Cassini detecta ondas no mares de Titã!

Imagem do VIMS da Cassini que mostra reflexões num dos muitos lagos de Titã durante a passagem rasante de dia 24 de Julho de 2012. Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI/Jason W. Barnes et al.)

Imagem do VIMS da Cassini que mostra reflexões num dos muitos lagos de Titã durante a passagem rasante de dia 24 de Julho de 2012. Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI/Jason W. Barnes et al.

Após anos de pesquisa, cientistas planetários julgam que finalmente detectaram ondulação nos mares de Titã, a maior lua de Saturno. Caso confirmada, esta será a primeira descoberta de ondas em mares fora da Terra.

A sonda Cassini da NASA espiou vários reflexos invulgares de luz solar na superfície de Punga Mare, um dos mares de hidrocarbonetos de Titã, em 2012 e 2013. Segundo Jason Barnes, cientista planetário da Universidade de Idaho em Moscow, EUA, estes reflexos podem vir de pequenas ondulações, com não mais de 2 cm de altura, que estão perturbando este oceano plano.

Barnes exibiu os resultados em 17 de março de 2014 na conferência de ciência lunar e planetária, onde uma segunda apresentação também mencionou a presença de ondas em outro mar de Titã.

Os cientistas estimam que nos próximos anos serão detectadas mais ondas, porque está previsto um aumento na velocidade dos ventos para o hemisfério norte de Titã (onde a maioria dos seus mares estão localizados), quando o inverno terminar e iniciar a primavera de Titã.

Ralph Lorenz, cientista planetário do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins em Laurel, no estado americano de Maryland, declarou:

Titã pode estar começando a mexer-se. A oceanografia já não é apenas uma ciência da Terra.

Nos seus inúmeros voos por Titã, a Cassini descobriu pequenos lagos e grandes mares de metano, etano e outros compostos de hidrocarbonetos. Chove líquido na superfície desta enorme lua e depois evapora, criando um complexo sistema meteorológico que inclui, presumivelmente, padrões de vento.

Mapa dos lagos situados ao norte de Titã, produzido por imagens de radar em alta-resolução da Cassini. Crédito: NASA/JPL/USGS

Mapa dos lagos situados ao norte de Titã, produzido por imagens de radar em alta-resolução da Cassini.
Crédito: NASA/JPL/USGS

Mas a sonda nunca tinha detectado ondulação nos mares de Titã. Pareciam tão planos como vidro. Isto ocorre uma vez que os hidrocarbonetos líquidos são bem mais viscosos que a água e, portanto, mais difíceis de se mover. Além disso, estima-se que os ventos em Titã simplesmente não são fortes o suficiente para soprar o líquido em ondulações. Em 2010, Lorenz e outros propuseram que os ventos ficariam mais fortes quando Titã se aproximasse da Primavera, permitindo aos cientistas uma melhor oportunidade para avistar ondas. Saturno e as suas luas demoram cerca de 29 anos terrestres a completar uma volta ao Sol.

Um espectrômetro a bordo da Cassini obteve imagens de Punga Mare enquanto fazia voos rasantes diversas vezes pelo satélite natural entre 2012 e 2013. Estas imagens mostram a luz solar refletida da superfície do oceano, como podemos ver quando um avião voa baixo sobre um lago ao anoitecer.

Quatro pixels nas imagens são mais brilhantes do que poderíamos esperar pela reflexão da luz do Sol, relatou Barnes na conferência. Ele concluiu que devem representar algo particularmente áspero na superfície – uma onda ou um conjunto de ondas.

Os cálculos da altura das ondas sugerem que tinham apenas alguns centímetros de altura.  Barnes brincou:

Não façam já planos para surfar em Titã.

Saber como as ondas se formam vai ajudar os cientistas a melhor compreender as condições físicas nos lagos e mares de Titã. Uma missão proposta da NASA, que foi derrotada a favor de um regresso a Marte, almejava enviar uma sonda para flutuar num dos lagos de Titã.

Ainda existe a hipótese da Cassini estar a observar reflexos de uma superfície sólida mas molhada, uma espécie de terra lamacenta, em vez de ondas reais. Observações futuras poderão detectar ondas em Punga Mare novamente, mas Barnes diz que não existe garantia de que a Cassini vai passar na posição ideal para observação antes do final da sua missão, um mergulho planeado em Saturno em 2017.

Um segundo relatório na conferência também aponta para possíveis ondas. No Verão passado, cientistas da Cassini avistaram o que chamaram de “ilha mágica” noutro mar, Ligeia Mare, que aparecia e desaparecia. Parecia ser uma brilhante reflexão em uma imagem, mas não foi visível 16 dias depois, ou em quaisquer fotografias tiradas desde então, realçou Jason Hofgartner, cientista planetário da Universidade de Cornell em Ithaca, Nova Iorque.

Depois de excluir algumas possibilidades, como uma ilha exposta por uma mudança no nível do mar, a equipe concluiu que a “ilha mágica” é provavelmente um conjunto de ondas (um grupo de bolhas subindo desde as profundezas até à superfície) ou uma massa suspensa, como um iceberg.

Os cientistas que pesquisam Ligeia Mare podem ter mais sorte que Barnes e colegas pois uma passagem da Cassini em agosto de 2014 deverá ser capaz de obter imagens desta área específica de Ligeia Mare e caçar ondas novamente.

Fontes

Nature: First hints of waves on Titan’s seas

Abstract e imagens do artigo científico

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