sua existência na Cratera Gale, durante algumas noites, atesta o valor das medições constantes e ao longo de todo o ano, que tem sido fornecidas pelo instrumento REMS.

Curiosity é a primeira missão em Marte que mediu a umidade relativa na atmosfera perto da superfície e a temperatura do solo em todos os momentos do dia e durante todas as estações do ano marciano. A umidade relativa depende da temperatura do ar, bem como da quantidade de vapor de água aí presente. As medições da umidade relativa recolhidas pelo Curiosity variam desde cerca de 5% durante as tardes de verão até 100% nas noites de outono e inverno.

O ar que preenche poros no solo interage com o ar mesmo acima do solo. Quando a sua umidade relativa ultrapassa um determinado nível, os sais podem absorver as moléculas de água para se tornarem dissolvidas em líquido, um processo chamado deliquescência. Os sais de perclorato são especialmente bons a fazer isto. Dado que os percloratos já foram identificados tanto em locais perto dos polos como em locais perto do equador, podem muito bem estar presentes em solos por todo o planeta.

http://photojournal.jpl.nasa.gov/jpeg/PIA19392.jpg

Curiosity fotografada pela câmera HiRISE da MRO enquanto passava pelo “Artist´s Drive” [1] na direção das camadas mais elevadas do Monte Sharp.

Os cientistas têm usado a câmara HiRISE (High Resolution Imaging Science Experiment) a bordo da sonda MRO (Mars Reconnaissance Orbiter) da NASA para documentar inúmeros locais em Marte onde surgem fluxos escuros em encostas que crescem durante as estações mais quentes. Estas características são chamadas RSL (recurring slope lineae). A hipótese principal para a sua formação envolve salmouras formadas por deliquescência.

Alfred McEwen, investigador principal da câmara HiRISE e da Universidade do Arizona, Tucson, EUA, também coautor do novo artigo:

A Cratera Gale é um dos locais menos prováveis em Marte para a existência de condições para a formação de salmouras, em comparação com locais a latitudes maiores ou com maior sombreamento. Assim, se a salmoura lá existir, fortalece o caso que esta pode se formar e até persistir em muitos outros locais, talvez o suficiente para explicar a atividade de RSL.

Nos 12 meses que se seguiram ao pouso em Marte agosto de 2012, o Curiosity encontrou evidências de leitos antigos (rios e lagos) com mais de 3 bilhões de anos, que forneciam condições favoráveis para a vida microbiana. Agora, o rover está examinando uma montanha em camadas dentro da Cratera Gale em busca de evidências de como essas condições ambientais passadas poderão ter evoluído.

http://photojournal.jpl.nasa.gov/catalog/PIA19390

Mapa a partir de imagem da HiRISE mostra a posição da Curiosity em 16 de abril de 2015 (dia 957) em Marte

Nota

[1] “Artist´s Drive” (na Terra) é uma estrada dentro do Parque Nacional americano do Vale da Morte.

Fonte

NASA: NASA Mars Rover’s Weather Data Bolster Case for Brine

._._.

1 menção

  1. […] tempo. Este é um desenvolvimento significativo, que surge para confirmar que a água, embora salgada, pode estar eventualmente fluindo atualmente sobre a superfície de […]

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