Mais de um-terço de Marte foi coberto por oceanos?

Há 3,5 bilhões de anos um vasto oceano cobria mais de um-terço da superfície de Marte

Novos estudos sugerem que no passado distante o Planeta Vermelho possuiu um ciclo hidrológico similar ao da Terra, com precipitações, fluxos d’água, formação de nuvens de vapor d’água, geleiras e acumulação de água em lagos e mares.

Este mapa ilustra como Marte se parecia há 3,5 bilhões de anos quando um vasto oceano cobria cerca de 36% da superfície do Planeta Vermelho, conforme o levantamento realizado pela Universidade do Colorado em Boulder a partir das informações das sondas orbitais em Marte. Crédito:Universidade do Colorado - Boulder - EUA

Este mapa ilustra como Marte se parecia há 3,5 bilhões de anos quando um vasto oceano cobria cerca de 36% da superfície do Planeta Vermelho, conforme o levantamento realizado pela Universidade do Colorado em Boulder a partir das informações das sondas orbitais em Marte. Crédito:Universidade do Colorado – Boulder – EUA

 

Como os cientistas chegaram a essa conclusão?

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Um vasto oceano provavelmente cobriu mais de um – terço da superfície marciana há 3,5 bilhões de anos, conforme as análises de cientistas da Universidade do Colorado em Boulder (CU-Boulder) indicam.

O novo estudo é o primeiro a combinar a um largo conjunto de características hidrológicas, tais como sedimentos depositados em deltas e milhares de vales com potencial associação a rios, a fim de testar a ocorrência de oceano sustentado por uma hidrosfera global no Marte primordial. Esta idéia não é nova, a suposta noção da existência de um vasto e antigo oceano marciano tem sido repetidamente proposta e desafiada nas últimas duas décadas. Recentemente, em 2010, outro estudo da USGS propôs a existência de lagos no pólo sul marciano (Hellas Basin), que pode ser lido aqui.

Agora um novo estudo fornece suporte para a idéia da existência de um mar sustentável no Planeta Vermelho durante a ‘era de Noé’ (Noachian Era – 4,6 a 3,5 bilhões de anos atrás), explicou Gaetano Di Achille, cientista da CU-Boulder.

HiRISE ESP_012610_1560 - Possível transição de lago para um delta na cratera Eberswalde. Crédito: HiRISE

HiRISE ESP_012610_1560 – Possível transição de lago para um delta na cratera Eberswalde. Crédito: HiRISE

29 dos 52 deltas alimentavam o oceano

Mais da metade dos 52 depósitos de sedimentos em deltas de rios identificados pelos pesquisadores da CU-Boulder nesta análise, cada qual alimentado por numerosos vales gerados por rios, claramente marcaram as fronteiras do proposto oceano, uma vez que os deltas se encontram na mesma elevação. Destes, 29 deltas estiveram conectados com o oceano marciano ou com os diversos lagos adjacentes, disse Di Achille.

Este trabalho foi o primeiro a integrar múltiplos conjuntos de deltas, redes de vales fluviais e a topografia exaustivamente levantada pelas missões orbitais em Marte da NASA e ESA desde 2001, disse Brian Hynek, cientista da CU-Boulder. O quadro implica que Marte primordial tinha um ciclo hidrológico global similar ao da Terra, com precipitações, fluxos d’água, formação de nuvens de vapor d’água, geleiras e acumulação de água em lagos e mares, afirmou Hynek.

Di Achille and Hynek usaram um sistema geográfico de informação para mapear a superfície marciana e concluir que um vasto oceano teria coberto cerca de 36% do planeta, contendo aproximadamente 124 milhões de quilômetros cúbicos de água. A quantidade de água neste antigo oceano equivaleria a uma camada média de 550 metros de profundidade se espalhada sobre todo o planeta.

No entanto, o volume do antigo oceano marciano teria sido apenas um décimo do atual volume dos oceanos na Terra, disse Hynek (Marte tem um diâmetro pouco maior da metade do diâmetro terrestre).

