VISTA: Nebulosa de Órion analisada no infravermelho

O VISTA revela ejeções de matéria em alta velocidade a partir de estrelas jovens

http://www.eso.org/public/images/eso1006a/

Imagem no infravermelho da Nebulosa de Órion obtida com o VISTA. Crédito: ESO/J. Emerson/VISTA/Cambridge Astronomical Survey Unit

A nebulosa de Órion nos revela muitos de seus segredos, em uma imagem extraordinária obtida pelo VISTA, o novo telescópio de rastreamento do ESO (European Southern Observatory). O grande campo de visão do telescópio possibilita a observação da nebulosa em todo o seu esplendor enquanto que a visão infravermelha do VISTA permite-nos perscrutar profundamente regiões de poeira que se encontram geralmente invisíveis, e onde podemos observar o comportamento de estrelas jovens muito ativas que lá residem.

http://www.eso.org/public/images/eso1006b/

Recortes da imagem no infravermelho da Nebulosa de Órion obtida com o VISTA. Crédito: ESO/J. Emerson/VISTA/Cambridge Astronomical Survey Unit

O VISTA — the Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomyé a mais recente adição ao Observatório do Paranal do ESO. Trata-se do maior telescópio de rastreamento do mundo e dedica-se a mapear o céu nos comprimentos de onda do infravermelho. Seu enorme espelho (4,1 metros), largo campo de visão e detectores extremamente sensíveis fazem do VISTA um instrumento singular. Agora, esta imagem da Nebulosa de Órion fornecida pelo VISTA ilustra bem sua extraordinária capacidade de investigação, além da luz visível.

A Nebulosa de Órion [1] é um vasto berçário estelar que reside a cerca de 1.350 anos-luz de distância da Terra.  Embora esta nebulosa seja considerada belíssima quando observada de um telescópio normal, o que conseguimos ver na radiação visível é apenas uma pequena parte desta nuvem de gás onde abundam estrelas em formação.

Comparação visível (à esquerda, imagem capturada por Robert Gendler) e infravermelho (à direita, pelo VISTA) da imagem completa da Nebulosa de Órion. Crédito: ESO/J. Emerson/VISTA & R. Gendler/Cambridge Astronomical Survey Unit

Comparação visível (à esquerda, imagem capturada por Robert Gendler) e infravermelho (à direita, pelo VISTA) da imagem completa da Nebulosa de Órion. Crédito: ESO/J. Emerson/VISTA & R. Gendler/Cambridge Astronomical Survey Unit

A maior parte da atividade frenética desta nebulosa acontece no interior das nuvens de gás e poeira e por isto permanece obscurecida. Para efetivamente descobrirmos o que realmente está escondido é necessário o uso de telescópios com detectores sensíveis à radiação na faixa do infravermelho (em maiores comprimentos de onda que a luz visível), capaz de penetrar a poeira. Agora, o VISTA capturou imagens da Nebulosa de Órion mostrando-a em comprimentos de onda duas vezes maiores do que as visíveis pelos nossos olhos.

Da mesma forma que nas diversas imagem antigas da nebulosa de Órion, na luz visível, podemos vislumbrar a familiar forma de morcego da nebulosa. No centro desta área surgem as quatro estrelas brilhantes que formam um Trapézio, conjunto de jovens estrelas massivas bem quentes que emitem fortemente a radiação ultravioleta, a qual limpa a zona circundante e excita o gás interestelar, fazendo-o brilhar. No entanto, a observação no espectro do infravermelho permite ao VISTA nos revelar outras estrelas jovens nesta região central, as quais jamais seriam vistas através dos telescópios tradicionais óticos.

Comparação infravermelho/visível de um recorte da imagem da Nebulosa de Órion obtida com o VISTA. O painel esquerdo mostra uma região de poeira da Nebulosa de Órion na luz visível (imagem capturada por Robert Gendler). No painel direito temos a visão equivalente no espectro infravermelho. Observando em infravermelho, novas caracteríticas são reveladas, incluindo jovens estrelas massivas e quentes e seus jatos explosivos de matéria em alta velocidade. Crédito: ESO/J. Emerson/VISTA & R. Gendler/Cambridge Astronomical Survey Unit

Comparação infravermelho/visível de um recorte da imagem da Nebulosa de Órion obtida com o VISTA. O painel esquerdo mostra uma região de poeira da Nebulosa de Órion na luz visível (imagem capturada por Robert Gendler). No painel direito temos a visão equivalente no espectro infravermelho. Observando em infravermelho, novas caracteríticas são reveladas, incluindo jovens estrelas massivas e quentes e seus jatos explosivos de matéria em alta velocidade. Crédito: ESO/J. Emerson/VISTA & R. Gendler/Cambridge Astronomical Survey Unit

Estruturas avermelhadas revelam estrelas em formação

Observando a região imediatamente acima do centro da imagem, vemos curiosas estruturas vermelhas, completamente invisíveis em outras faixas de freqüência do espectro luminoso. Muitas destas estruturas estão associadas a estrelas bastante jovens que se encontram ainda em desenvolvimento e podem ser observadas entre as nuvens de poeira que fornecem a matéria prima de sua formação. Estas estrelas jovens expulsam jactos de gás com velocidades típicas de 700.000 km/hora (~195 km/s) e muitas dessas manchas avermelhadas marcam os locais onde estes jatos de gás colidem com a matéria circundante, provocando a emissão de radiação causada pela excitação das moléculas e átomos envolvidos no fenômeno. Também são notadas algumas estruturas vermelhas mais tênues, embaixo da Nebulosa de Órion, que mostram que também aí existem estrelas em formação, embora de modo bem menos intenso. Estas estruturas incomuns são objetos interessantes para um melhor entendimento sobre o nascimento e desenvolvimento estelar.

