ESO revela os segredos da “Caixa de Jóias” na constelação do Cruzeiro do Sul

O equipamento FORS1 do Very Large Telescope (VLT) no observatório do ESO no Monte Paranal foi usado para capturar esta imagem aguçada da colorida "Caixa de Jóias", o aglomerado estelar NGC 4755. Devido ao enorme espelho do VLT bastou ajustar o tempo de exposição de 'apenas' 2,6 segundos, através filtro azul (B), 1,3 via filtro amarelo/verde (V) e 1,3  segundos para o filtro vermelho (R). O campo de visão se espalha por 7 minutos de arco. Crédito: ESO

O equipamento FORS1 do Very Large Telescope (VLT) no observatório do ESO no Monte Paranal foi usado para capturar esta imagem aguçada da colorida “Caixa de Jóias”, o aglomerado estelar NGC 4755. Devido ao enorme espelho do VLT bastou ajustar o tempo de exposição de ‘apenas’ 2,6 segundos para o filtro azul (B), 1,3 segundos para o filtro amarelo/verde (V) e 1,3 segundos para o filtro vermelho (R). O campo de visão se espalha por 7 minutos de arco. Crédito: ESO

A combinação de imagens obtidas por três telescópios excepcionais, o Very Large Telescope do ESO, o telescópio de 2,2 metros MPG/ESO que se encontra no observatório de La Silla, do ESO, e o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, permitiu observar o aglomerado estelar chamado “Caixa de Jóias” sob uma inédita perspectiva.

Os aglomerados estelares estão entre os mais interessantes objetos que podemos observar no céu e também um dos mais fascinantes em termos astrofísicos. Um dos mais espetaculares encontra-se no céu do hemisfério sul, na constelação do Cruzeiro do Sul.

Esta imagem do NGC 4755 foi capturada pelo equipamento WFI do telescópio de 2,2 metros no observatório da ESO em La Silla, Chile. A foto destaca o aglomerado estelar e sua rica vizinhança multicolorida. O campo de visão é de 20 minutos de arco. A imagem foi composta de exposições usando os filtros B (azul), V (amarelo/verde) e R (vermelho). Crédito: ESO

Esta imagem do NGC 4755 foi capturada pelo equipamento WFI do telescópio de 2,2 metros no observatório da ESO em La Silla, Chile. A foto destaca o aglomerado estelar e sua rica vizinhança multicolorida. O campo de visão é de 20 minutos de arco. A imagem foi composta de exposições usando os filtros B (azul), V (amarelo/verde) e R (vermelho). Crédito: ESO

O aglomerado Kappa Crucis, também conhecido como NGC 4755, ou chamado simplesmente de “Caixa de Jóias” é suficientemente brilhante para o vermos a olho nu. O nome “Caixa de Jóias” veio por sugestão do astrônomo inglês John Herschel, que nos anos 30 do século XIX, o observou através de um telescópio e julgou o aglomerado estelar bem parecido com uma peça de joalharia exótica, devido aos seus marcantes contrastes de cor entre estrelas pálidas azuis e as estrelas alaranjadas.

Os aglomerados abertos [1], tais como NGC 4755, contêm usualmente milhares de estrelas, ligadas gravitacionalmente entre si. Tendo em vista que as estrelas se formaram todas praticamente ao mesmo tempo, a partir da mesma nuvem de gás e poeira, as suas idades e composições químicas são semelhantes e isto fornece aos cientistas perfeitos laboratórios para o estudo da evolução estelar.

Uma visão de campo largo da região em volta da NGC 4755 construída a partir da "Digitized Sky Survey 2": A estrela mais brilhante é Mimosa, uma das 4 estrelas do Cruzeiro do Sul. A área escura na parte inferior da imagem é a obscura nebulosa Saco de Carvão. Aqui o campo de visão é de 2,8 por 2,9 graus, ou seja, 40 vezes a área da Lua cheia. Crédito: ESO

Uma visão de campo largo da região em volta da NGC 4755 construída a partir da “Digitized Sky Survey 2”: A estrela mais brilhante é Mimosa, uma das 4 estrelas do Cruzeiro do Sul. A área escura na parte inferior da imagem é a obscura nebulosa Saco de Carvão. Aqui o campo de visão é de 2,8 por 2,9 graus, ou seja, 40 vezes a área da Lua cheia. Crédito: ESO

A posição do aglomerado entre campos ricos em estrelas e nuvens de poeira da Via Láctea austral é mostrada no amplo campo da imagem gerada a partir de dados do pesquisa Digitized Sky Survey 2. Esta imagem inclui também uma das estrelas do Cruzeiro do Sul e parte da imensa nebulosa obscura chamada Saco de Carvão [2].

A nova imagem, obtida com a Câmara de Campo Largo (Wide Field Imager – WFI) montada no telescópio de 2,2 metros MPG/ESO, no Observatório de La Silla do ESO, no Chile, mostra o aglomerado assim como a zona em seu redor, em todo o seu esplendor colorido. Com o grande campo de visão do WFI podemos observar um grande número de estrelas. Muitas estão situadas por trás de nuvens de poeira da Via Láctea e por isso aparecem vermelhas [3].