As elevações dos deltas nas bordas das áreas oceânicas estão consistentemente niveladas em todo o planeta, disse Di Achille. Além disso, provavelmente, os lagos antigos se formaram dentro de grandes crateras de impacto que devem ter sido preenchidas pelo transporte da água do solo pelos fluxos d’água até os antigo oceanos, de acordo com os cientistas.

O estudo sobre o oceano de Marte foi publicado na revista Nature Geoscience, em 13 de junho de 2010, com o título: “Ancient ocean on Mars supported by global distribution of deltas and valleys”.

HiRISE PSP_009474_1705: evidências de minerais originados pela presença da água em Noctis Labyrinthus

HiRISE PSP_009474_1705: evidências de minerais originados pela presença da água em Noctis Labyrinthus

 

40.000 fluxos d’água

Um segundo estudo sobre a hidrografia marciana, liderado por Hynek, detectou em torno de 40.000 vales de fluxos d’água em Marte. É importante ressaltar que este número é cerca de 4 vezes superior aos levantamentos anteriores, afirmou Hynek.

As bacias hidrográficas representavam a fonte dos sedimentos carregados pelas águas fluviais até os deltas que abasteciam o proposto oceano, disse Hynek. Por outro lado, “a abundância de vales associados aos fluxos d’água necessitariam de uma significativa quantidade de precipitação”, completou Hynek. “Isto põe definitivamente um fim nas discussões sobre a presença de chuva no Marte primordial”. Hynek disse que um a presença de um oceano era requerida para fornecer a água necessária ao ciclo de precipitações.

“Estes resultados suportam as teorias existentes que sugerem quando e como se deu a formação dos antigos oceanos em Marte e explicam as condições que permitiram a ocorrência de uma ativa hidrosfera integrada com redes fluviais, deltas, lagos, lagoas e um vasto oceano como componentes principais de um ciclo hidrológico semelhante ao da Terra”, afirmaram Di Achille e Hynek.

“Uma das principais questões nós gostaríamos de responder é para onde a água existente em Marte se foi”, disse Di Achille. Esperamos que as futuras missões a Marte ajudem-nos a responder tais questões e forneçam vislumbres da história da água marciana. Di Achille aproveitou e mencionou a nova missão Mars Atmosphere and Volatile Evolution da NASA com orçamento de 485 milhões de dólares, a ser liderada pela CU-Boulter, cujo lançamento está planejado para 2013.

Os deltas em Marte são de grande interesse para os cientistas planetários porque aqui na Terra estes são depósitos de carbono orgânico e outros biomarcadores. Assim, os deltas marcianos serão um futuro alvo de exploração de novas na busca de evidências da existência passada da vida em Marte. A maioria dos exobiólogos acredita que quaisquer indícios da vida a descobrir se apresentarão como formas de microorganismos sub-superficiais.

“Na Terra, os deltas e lagos são excelentes coletores e agentes de preservação dos sinais da vida pré-histórica”, lembrou Di Achille. “Se a vida porventura floresceu em Marte, os deltas podem ser os locais chave para desvendarmos o passado biológico de Marte”.

Hynek enfatiza que os oceanos de longa duração podem ter hospedado a vida microbiana no remoto passado marciano.

Fontes

AstroPT: Oceano em Marte

Nature Geoscience: Ancient ocean on Mars supported by global distribution of deltas and valleys

CU-Boulder: New CU-Boulder Study Indicates an Ancient Ocean May Have Covered One-Third of Mars

Astronomy.com: New study indicates an ancient ocean may have covered one-third of Mars

Universe Today:

USGS: Geologic Map of MTM –40277, –45277, –40272, and –45272 Quadrangles, Eastern Hellas Planitia Region of Mars

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1 comentário

4 menções

  1. Parabéns pelo site! Você escreve e explica muito bem!

  1. […] a maioria das pessoas fala sobre a água em Marte, elas são geralmente falando da água do passado remoto ou da água congelada no planeta vermelho. Agora sabemos que há mais nessa história. Esta é a […]

  2. […] Mais de um-terço de Marte foi coberto por oceanos? […]

  3. […] Fossae já é de interesse científico porque a crosta na região data de uma época quando Marte era um lugar muito úmido. A região também é rica do que parecem ser fraturas antigas hidrotermais, aberturas quentes que […]

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