KOI-730: astrônomos descobrem em dados do Kepler um par de exoplanetas que residem na mesma órbita da sua estrela

Impressão artística da estrela KOI 730 e seus exoplanetas “co-orbitantes”

Escondido dentro da enxurrada de informações capturadas pelo observatório espacial de busca por exoplanetas Kepler descobriu-se um sistema exoplanetário com características inéditas! As evidências sugerem que dois dos seus exoplanetas compartilham a mesma órbita em torno da sua estrela. Se a descoberta for ratificada, esta apóia a teoria de que a Terra já partilhou sua órbita com um objeto planetário do tamanho de Marte o qual depois de algum tempo acabou por colidir com o nosso planeta, em evento cataclísmico que originou a Lua (o “big splash”).

Os dois exoplanetas peculiares “co-orbitantes” residem no sistema KOI-730 o qual hospeda quatro exoplanetas até agora detectados. Trata-se de uma estrela similar ao Sol. O par de exoplanetas gira em torno da sua estrela a cada 9,8 dias, exatamente na mesma distância orbital, um deles permanece cerca de 60 graus à frente do outro, formando praticamente um triângulo eqüilátero com a estrela. No céu noturno de cada exoplaneta, o outro mundo seria visto emanando uma luz constante, ou seja, seu brilho nunca diminui ou aumenta ao longo do tempo.

Exoplanetas habitam pontos de Lagrange estáveis

A física permite que certos “refúgios” gravitacionais que tornem esta configuração planetária possível. Quando um corpo (tal como um planeta) orbita outro muito mais massivo (uma estrela), coexistem dois pontos estáveis de Lagrange, ao longo da órbita do planeta, onde um terceiro corpo pode orbitar ‘pacificamente’. Estes se situam 60º graus para frente e 60º para trás do objeto menor. Por exemplo, um grupo de asteróides, denominados Troianos, situa-se nestes pontos ao longo da órbita de Júpiter em torno do Sol.

Os cincos pontos de Lagrange para o Sistema Terra x Sol. Os pontos L4 e L5 são estáveis e permitem hospedar objetos ‘co-orbitais’.

Em teoria, a matéria no disco de material em torno de uma estrela recém-nascida se agrega formando os assim denominados planetas “co-orbitantes”, mas até agora um cenário deste tipo nunca tinha sido detectado. “Sistemas como este são incomuns, dado que é a primeira vez que os observamos,” afirmou Jack Lissauer do Centro de Pesquisa AMES da NASA em Mountain View, Califórnia, EUA. Lissauer e colegas descreveram o sistema KOI-730 em artigo (Architecture and Dynamics of Kepler’s Candidate Multiple Transiting Planet Systems) publicado no Astrophysical Journal.

A formação da Lua

Richard Gott e Edward Belbruno da Universidade de Princeton afirmam que até podemos ter evidências do fenômeno no nosso próprio “quintal cósmico.” Pensa-se que a Lua tenha sido formada cerca de 50 milhões de anos após o nascimento do Sistema Solar, a partir dos detritos de uma colisão entre um corpo com o tamanho de Marte e a Terra. As simulações sugerem que este corpo, denominado Théia, deve ter colidido com a Terra em baixa velocidade. De acordo com Gott e Belbruno, isto só pode ter acontecido se Théia residia inicialmente em ponto de Lagrange, atrás ou à frente na órbita da Terra. Esta nova descoberta “demonstra que este gênero de eventos antes imaginados podem efetivamente acontecer,” exclamou Gott.

Será que os exoplanetas “co-orbitantes” de KOI-730 vão se agregar e formar uma lua no futuro? “Isso seria espetacular,” disse Gott. No entanto, as simulações feitas por Bob Vanderbei da Universidade de Princeton, sugerem que os exoplanetas vão continuar a orbitar em sincronia pelo menos durante os próximos 2,22 milhões de anos.

Fonte

New Scientist: Two planets found sharing one orbit

Artigo Científico

ArXiv.org: Architecture and Dynamics of Kepler’s Candidate Multiple Transiting Planet Systems

._._.

5 comentários

Pular para o formulário de comentário

  1. Bom dia ROCA que ferias longas eim? To brincando.
    Cara fantastico post, e mais segundo astronomos, esse tipo de ocorrencia é mais normal do que se imaginara, dados demonstram que Jupiter e também Netuno engoliram um planeta que estaria orbitando onde eles se encontram hoje. Eu tenho uma teoria sobre Venus e que acredito eu que o Planeta Mercurio teria sido o Satelite Natural de Venus mas conforme a força de impacto pode ter sido a causa da inversão da rotação de Venuse mercurio ter sido arremessado para sua orbita atual, mas como eu disse é apenas uma teoria minha.
    Outro fator para qual pode causar a colisão destes corpos do KOI-730, pode ser o afastamento do planeta em relação a sua estrela como ocorre no Sistema Solar.
    Um grande abraço a todos.

  2. Mas, se os exoplanetas estão quase que exatamente a 60° um do outro, eles estão em perfeita sincronia. Como eles poderiam se colidir nessa condições?

    É ótimo ver o site “no ar” novamente!!!

      • ROCA em 04/03/2011 às 14:37
        Autor

      Juliano,

      Boa pergunta!

      Respondendo: o problema é que no sistema não existem somente a estrela e estes dois exoplanetas na mesma órbita. Os demais exoplanetas nas outras órbitas contribuem para perturbar este equilíbrio e ao longo do tempo podem provocar o afastamento de um ou ambos os objetos de seu equilíbrio nos pontos de Lagrange acima citados. Tal perturbação dos outros exoplanetas poderá trazer desvios que poderão eventualmente resultar em um choque cataclísmico, como aconteceu entre a Terra e Theia, há 4,5 bilhões de anos.

  3. Opa! Ótimo post, que bom que o site voltou a ativa.

      • ROCA em 03/03/2011 às 17:28
        Autor

      Estamos de volta depois de boas férias. abraços!

Deixe uma resposta para Juliano Cancelar resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

error: Esse blog é protegido!