Astrônomos encontram evidências de nuvens de vapor d’água na atmosfera da anã marrom WISE J0855-0714

http://science.psu.edu/alert/photos/research-photos/astro/Luhman_blueplanet_4-2014.jpg

Esta concepção artística mostra o objeto WISE J085510.83-071442.5, considerado como a anã marrom mais fria já descoberta. As anã marrons são corpos tênues, objetos estelares fracassados, que não tem a massa crítica suficiente para realizar a fusão nuclear como as estrelas fazem. WISE J085510.83-071442.5 é tão frio quanto o nosso Polo Norte (entre -48 e -13 graus Celsius). A cor do objeto nesta ilustração é meramente arbitrária uma vez que as cores variam quando observamos em diversas faixas de frequência da radiação. Créditos: NASA/JPL-Caltech/Penn State University.

Uma equipe de pesquisadores, liderada pelo cientista espacial Jacqueline Faherty, encontrou evidências da presença de nuvens de água na atmosfera de uma anã marrom [em Portugal: anã castanha] situada a apenas 7,3 anos-luz de distância da Terra. Em seu artigo a equipe descreve como eles encontraram as evidências da descoberta e os próximos passos da pesquisa.

WISE J0855-0714 (resumido: W0855) é uma anã marrom detectada pela primeira vez pelo astrônomo Kevin Luhman, quando ele estudou as fotografias tiradas pelo telescópio WISE, da NASA, durante o período de 2010 a 2011.

Uma anã marrom é uma estrela falhada, isto é, um objeto que não conseguiu progredir a um ponto em que pudesse sustentar reações termonucleares em seu núcleo. Depois de formados, esses corpos tendem a esfriar ao longo do tempo, reduzindo seu brilho no infravermelho. Os cientistas estimam que a atmosfera da WISE J0855-0714 (W0855) apresenta temperaturas um pouco abaixo do ponto de congelamento da água.

Desde a descoberta da primeira anã marrom, os cientistas têm estudado estes corpos para aprender mais sobre aspectos característicos. As anãs marrons são mais fáceis de estudar que os exoplanetas, porque elas, em vários casos, não têm uma estrela nas proximidades para perturbar as medições astronômicas com suas fortes emissões de radiação.

http://arxiv.org/pdf/1408.4671v1.pdf

Uma região com ~45″ x 25″ do mosaico final criado a partir de três noites de observação do W0855 gerada com o Fourstar imager. Créditos: Jacqueline K. Faherty et al.

Neste último trabalho, os pesquisadores se debruçaram sobre imagens infravermelhas tiradas pelo telescópio Magellan Baade do Chile ao longo de três noites em maio de 2014. Cores observadas nas imagens correspondem ao observado em modelos desenvolvidos para mostrar como uma anã marrom ficaria se possuísse nuvens de água na sua atmosfera. Se mais uma prova confirmar conclusivamente que a descoberta é realmente de nuvens de água, tal marcaria o primeiro desses casos em um corpo fora do nosso sistema solar.

WISE J0855-0714 é aproximadamente do tamanho de Júpiter, mas tem três vezes a sua massa. W0855 é também a mais fria anã marrom conhecida. As imagens infravermelhas também indicam que é apenas parcialmente nublado, o que é um fenômeno inédito, pelo menos do ponto de vista conhecido. Tal cenário oferece astrônomos uma oportunidade única para estudar esta situação em outros corpos celestes. Em nosso sistema solar, apenas a Terra e Marte têm nuvens de água. Embora alguns exoplanetas tenham também apresentado assinatura de vapor de água nas suas atmosferas, nenhum deles continha nuvens de água.

Os cientistas espaciais não saberão com certeza se as evidências das imagens infravermelhas realmente mostram nuvens de água até o dia em que os pesquisadores, no futuro, usando o telescópio espacial James Webb, conseguirão dar uma boa olhada no WISE J0855-0714 e confirmar as pesquisas.

Leia mais em: WISE J085510.83-071442.5 – uma anã marrom fria ou um exoplaneta errante gigante?

Fontes

Artigo Científico

Indications of Water Clouds in the Coldest Known Brown Dwarf, arXiv:1408.4671 [astro-ph.SR]

._._.

 

8 comentários

1 menção

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  1. ROCA :
    Dificilmente Júpiter seria considerado uma anã-marrom pois sua massa está muito abaixo do limite teórico para uma anã-marrom, ou seja, 13 vezes a massa de Júpiter.
    O que acontece é que ao atingir esta massa o objeto consegue realizar a fusão do deutério e assim sair fora do critério de ‘ser um planeta’.
    Novas pesquisas reduziram o limite mínimo a 11 vezes a Massa de Júpiter, em condições especiais, leia o artigo abaixo que detalha o estudo sobre estes limites:
    O que diferencia um exoplaneta gigante de uma anã marrom? Novas pesquisas desafiam os limites teóricos
    http://eternosaprendizes.com/2010/09/09/o-que-diferencia-um-exoplaneta-gigante-de-uma-ana-marrom-novas-pesquisas-desafiam-os-limites-teoricos/
    Sendo assim, julgo que WISE J0855-0714 pode ser um exoplaneta errante, pois com 3 vezes a Massa de Júpiter, também está muito abaixo do limite calculado nos estudos.
    \o/

    Olá, Ricardo e tds. Obrigado pela resposta. Acompanhei o artigo que você recomendou. Pelo que entendi, as principais diferenças básicas de gigante e anã-marrom são: massa (13 e agora no mínimo 11 a massa de Júpiter), e o objeto suportar a fusão do tal do deutério (sinceramente nem sabia/lembrava desse elemento – risos). Abraços. Parabéns mais uma vez pelo site, um dos meus favoritos.