A imagem de Órion mostra a capacidade do telescópio VISTA na captura de imagens de grandes regiões do céu através do espectro infravermelho. O ESO alocou o telescópio VISTA em uma nova missão de mapeamento do céu e os astrônomos prevêem uma rica coleta científica de novos dados a partir desta nova infraestrutura do ESO.

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A nebulosa de Órion

 

[1] A Nebulosa de Órion encontra-se na espada do famoso caçador celeste e é um alvo favorito tanto para os observadores casuais do céu como para os astrofísicos. É visível, embora bastante tênue, a olho nu e aos primeiros observadores com telescópio apareceu como um pequeno agrupamento de estrelas branco-azuladas cercadas por uma misteriosa névoa verde acinzentada. A nebulosa foi descoberta no princípio do século XVII embora a identidade do descobridor seja desconhecida. Em meados do século XVIII Messier, famoso caçador de cometas francês, fez um desenho apurado das suas estruturas principais e atribuiu-lhe o número M42 no seu famoso catálogo. Atribuiu igualmente o número M43 à pequena região separada situada por cima da parte principal da nebulosa. Mais tarde, William Herschel especulou que a nebulosa poderia ser “material caótico de futuros sóis” e os astrônomos descobriram posteriormente que a névoa é, efetivamente, gás que brilha sob o efeito da poderosa radiação ultravioleta emitida por estrelas massivas quentes e jovens formadas recentemente no local.

A constelação de Órion onde inserimos os nomes das estrelas e nebulosas. A M42 é a nebulosa de Órion que o VISTA fotografou.

A constelação de Órion onde inserimos os nomes das estrelas e a nebulosa M42, que é a nebulosa de Órion que o VISTA fotografou. Crédito ©: John Gauvreau

Fontes

Universe Today: New VISTA of Orion

Science Daily: Orion in a New Light

Space.com: New Image Penetrates Heart of Orion Nebula

ESO: Orion in a New Light

._._.

7 comentários

3 menções

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  1. Sou estudante de ciências na USP, cada vez fico mais curiosa e empolgada, muito bem escrito, bem detalhado, tem me ajudado muito, só me faz gostar mais de astronomia!!!

    • Marisa Chillemi em 27/05/2010 às 22:26
    • Responder

    Sou professora de Ciências e Biologia, estou desenvolvendo um Projeto em minha escola em Camboriu/SC de Astronomia para iniciantes – Para gostar de astronomia , é incrível como é útil o material que vcs fornecem para nós leigos , mais maravilhoso ainda é contar a lenda de Órion e dizer-lhes que seu cinturão é as 3 marias (que tem nomes diferentes) pronto os olhos de meus alunos começam a brilhar como as constelações, é uma comunidade carente mas prova que não podemos negar o conhecimento e repassar isso , MUITO OBRIGADA.

      • ROCA em 27/05/2010 às 23:22
        Autor

      É uma honra termos leitores como você, Marisa.

    • nedson destefani em 13/04/2010 às 12:38
    • Responder

    li que a nebulosa tem a forma de morcego isso é vero? eu observo esta nebulosa faz mais de 15 anos, lá pude ver a forma de um rosto vermelho em cujo ombro direito está um dragão vermelho, no meio dela logo abaixo visualizei um cão parecido com o BANDIT, tem um porco acima do cão, logo abaixo do cão tem um crocodilo.
    Essas imagens reforçam que algo bem estranho está em orion a biblia fala de orion 3 vezes, afirmando que YHWH o deus dos judeus tras a desgraça e muda o dia em noite, e fala para procurar quem fez o orion, é isso ai mais ou menos, tu já viste isso? nedson@sma.prefpoa.com.br

      • ROCA em 18/04/2010 às 11:58
        Autor

      Nedson,

      Sim, o morcego cósmico é a NGC 1788.

      Leia isso em “ESO revela o Morcego Cósmico na Constelação de Órion

    • zulma sturmer em 22/02/2010 às 10:18
    • Responder

    Sou artista plastica, e por uma coincidência pintei uma tela que é a simbologia da Nebulosa de Orion. O que impressionou-me é que ñ conhecia o desenho desta nebulosa anteriormente; chamou-me a atenção por ser o mesmo desenho.
    Zulma

  2. Excelente blog. O conteúdo é muito bom mesmo.

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