Uma equipe internacional de astrônomos descobriu um exoplaneta na borda zona habitável da estrela Gliese 832, a gama de distâncias que podem permitir a existência de água líquida à superfície de um exoplaneta. Este mundo, conhecido como Gliese 832c, situa-se a 16 anos-luz da Terra.
Gliese 832c é uma Super Terra com cerca de 5,4 vezes a massa do nosso planeta. Seu período de giro em torno do seu sol é de ‘apenas’ 35,67±0,15 dias terrestres. Em contrapartida a estrela hospedeira é uma anã vermelha (massa = 0,45±0,05 M⊗), muito mais tênue e fria que o Sol. Assim, Gliese 832c recebe energia solar na mesma ordem de grandeza da Terra, apesar de orbitar muito mais próximo da sua estrema mãe.
Abel Mendez Torres, diretor do Laboratório de Habitabilidade Planetária da Universidade de Porto Rico em Arecibo, comentou:
O Índice de Similaridade com a Terra (ESI, Earth Similarity Index) [1] de Gliese 832c (ESI=0,81) é comparável com os de Gliese 667Cc (ESI=0,84) e Kepler-62e (ESI=0,83). A Terra tem ESI igual a 1. Isto torna Gliese 832c um dos três planetas mais ‘parecidos’ com a Terra, de acordo com o ESI (isto é, com respeito ao fluxo estelar, massa da Terra e outras importantes características), tornando-se um bom candidato a observações de acompanhamento.
A equipe da pesquisa, liderada por Robert Wittenmyer, da Universidade de Nova Gales do Sul, Austrália, descobriu o exoplaneta Gliese 832c ao notar pequenas oscilações que a gravidade do exoplaneta provoca no movimento da sua estrela hospedeira.
Os cientistas observaram estas oscilações em dados recolhidos por três instrumentos diferentes:
- Espectrógrafo Echelle da University College London acoplado ao telescópio Anglo-Australiano, Austrália;
- PFS (Planet Finder Spectrograph) de Carnegie acoplado ao telescópio Magalhães II, Chile;
- Espectrógrafo HARPS (High Accuracy Radial Velocity Planet Searcher), que faz parte do telescópio de 3,6 metros do Observatório La Silla do ESO, Chile.
Gliese 832c é o segundo exoplaneta a ser descoberto no sistema Gliese 832. O outro exoplaneta, Gliese 832b, descoberto em 2009, é um gigante gasoso que orbita muito mais longe da estrela, completando uma órbita em aproximadamente 9 anos [terrestres].
Mendez disse:
Até agora, os dois planetas de Gliese 832 são uma versão reduzida do nosso próprio Sistema Solar, com um planeta potencialmente tipo-Terra mais interior, e um planeta gigante mais exterior, parecido com Júpiter.
No entanto, no momento não sabemos o quanto Gliese 832c se assemelha com a Terra. De fato, os seus descobridores especulam se o mundo recém-descoberto pode ser mais parecido com Vênus, com uma espessa atmosfera que levou a um efeito estufa descontrolado.
Wittenmyer e sua equipe escreveram no artigo científico, publicado no The Astrophysical Journal:
Dada a grande massa do exoplaneta, parece provável que tenha uma grande atmosfera, o que pode torná-lo inóspito. Na verdade, é até plausível que GJ [Gliese] 832c seja um ‘super Vênus’, com um significativo efeito estufa.
Leia mais aqui: Gliese 832c – uma super-Terra na zona habitável, é o mais recente exoplaneta preferido
Nota
[1] O ESI (Earth Similarity Index – Índice de Similaridade a Terra) é definido pela expressão:
Onde xi é uma das propriedades planetárias (ex.: a temperatura estimada na superfície do exoplaneta), xi0 é o correspondente valor terrestre para a propriedade comparada (ex.: 288 K para a temperatura média da Terra), wi é o expoente do peso para cada propriedade e n é o total de propriedades planetárias. Os pesos ajustam a sensibilidade da escala e equaliza suas influências entre as diferentes características. No Sistema Solar temos os seguintes resultados para o ESI: Mercúrio (0,39), Vênus (0,78), Marte (0,64) e a própria Terra, obviamente (1,00).
Fontes
Space.com: Nearby Alien Planet May Be Capable of Supporting Life
PHL: A Nearby Super-Earth with the Right Temperature but Extreme Seasons
Artigo Científico
GJ 832c: A super-earth in the habitable zone
._._.
2 comentários
Quando exoplanetas maiores que a Terra tem luas, isso muda sua similaridade com a Terra para mais próximo, enquanto que se exoplanetas menores que a possuirem luas, isso distancia sua similaridade para com a Terra. Será possível estimar esse fator de correção? Qual seria a distribuição estatistica entre massa do planeta propriamente dito e massa de suas luas?
Autor
A relação entre massa de um planeta e luas é algo que inexiste. O processo de formação/aquisição de luas é caótico.
No caso da Terra a Lua nasceu de um choque entre um planeta errante (Theia) e a própria Terra. Há teorias que sugerem que a Terra já teve outras luas no passado remoto, mas não há provas disso, apenas hipóteses, como essa, para explicar a distinção entre as faces lunares: http://www.personal.psu.edu/jtw13/blogs/astrowright/2014/05/a-hard-rains-a-gonna-fall-on-the-dark-side-of-the-moon-i-the-lunar-farside-highlands-problem.html
Acredita-se que Tritão foi uma lua capturada por Netuno. Veja abaixo:
http://eternosaprendizes.com/2010/03/27/discussoes-sobre-a-formacao-do-sistema-solar-parte-3-teria-netuno-engolido-uma-super-terra-e-roubado-sua-lua-tritao/
Vênus pode ter tido luas no passado?
http://eternosaprendizes.com/2009/10/16/novas-discussoes-sobre-a-formacao-do-sistema-solar-por-que-venus-nao-tem-nenhuma-lua/
As luas de Júpiter devem ter se formado por acresção…
Como ainda não conhecemos nenhuma exolua, não há dados para estabelecer qualquer regra. Sobre a busca por exoluas:
http://eternosaprendizes.com/2014/04/11/exolua-descoberta-por-microlente-gravitacional/
http://eternosaprendizes.com/2010/01/05/vamos-descobrir-em-breve-uma-exolua-tal-como-a-lua-pandora-do-filme-avatar/
http://eternosaprendizes.com/2009/10/28/como-usar-o-observatorio-espacial-kepler-para-descobrir-exoluas-habitaveis/
http://eternosaprendizes.com/2009/04/03/metodos-propostos-para-deteccao-de-exoluas/
Boa leitura \o/