A procura do Planeta X: poderá um mundo do tamanho da Terra estar orbitando no Sistema Solar Exterior?

Concepção artística de Sedna (NASA). Corpos massivos, como Sedna, orbitam além da órbita de Plutão.

Concepção artística de Sedna (NASA). Corpos massivos, como Sedna, orbitam além da órbita de Plutão.

Alguns astrônomos especulam que talvez exista um planeta do tamanho de Marte ou da Terra poderia estar espreitando nos limites de nosso Sistema Solar. No entanto, até os mais avançados telescópios espaciais lançados em 2009 têm poucas possibilidades de encontrar um objeto em tais distâncias.

Um mundo como esse, se porventura existir, teria possivelmente uma órbita muito além de Plutão ou dos planetas anões similares no que orbitam no Sistema Solar exterior. Provavelmente seria um mundo que nos lembraria uma versão criogênica de Marte ou a Terra, no melhor caso, um lugar inadequado para a existência da vida como a conhecemos. Além disso, este corpo não estaria solitário.

“Quando nós formos escrever a história definitiva do Sistema Solar, é muito mais provável que existam cerca dos 900 planetas a mais que os clássicos 9 planetas com os quais crescemos sabendo”, disse Alan Stern, cientista planetário, eleito em 2007 entre as 100 pessoas mais influentes no mundo segundo a revista Times.

Essa pintura mostra o planeta-anão Éris, também conhecido como 2003UB313 que habita os confins do nosso sistema Solar. O Sol pode ser visto bem distante. Éris é maior e  mais massivo que Plutão e orbita a uma distância 3 vezes mais distante do Sol. A descoberta de Éris provocou a revisão da categorização dos objetos do sistema Solar que culminou no rebaixamento de Plutão (Imagem: R Hurt (SSC/Caltech) / JPL-Caltech / NASA).

Essa pintura mostra o planeta-anão Éris, também conhecido como 2003UB313 que habita os confins do nosso sistema Solar. O Sol pode ser visto bem distante. Éris é maior e mais massivo que Plutão e orbita a uma distância 3 vezes mais distante do Sol. A descoberta de Éris provocou a revisão da categorização dos objetos do sistema Solar que culminou no rebaixamento de Plutão (Imagem: R Hurt (SSC/Caltech) / JPL-Caltech / NASA).

No entanto, apenas uma pequena parte destes potenciais descobrimentos poderia alcançar o tamanho da Terra, em comparação com o enxame de corpos do tamanho de Plutão ou de Éris que Stern e outros astrônomos esperam encontrar.

Cada objeto – seja um planeta, planeta anão ou outro tipo de objeto – serviria como uma cápsula do tempo congelada que poderia revelar muito sobre a evolução inicial do Sistema Solar. Poderia até forçar a os cientistas a repensar a definição de planeta, tendo em vista a controvertida degradação de Plutão à categoria dos planetas anões.

Além do Cinturão de Kuiper

A desclassificação de Plutão da categoria ‘planeta’ foi provocada em parte pela descoberta de um número de objetos planetários menores no Sistema Solar exterior. Os planetas anões como Éris, Makemake e Haumea ocupam uma abarrotada região gelada mais além de Netuno conhecida como o Cinturão de Kuiper. Mas não tem aparecido um planeta do tamanho de Marte o a Terra nessa região do sistema Solar.

“Para o Cinturão de Kuiper, já podemos afirmar com segurança que não há nada do tamanho de Marte ou da Terra, uma vez que seus efeitos dinâmicos seriam facilmente visíveis”, disse Mike Brown, astrônomo da Caltech que liderou equipes que descobriram Éris e outros objetos trans netunianos.

Michael E. Brown

Um dos mais antigos candidatos a planeta anão descobertos por Brown, Sedna, ocupa uma estranha órbita elíptica entre o Cinturão de Kuiper e a mais distante Nuvem de Oort — um possível sinal de uma influência gravitacional de outro mundo tão grande como a Terra, segundo sugeriram alguns astrônomos. Mas Brown suspeita que um objeto tão grande já teria forçosamente sido observado no cinturão de Kuiper.

Brown e Stern dizem que a Nuvem de Oort representa um local mais provável para mundos do tamanho da Terra ou de Marte. A Nuvem de Oort rodeia nosso Sistema Solar com bilhões de corpos gelados em distâncias de 50.000 vezes a que separa do Sol da Terra.

Michael Brown sugere que:

Quando inspecionarmos além do Cinturão de Kuiper, na região de Sedna ou a Nuvem de Oort, sempre pode haver objetos escondidos, se estiverem ainda mais distantes.

Como é que eles chegaram lá?

Brown comenta que se porventura no futuro descobrirmos objetos maiores (tipo Marte ou Terra) no Sistema Solar exterior, tal achado poderá sugerir que os cientistas possuem uma idéia equivocada de como se formam os planetas ou que o Sistema Solar inicial teria mais matéria disponível do que estimamos anteriormente.

