MUSE vai além do Hubble ao olhar para o Universo profundo em 3D

http://www.eso.org/public/images/eso1507a/

Esta composição mostra na imagem de fundo a região conhecida por Hubble Deep Field South, obtida pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA. As novas observações obtidas com o instrumento MUSE instalado no Very Large Telescope do ESO detectaram galáxias remotas que não foram vistas pelo Hubble. Dois exemplos foram destacados nesta imagem composta. Estes objetos são completamente invisíveis na imagem Hubble mas aparecem de forma mais evidente nas regiões apropriadas da imagem em três dimensões obtida pelo MUSE. Créditos: ESO/MUSE Consortium/R. Bacon

O dispositivo MUSE instalado no Very Large Telescope do ESO deu aos astrônomos a melhor visão tridimensional do Universo profundo obtida até hoje. Após observar a região do Hubble Deep Field South durante 27 horas, as novas observações revelam distâncias, movimentos e outras propriedades de muito mais galáxias do que as que tinham sido observadas até agora nesta minúscula região do céu. Estas observações revelam também objetos previamente desconhecidos nas observações do Hubble.

ESOcast 72 – Looking Deeply into the Universe in 3D from ESO Observatory on Vimeo.

Ao obter imagens através de exposições muito longas de regiões do céu, astrônomos criaram vários campos profundos que nos revelaram muito sobre o Universo primordial. O mais famoso destes campos foi o Hubble Deep Field (Campo Profundo de Hubble) original, obtido pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA durante vários dias no final de 1995. Esta imagem icônica transformou rapidamente o nosso conhecimento do conteúdo do Universo quando este ainda era jovem. Foi seguida dois anos depois por uma imagem semelhante do céu austral, o Hubble Deep Field South.

No entanto, estas imagens não contêm todas as respostas uma vez que para investigar melhor as galáxias nas imagens do campo profundo, os astrônomos tiveram que observar cada um destes objetos cuidadosamente com outros instrumentos, um trabalho difícil e demorado. Agora e pela primeira vez, o novo instrumento MUSE pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo e muito mais depressa.

Uma das primeiras observações do MUSE depois de ter sido instalado no VLT em 2014 foi observar o Hubble Deep Field South (HDF-S). Os resultados obtidos excederam todas as expectativas.

Roland Bacon (Centre de Recherche Astrophysique de Lyon, França,CNRS), pesquisador principal do instrumento MUSE e líder da equipe de comissionamento, explicou:

Depois de apenas algumas horas de observações no telescópio, demos uma olhada rápida nos dados e descobrimos muitas galáxias – o que foi muito encorajador. Quando voltamos para a Europa, começamos a explorar os dados com mais pormenor. Era como pescar em águas profundas e cada nova descoberta gerava muito entusiasmo e debate sobre o tipo de objetos que íamos descobrindo.

Para cada parte da imagem MUSE do HDF-S temos não apenas um pixel numa imagem, mas também um espectro que revela a intensidade dos diferentes componentes de cor da radiação nesse ponto, cerca de 90.000 espectros no total [1]. Estes dados revelam a distância, composição e movimentos internos de centenas de galáxias distantes, além de capturarem também um pequeno número de estrelas muito tênues na Via Láctea.

Embora o tempo de exposição tenha sido muito mais curto que o utilizado para obter as imagens Hubble, os dados MUSE do HDF-S revelaram mais de vinte objetos muito tênues nesta pequena região do céu que o Hubble não conseguiu capturar [2].

Roland Bacon acrescentou:

Houve um grande entusiasmo quando descobrimos galáxias muito distantes que não eram sequer visíveis na imagem mais profunda do Hubble. Depois de tantos anos trabalhando arduamente neste instrumento, ver os nossos sonhos tornarem-se realidade constituiu uma forte experiência para mim.

Ao observar cuidadosamente todos os espectros das observações MUSE do HDF-S, a equipe mediu as distâncias de 189 galáxias. Estas distâncias vão desde objetos relativamente próximos até alguns que são observados quando o Universo tinha menos de um bilhão de anos de idade. Este valor corresponde a mais de dez vezes as medidas de distância que tínhamos antes para esta região do céu.

Para as galáxias mais próximas, o MUSE pode observar também as diversas propriedades nas diferentes regiões da mesma galáxia. Este aspecto revela como é que as galáxias giram e mostra-nos variações de outras propriedades de lugar para lugar. Esta é uma maneira poderosa de compreender como é que as galáxias evoluem ao longo do tempo cósmico.

Roland Bacon concluiu:

Agora que demonstramos as capacidades únicas do MUSE para explorar o Universo profundo, vamos observar outros campos profundos como o Hubble Ultra Deep Field. Poderemos estudar milhares de galáxias e descobrir novas galáxias extremamente distantes e tênues. Estas pequenas galáxias bebês, vistas tal como eram há mais de 10 bilhões de anos atrás, foram crescendo gradualmente, tornando-se galáxias como as que vemos hoje, como por exemplo a Via Láctea.

Notas

[1] Cada espectro cobre um domínio de comprimentos de onda que vai desde a região azul do espectro eletromagnético até ao próximo infravermelho (375 a 930 nanômetros).

[2] O MUSE é particularmente sensível a objetos que emitem a maior parte da sua energia a alguns comprimentos de onda particulares, uma vez que esta radiação aparece como pontos brilhantes nos dados. As galáxias no Universo primordial possuem tipicamente espectros deste tipo, já que contêm hidrogênio gasoso que brilha devido à radiação ultravioleta emitida por estrelas quentes jovens.

Fonte

ESO: eso1507 – Looking Deeply into the Universe in 3D – MUSE goes beyond Hubble

Artigo Científico

The MUSE 3D view of the Hubble Deep Field South

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