Cassini revela dados dos oceanos salgados subsuperficiais em Titã

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Pesquisadores encontraram uma concha de gelo de água em Titã que se sobrepõe a um oceano bem salgado que varia de espessura ao longo da lua, sugerindo que a crosta está em processo de se tornar rígida. Créditos: NASA / JPL / SSI / Universidade do Arizona / G. Mitri / Universidade de Nantes

Ao analisar dados da missão Cassini da NASA cientistas encontraram fortes evidências de que o oceano subsuperficial dentro da maior lua de Saturno, Titã, pode ser tão salgado como o Mar Morto aqui na Terra.

Os novos resultados foram fornecidos pelo estudo de dados gravimétricos e topográficos medidos durante os diversos voos rasantes repetidos pela sonda Cassini em Titã ao longo dos últimos 10 anos. Assim, os investigadores apresentaram um modelo da estrutura geológica de Titã, demonstrando uma melhor compreensão da estrutura da concha gelada exterior desta lua de Saturno.

Linda Spilker, cientista do projeto Cassini no JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, que não esteve envolvida no estudo, comentou:

Titã continua a revelar-se um mundo que nos apresenta um fascínio sem fim. Com a longa vida da missão Cassini, estamos desbloqueando novos mistérios tão rápido quanto resolvemos os antigos.

Achados adicionais suportam as indicações anteriores de que a crosta gelada de Titã é rígida e está em processo de congelamento sólido. Os cientistas descobriram que é necessária uma densidade relativamente alta para o oceano subsuperficial de Titã, para justificar os dados da sua gravidade. Isto é um indício que o oceano é provavelmente muito salgado, contendo sais compostos possivelmente por enxofre, sódio e potássio. A densidade indicada daria ao oceano um teor de sal equivalente aos dos corpos mais salgados de água na Terra.

O autor principal do artigo, Giuseppe Mitri, Universidade de Nantes, França, explicou:

Trata-se de um oceano extremamente salgado para os padrões da Terra. Este conhecimento pode mudar o modo como vemos este oceano como uma possível morada para a vida, no entanto, as condições podem ter sido muito diferentes no passado.

Os dados da Cassini também indicam que a espessura da crosta gelada de Titã varia ligeiramente de um lugar para outro. Os pesquisadores sugerem que isto pode ser melhor explicado pela presença de uma crosta exterior dura de gelo, como se o oceano estivesse a se cristalizar lentamente, formando mais gelo. Por outro lado, a forma de Titã tenderia a se nivelar ao longo do tempo, como a ‘cera quente em uma vela’. Este processo de congelamento tem importantes implicações para a potencial habitabilidade do oceano de Titã, uma vez que tal poderia limitar a capacidade dos materiais em se alternar entre a superfície e o oceano.

Uma possível consequência da existência de uma concha rígida de gelo é que qualquer liberação de metano para a atmosfera de Titã só poderia acontecer em “pontos quentes” dispersos, tais como os pontos quentes vulcânicos na Terra, como os deram origem à cadeia de ilhas havaianas. O metano em Titã não parece ser resultado da convecção ou de placas tectônicas que reciclariam a sua carapaça de gelo.

O modo como a atmosfera de Titã é reabastecida de metano tem gerado há muito um grande interesse entre os cientistas. Sabemos que normalmente as moléculas de metano são quebradas pela luz solar e desaparecem, em escalas de tempo geológico relativamente curtas. Paradoxalmente, a atmosfera atual de Titã contém cerca de 5% de metano. Isto significa que algum processo, possivelmente natureza geológica, está repondo o metano. O estudo indica que qualquer que seja o mecanismo responsável pelo processo, a restauração do metano de Titã é localizada e intermitente.

Jonathan Lunine, cientista da missão Cassini da Universidade de Cornell, em Ithaca, Nova Iorque, co-autor do artigo, afirmou:

O nosso trabalho sugere que a procura por sinais da liberação do metano vai ser difícil de conseguirmos com a missão Cassini e poderá exigir uma missão futura para encontrar as fontes localizadas de metano. Assim como em Marte, esta é uma tarefa desafiadora.

Os resultados foram publicados na revista Icarus.

Fonte

NASA: Ocean on Saturn Moon Could be as Salty as the Dead Sea

._._.

3 comentários

  1. Bom dia, Ricardo e todos. Li o artigo atenciosamente e achei bacana a temática do Alan Stern, principalmente porque atrairia a atenção do governo, ampliando o interesse. Isso leva também a salutar questão: um planeta é assim dominado apenas porque “limpa” sua área e tem órbita estável? Poderiam levar em consideração sua atmosfera, atividades geológicas, mares, possível vida. Sim, adorei a denominação ‘Planeta Satélite’. Enceladus, Ganimedes, Europa, e sobretudo, Titã, poderiam serem Planetas Satélites. Quanto ao diálogo extraído do roteiro de “Jornada nas Estrelas” super inteligente e admito, igualmente cômico tb. Abs

  2. Olá, Ricardo e internautas. Mesmo sendo super salgado, ainda há a possibilidade de extremófilos, embora, pelo que entendi, os pesquisadores alegam diminuir tal possibilidade. Sei que a Cassini-Huygens pousou lá em 2005 (um feito extraordinário, claro), mas quando enviaremos um planador, balão, jipe-robô, robô-subaquático onde poderemos explorar por completo esse satélite fantástico? Antes disso, precisamos melhorar nossa propulsão química (evoluir) pra diminuir drasticamente o tempo até lá. Abs

      • ROCA em 11/07/2014 às 22:05
        Autor

      Titã, na verdade, é um mundo extraordinário. O título de ‘satélite’ não faz juz a Titã. Como diz Alan Stern, líder da missão New Horizons, Titã deveria ser chamado de ‘planeta-satélite’ dada sua dimensão e importância. Leia aqui:

      As grandes luas devem ser chamadas de planetas-satélite?
      http://eternosaprendizes.com/2010/05/25/as-grandes-luas-devem-ser-chamadas-de-planetas-satelite/

      A existência de oceanos subsuperficiais salgados pode eventualmente suportar a vida. Eu aposto também em Enceladus e Ganimedes, onde, sabemos, existem também oceanos subsuperficiais. Isto sem falar de Europa, uma lua oceânica, com duas vezes mais água que todos os oceanos da Terra somados.

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