“Todavia, mais interessante para mim, é que este novo objeto faria parte de uma classe completamente nova de corpos de grande tamanho”, disse Brown. “Não temos corpos de tamanho planetário ricos em gelo no Sistema Solar, assim, não sabemos efetivamente que aspecto estes objeto teriam e como funcionariam”.

Stern suporta há muito tempo a idéia da existência de muitos corpos do tamanho de planetas orbitando no Sistema Solar exterior. Ele se referiu aos modelos de simulação computacional que mostram como poderiam ter se formado planetas de tamanho médio durante a criação caótica de gigantes gasosos como Júpiter, quando escombros pequenos se acumularam para formar corpos maiores. Stern explica:

Os planetas gigantes limparam gravitacionalmente regiões entre eles, sendo cada um capaz de arremessar alguns planetas de tamanho médio e pequeno em direção das profundidades do Sistema Solar.

Éris e sua lua Dysnomia, à direita. Crédito R. Hurt/IPAC

Éris e sua lua Dysnomia, acima à direita. O Sol, diminuto, aparece à direita como a estrela mais brilhante. Crédito R. Hurt/IPAC

Defina o que é um ‘planeta’ para mim!

Novas descobertas de tais planetas de tamanho mediano ou pequeno, que hipoteticamente residem nos confins do Sistema Solar, provocariam renovadas dúvidas a respeito das regras criadas pela União Astronômica Internacional (UAI) em 2006. Stern tem criticado severamente a decisão da UAI, a qual discriminou Plutão por causa da sua localização no Sistema Solar, uma vez que Plutão não limpou sua órbita.

“A UAI está lentamente começando a compreender que cometeu um grave erro”, afirmou Stern. Ele prevê que a organização irá revogar sua decisão de 2006 se surgirem novas descobertas de objetos com dimensões planetárias no futuro.

Por outro lado Mike Brown considera a decisão da UAI como uma “definição muito clara” que tem efetiva utilidade científica. Mas Brown também reconhece as prováveis complicações se ocorrerem possíveis descobertas de planetas no Sistema Solar exterior do tamanho de Marte o a Terra. Mike Brown especula:

Parece óbvio que se descobrirmos algo do tamanho da Terra, todo mundo iria chamá-lo de planetaE assim, voltaríamos à prancheta de desenho, infelizmente.

Uma questão de quando vai acontecer…

A proposta de planetas maiores longínquos pode ter que esperar até que melhore a detecção científica. Stern comparou a busca com os atuais telescópios espaciais a “olhar o céu através de um canudinho de refrigerante”, uma vez que a maior parte dos telescópios tem uma visão extremadamente estreita do céu. Até mesmo os telescópios mais poderosos só conseguem observar diretamente objetos das dimensões de um planeta como a Terra ou Marte em até cerca de 10 vezes a distância de Plutão.

Dimensões do Sistema Solar até a nuvem de Oort

Dimensões do Sistema Solar desde a região planetária até a nuvem de Oort

Agora, a nova sonda WISE da NASA trás alguma potencial possibilidade de vislumbrar um planeta em primeiro plano através do estudo infravermelho de todo o céu, concordam Brown e Stern. Mas ambos também têm grandes esperanças no Grande Telescópio de Estudo Sinóptico, o qual deveria ser capaz de observar objetos do tamanho da Terra até 1.000 unidades astronômicas (UA), cerca de 20 vezes a distância máxima (afélio) de Plutão ao Sol (49,5 UA)

Esses 1.000 UA ainda são bem curtos em comparação com a vastidão da Nuvem de Oort, a qual ocupa uma região de dezenas de milhares de UA. Ainda assim, Stern sugere que a futura exploração espacial poderá até alcançar os irmãos longínquos da Terra — esta atitude de que “podemos fazê-lo” talvez reflita nos papéis dos pesquisadores encarregados da sonda New Horizons da NASA que vai investigar Plutão em julho de 2015.

Stern conclui:

A Nuvem de Oort é como o ‘Ártico do Sistema Solar’, com todo tipo de objetos por lá. Simplesmente nós ainda não temos uma escada bastante grande para subir e darmos uma olhada.

Fonte

Space.com: Earth-Sized World Could Lurk in Outer Solar System por Jeremy Hsu

._._.

3 comentários

9 menções

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  1. Muito bom o post!
    Você poderia fazer um post sobre os planetas externos e desconhecidos (Éris, Makemake, Haumea e etc…) pela maioria das pessoas. Mostrar que o sistema solar não é formado só pelos 8 planetas + 1 planeta anão.

    Seria muito interessante!

    Abraço.

    PS: É somente uma sugestão.

  2. Só para terem uma idéia da imensidão da Nuvem de Oort, o objeto mais distante já medido se chama 2006 SQ372, onde o seu afélio se estende em uma orbita de a
    2.140 UA e seu periélio a 24 UA, sendo que a Nuvem de Oort tem em torno de 100.000 a 200.000 UA, ou seja, dentro dessa imensidão, poderiamos sim descobrir objetos maiores que do tamanho de Marte ou a Terra.

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