2012 VP113: novo candidato a planeta anão redefine as fronteiras do Sistema Solar

2012 VP113

Estas imagens que mostram a descoberta do objeto 2012 VP113 foram tomadas com intervalos de 2 horas entre si em 05 de novembro de 2012. O movimento do 2012 VP113 se destaca sobre o fundo relativamente fixo de estrelas e galáxias. Crédito: Scott Sheppard/Carnegie Institution for Science

Com a ajuda de observatórios terrestres os cientistas descobriram um objeto de considerável porte, além limites conhecidos do Sistema Solar. O corpo 2012 VP113 é possivelmente um candidato a planeta anão (como Plutão e Éris), categoria atribuída aos objetos em órbita em torno do Sol, suficientemente grandes para que a sua própria gravidade faça que estes tenham um formato quase esférico.

Órbitas de Sedna Eris Plutão e 2012 VP113

Órbita dos planetas anões Plutão e Eris comparada com as órbitas dos candidatos Sedna e 2012 VP113. Crédito: The Planetary Society

Kelly Fast, cientista do Planetary Astronomy Program, Science Mission Directorate (SMD), na sede da NASA, Washington, explicou:

Esta descoberta traz-nos aquele que é, por enquanto, o nosso mais distante vizinho no mapa da dinâmica do Sistema Solar. Embora a existência da própria Nuvem de Oort interna seja apenas uma hipótese, esta descoberta pode ajudar a perceber como ela se poderá ter formado.

As observações e a análise foram conduzidas e coordenadas por Chadwick Trujillo, do Observatório Gemini, no Havai, e Scott Sheppard, do Carnegie Institution, em Washington. 2012 VP113 foi descoberto através do telescópio de 4 metros do NOAO, no Chile. O telescópio é operado pela Fundação das Universidades para Pesquisa em Astronomia, sob contrato com a National Science Foundation. O telescópio Magellan de 6,5 metros no Observatório Carnegie de Las Campanas, no Chile, foi utilizado para determinar a órbita de 2012 VP113 e obter informações detalhadas sobre as suas propriedades de superfície.

Animação que mostra o movimento de 2012 VP113 ao longo de cinco horas. O objeto está atualmente a cerca de 83 UA do Sol, quase no periélio. Crédito: S. Sheppard/Instituto Carnegie para Ciência

Animação que mostra o movimento de 2012 VP113 ao longo de cinco horas. O objeto está atualmente a cerca de 83 UA do Sol, quase no periélio. Crédito: S. Sheppard/Instituto Carnegie para Ciência

Trujillo, o principal autor do trabalho disse:

A descoberta de 2012 VP113 mostra-nos que os confins do Sistema Solar não são um deserto como antigamente se pensava. Pelo contrário, esta é apenas a “ponta do iceberg” que nos diz que há muitos corpos na Nuvem de Oort interna aguardando serem descobertos. Isto também nos dá uma ideia de que sabemos pouco sobre as partes mais distantes do Sistema Solar e de quanto nos resta explorar.

O Sistema Solar conhecido pode ser dividido em três partes: planetas rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte), que estão mais perto do Sol, planetas gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), mais afastados, e objetos gelados do cinturão de Kuiper que se encontra além da órbita de Netuno. Depois disto, parece haver uma fronteira para além qual até aqui apenas se conhecia a órbita de um objeto, Sedna, um corpo um pouco menor que Plutão.

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Animação mostra as órbitas visando realçar os tamanhos relativos. Créditos: NASA / JPL Small-Body Database Browser / animação: Emily Lakdawalla

Mas o recém-descoberto 2012 VP113 tem uma órbita que vai mais além que a de Sedna, tornando-se assim o mais longínquo objeto deste porte conhecido no Sistema Solar.

Sedna foi descoberto além dos limites do cinturão de Kuiper, em 2003, e não se sabia se era único (tal como durante muito tempo se julgou ser Plutão, antes da descoberta do cinturão de Kuiper em 1992). Agora sabemos que Sedna não é único, como mostra a descoberta de 2012 VP113. E 2012 VP113 é provavelmente o segundo membro conhecido da Nuvem de Oort interna. A Nuvem de Oort externa é a origem provável de alguns cometas.

Representação artística da nuvem de Oort e do cinturão de Kuiper.