Através do instrumento FORS1 do Very Large Telescope do ESO (VLT) conseguimos observar o aglomerado Kappa Crucis em maior nível de detalhes. O enorme espelho do telescópio VLT e a qualidade de imagem se combinam para dar origem a uma imagem muito nítida, apesar do tempo de exposição total de apenas 5 segundos. Esta imagem é uma das melhores já obtidas da “Caixa de Jóias”, a partir da superfície terrestre.

Esta imagem é um "close-up" da "Caixa de Jóias" (NGC 4755) fotografado pelo telescópio espacial Hubble da NASA/ESA. Aqui se destacam várias estrelas luminosas supergigantes azuis junto com uma singela supergitante vermelho-rubi e uma pletora de estrelas coloridas. Também vemos estrelas tênues com cores diversas. A diversidade de brilhos deste aglomerado estelar é justificada pela presença de massivas estrelas (15 a 20 vezes a massa solar) agrupadas com diminutas anãs vermelhas (em torno de 0,5 vezes a massa do Sol, ou menos). Nesta imagem o Hubble captou a radiação luminosa desde o ultravioleta até o infravermelho. Crédito: NASA/ESA/Hubble Space Telescope

Esta imagem é um “close-up” da “Caixa de Jóias” (NGC 4755) fotografado pelo telescópio espacial Hubble da NASA/ESA. Aqui se destacam várias estrelas luminosas supergigantes azuis junto com uma singela supergitante vermelho-rubi e uma pletora de estrelas coloridas. Também vemos estrelas tênues com cores diversas. A diversidade de brilhos deste aglomerado estelar é justificada pela presença de massivas estrelas (15 a 20 vezes a massa solar) agrupadas com diminutas anãs vermelhas (em torno de 0,5 vezes a massa do Sol, ou menos). Nesta imagem o Hubble captou a radiação luminosa desde o ultravioleta até o infravermelho. Crédito: NASA/ESA/Hubble Space Telescope

A “Caixa de Jóias” se mostra muito colorida em imagens obtidas no espectro da luz visível, a partir da Terra. No entanto, se observada a partir do espaço, com o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, podemos captar radiação em comprimentos de onda mais curtos dos que os observados a partir do solo. Esta nova imagem do Hubble, do centro do aglomerado, representa a primeira imagem de um aglomerado estelar aberto que cobre o espectro eletromagnético deste o ultravioleta longínquo ao infravermelho próximo. Esta visão foi criada a partir de imagens obtidas em sete filtros, permitindo aos observadores notar detalhes até hoje nunca vistos. As fotos foram capturadas no final da longa vida da Wide Field Planetary Camera 2 – a câmara do Hubble mais utilizada até à recente Missão de Serviço, durante a qual foi desmontada e trazida de volta à Terra. São visíveis nesta imagem várias estrelas supergigantes muito brilhantes na cor azul pálida, uma solitária estrela supergigante vermelha rubi, e muitas outras estrelas menos brilhantes. As intrigantes cores de muitas destas estrelas resultam da emissão de intensidades diferentes de radiação em diferentes comprimentos de onda do ultravioleta.

A grande variedade em brilho das estrelas no aglomerado deve-se ao fato das mais brilhantes terem 15 a 20 vezes (as gigantes azuis) a massa solar, enquanto as mais tênues têm menos de metade (as anãs vermelhas) da massa solar. As estrelas de maior massa brilham mais intensamente e também envelhecem muito rápido tornando-se estrelas gigantes vermelhas muito mais depressa que as suas irmãs menos brilhantes e de menor massa.

O aglomerado da “Caixa de Jóias” encontra-se a cerca de 6.400 anos-luz de distância da Terra e tem a idade de ‘apenas’ 16 milhões de anos.

Mosaico mostra sequencialmente um zoom da "Caixa de Jóias" partindo de uma fotogravida de uma câmera de 35 mm passando pela Digitized Sky Survey 2, pelo telescópio de 2,2 metros de La Silla, pelo VLT e finalmente um "close-up" capturado pelo Hubble.

O mosaico mostra sequencialmente um zoom da “Caixa de Jóias” partindo de uma fotografia tomada por uma câmera de 35 mm passando pela Digitized Sky Survey 2, pelo telescópio de 2,2 metros de La Silla, pelo VLT e finalmente um “close-up” capturado pelo Hubble. Créditos: ESO e NASA/ESA/Hubble

Notas

[1] Os aglomerados estelares abertos ou galácticos não devem ser confundidos com os aglomerados globulares – enormes bolas de dezenas de milhar de estrelas velhas que orbitam a nossa Galáxia e outras galáxias. Os astrônomos estimam que a maior parte das estrelas, incluindo o nosso Sol, se formaram em aglomerados abertos.

[2] O Saco de Carvão é uma nebulosa escura no hemisfério sul, próxima do Cruzeiro do Sul, que pode ser observada a olho nu. Uma nebulosa escura não é a completa ausência de luz, é apenas uma nuvem interestelar de densa poeira cósmica que absorve a maior parte da radiação luminosa visível.

[3] Se a radiação de uma estrela distante atravessar nuvens de poeira no espaço, a radiação azul é mais facilmente dispersada que a vermelha. Como resultado, a radiação estelar emitida é mais vermelha quando chega a Terra. É igualmente este efeito que origina as magníficas cores vermelhas ao olharmos o pôr-do-sol terrestre.

Fonte

ESO: Opening up a Colourful Cosmic Jewel Box

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