  2. Boa noite Roca, obrigado por esclarecer as diferenças. Um tempo atraz li num periódico do qual não me lembro e também não tenho mais registro (tive que formatar meu pc e perdi tudo) que existe um planeta errante próximo a nosso sistema solar e seu tamanho é maior que Júpiter. Por isso eu chamei de “Super-Jupiter”.
    Um forte abraço meu ilustre professor astronômico.

      • ROCA em 02/09/2014 às 08:07
        Autor

      Na verdade existe uma categoria intermediária chamada “sub-anã-marrom”, entre um planeta tipo Júpiter e uma anã-marrom. Provavelmente foi a notícia abaixo que você leu sobre este exoplaneta errante:

      Anã marrom errante, descoberta a 9 anos-luz da Terra, nos lembra um Júpiter solitário
      http://eternosaprendizes.com/2010/05/04/ana-marron-errante-descoberta-a-9-anos-luz-da-terra-nos-lembra-um-jupiter-solitario/

      \o/

  3. Olá, amigo Ricardo e amigos internautas. Uma dúvida simples: se residíssemos na periferia de Andrômeda, e olhássemos para o nossos Sistema Solar, e nosso Júpiter estivesse para além da órbita de Plutão (possivelmente expulso como a citada no artigo,) o consideraríamos uma anã marrom? Afinal ele fracassou no processo de fusão interna e não tornou-se estrela. Apenas se tivesse maior massa, ele seria considerado anã marrom? Suas nuvens repletas de amônia seria detectada? Thanks. Abs

      • ROCA em 01/09/2014 às 17:56
        Autor

      Dificilmente Júpiter seria considerado uma anã-marrom pois sua massa está muito abaixo do limite teórico para uma anã-marrom, ou seja, 13 vezes a massa de Júpiter.
      O que acontece é que ao atingir esta massa o objeto consegue realizar a fusão do deutério e assim sair fora do critério de ‘ser um planeta’.

      Novas pesquisas reduziram o limite mínimo a 11 vezes a Massa de Júpiter, em condições especiais, leia o artigo abaixo que detalha o estudo sobre estes limites:

      O que diferencia um exoplaneta gigante de uma anã marrom? Novas pesquisas desafiam os limites teóricos

      http://eternosaprendizes.com/2010/09/09/o-que-diferencia-um-exoplaneta-gigante-de-uma-ana-marrom-novas-pesquisas-desafiam-os-limites-teoricos/

      Sendo assim, julgo que WISE J0855-0714 pode ser um exoplaneta errante, pois com 3 vezes a Massa de Júpiter, também está muito abaixo do limite calculado nos estudos.

      \o/

  4. Robinson,

    Concordo que são maiores as chances de ser um planeta errante e não uma anã marrom, pois a massa é relativamente baixa.

    Luhman, o descobridor deste objeto, comentou esta possibilidade no seu artigo:

    “Com esta massa, o objeto WISE 0855−0714 pode ser tanto uma anã marrom diminuta quanto um planeta gigante errante, ejetado de seu sistema solar original. O fato de considerarmos hoje a primeira hipótese reside no simples fato de desconhecermos a quantidade de planetas errantes ejetados de seus sistemas. As anãs marrons, por outro lado, são numerosas.”

    Leia sobre isso aqui: http://eternosaprendizes.com/2014/05/01/wise-j085510-83-071442-5-uma-ana-marrom-fria-ou-um-exoplaneta-errante-gigante/

    Leia este artigo sobre a massa das anãs marrons:

    O que diferencia um exoplaneta gigante de uma anã marrom? Novas pesquisas desafiam os limites teóricos

    http://eternosaprendizes.com/2010/09/09/o-que-diferencia-um-exoplaneta-gigante-de-uma-ana-marrom-novas-pesquisas-desafiam-os-limites-teoricos/

    \o/

  5. Olá meu amigo, li sobre esta anã marrom, que pra mim é um planeta errante, mas opiniões minhas opiniões. Assim por que desta preguiça de classificar que planetas errantes, sendo mais massivos e maiores que Júpiter? Sendo que existem inúmeros planetas do mesmo tamanho ou maiores que Júpiter e também são considerados planemos. E eu gostaria de saber qual a diferença entre planemos, uma anã marrom e um super Júpiter.
    Um forte abraço Roca.

      • ROCA em 29/08/2014 às 14:34
        Autor

      Um PLANEMO (Planetary Mass Object) é todo e qualquer corpo ‘redondo’, ou seja, com massa planetária. Isto exclui as anãs marrons, estrelas e os objetos menores (asteroides e cometas).
      Desconheço este conceito de ‘super júpiter’, o que sei é que: ou é um planeta (exoplaneta) joviano ou é uma anã marrom.
      Existe também o conceito de planeta da classe Netuno para os gasosos menores, mas também aí é complicado pois há super-Terras que podem ser gasosas, como esta aqui: http://eternosaprendizes.com/2014/04/18/david-kipping-apresenta-koi-314c-um-exoplaneta-com-a-massa-da-terra-porem-gasoso-como-netuno/

      O resto eu respondi no outro comentário.

      \o/

  1. […] o comunicado em inglês, aqui (tradução), e artigo […]

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