Representação artística da nuvem de Oort e do cinturão de Kuiper.

Sheppard afirmou:

A procura de objetos distantes da Nuvem de Oort interna, para lá de Sedna e 2012 VP113, deve continuar, pois muito nos pode revelar sobre como se formou e evoluiu o Sistema Solar.

Sheppard e Trujillo estimaram que podem existir cerca de 900 objetos com órbitas como as de Sedna e 2012 VP113, com diâmetros superiores a 1.000 km. 2012 VP113 é provavelmente uma das centenas de milhares de objetos distantes que habitam a Nuvem de Oort interna. A população total da Nuvem de Oort interna é provavelmente maior que a do cinturão de Kuiper e a do cinturão principal de asteroides.

Sheppard explicou:

Alguns dos objetos da Nuvem de Oort interna podem rivalizar em tamanho com Marte ou mesmo com a Terra. Mas estão tão distantes que mesmo os muito grandes seriam difíceis de detectar com a tecnologia atual.

O ponto da órbita de 2012 VP113 mais próximo do Sol fica a cerca de 80 vezes a distância da Terra ao Sol, ou seja, a 80 UA (Unidades Astronômicas). Os planetas rochosos e os asteroides do cinturão principal estão a distâncias que variam entre 0,39 UA e 4,2 UA. Os gigantes gasosos estão entre 5 e 30 UA e o Cinturão de Kuiper (composto por centenas de milhares de objetos gelados, incluindo Plutão) está entre 30 a 50 UA. No Sistema Solar, há uma fronteira distinta à distância de 50 UA. Até 2012 VP113 ser descoberto, apenas Sedna, com o ponto da órbita mais próximo do Sol a 76 UA, se sabia estar significativamente fora deste limite em toda a sua órbita.

Os objetos da nuvem de Oort poderão servir como ponte para as viagens interestelares? Crédito: Jon Lomberg

Os objetos da nuvem de Oort poderão servir como ponte para as viagens interestelares? Crédito: Jon Lomberg

Tanto Sedna como 2012 VP113 foram encontrados perto da sua maior aproximação ao Sol, mas ambos têm órbitas que os afastam para centenas de UA, onde seria muito difícil descobri-los. As semelhanças encontradas nas órbitas de Sedna, 2012 VP113 e alguns outros objetos perto do limite do cinturão de Kuiper sugerem que a órbita do novo objeto talvez seja influenciada pela presença de um outro planeta ainda não descoberto.

Os estudos nesta região irão continuar. As descobertas foram publicadas em março de 2014 na Nature.

Fontes

NASA: NASA Supported Research Helps Redefine Solar System’s Edge

Centauri Dreams: A Dwarf Planet Beyond Sedna (and Its Implications)

Planetary Society: A second Sedna! What does it mean?

Nature: Dwarf planet stretches Solar System’s edge – Icy body found far beyond Pluto raises questions about cosmic history.

Instituto Carnegie para Ciência: Solar System’s Edge Redefined

._._.

4 comentários

1 menção

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  1. Bom dia, Ricardo e amigos internautas. Dá pra compreender a desclassificação, destituição ou “demissão” de Plutão de seu cargo/trono de planeta, embora seja super incômodo. Mas depois de Eris, e Sedna e agora 2012 VP113 (candidatos, claro), percebemos que há vários corpos parecidos com Plutão, de considerável diâmetro e quase esféricos que fazem parte do Sistema solar. E há muito a se descobrir ainda. Abs

  2. Comentários liberados abs

  3. Show de bola!

    ROCA por que você simplesmente não libera os comentário e coloca um Captcha para proteger de spam? É bem eficiente. Confesso que muitas vezes tenho preguiça de fazer login.

    E muita gente não faz cadastro pq não quer ter mais uma senha para decorar. Se vc liberasse e colocasse apenas um captcha, teriamos muitos comentários aqui.

    Abraço!

      • ROCA em 31/03/2014 às 08:34
        Autor

      Vou melhorar isto.
      Obrigado pelo feed-back!
      abs

  1. […] esteira de notícias recentes animadoras de um “segundo Sedna” (veja: 2012 VP113: novo candidato a planeta anão redefine as fronteiras do Sistema Solar)e um asteroide Centauro rodeado por anéis (veja: Brasileiros encontram primeiro sistema de anéis […]

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