Se fossemos obrigados a desocupar a Terra, para onde iríamos?

A habitabilidade no Sistema Solar. Crédito: UPR Arecibo, NASA PhotoJournal

A habitabilidade no Sistema Solar. Crédito: UPR Arecibo, NASA PhotoJournal

Se os seres humanos fossem obrigados a desocupar a Terra, onde seria o próximo lugar em nosso Sistema Solar para nós vivermos melhor? Um estudo da Universidade de Porto Rico em Arecibo proporcionou uma avaliação quantitativa da habitabilidade para identificar os habitats potenciais em nosso Sistema Solar. O Professor Abel Mendez, que produziu o estudo, também analisou a forma como a habitabilidade da Terra mudou no passado, e constatou que em alguns períodos a habitabilidade da Terra foi até mesmo melhor do que hoje.

Mendez desenvolveu a Quantitative Habitability Theory para avaliar o estado atual de habitabilidade terrestre e estabelecer uma base para comparações relevantes com o passado, com cenários climáticos futuros e outros corpos planetários, incluindo planetas extra-solares.

“É surpreendente que não há acordo sobre uma definição quantitativa de habitabilidade”, disse Mendez, que é um biofísico. “Há bem estabelecidas medidas de habitabilidade em ecologia desde os anos 70, mas apenas alguns estudos recentes têm proposto alternativas melhores para o campo de astrobiologia, que é mais orientado para a vida microbiana. No entanto, nenhuma das alternativas existentes nos campos da ecologia para astrobiologia demonstrou uma abordagem prática em escala planetária.”

Sua teoria é baseada em dois parâmetros biofísicos: a habitabilidade (H), como uma medida relativa do potencial para a vida de um ambiente, e a qualidade do habitat e da habitação (M), como uma medida relativa da biodensidade, ou habitação. Dentro dos parâmetros fisiológicos e ambientais estão as variáveis que podem ser usados para fazer previsões sobre a distribuição e abundância de alimento em potencial (ambas para plantas e para vida microbiana), o ambiente e o clima.

A imagem acima mostra uma comparação do espaço potencial habitável disponível na Terra, Marte, Europa, Titã e Enceladus. As áreas verdes representam o volume global com o ambiente físico certo para a maioria dos microrganismos terrestres. Na Terra, a biosfera inclui partes da atmosfera, oceanos e a subsuperfície. Os potenciais habitats globais dos outros corpos planetários estão abaixo de suas superfícies.

Mosaico da lua Enceladus a partir de imagens obtidas pela sonda Cassini

Mosaico da lua Enceladus a partir de imagens obtidas pela sonda Cassini

Enceladus: a maior média de habitabilidade

Enceladus tem o menor volume, mas o maior habitat em relação ao tamanho do planeta seguido por Europa. Surpreendentemente, Enceladus também tem a maior média de habitabilidade do Sistema Solar, embora seja o mais distante do Sol e da Terra, tornando mais difícil para se chegar. Mendez disse que Marte e Europa seriam a melhor harmonia entre potencial para a vida e acessibilidade.

“Vários modelos planetários foram utilizados para calcular e comparar a habitabilidade de Marte, Vênus, Europa, Titã e Enceladus“, disse Mendez. “Interessante, Enceladus resultou como o objeto com o maior habitabilidade de subsolo no Sistema Solar, mas é um subsolo muito profundo para a exploração direta. Marte e Europa resultaram como a melhor harmonia entre a habitabilidade e acessibilidade. Além disso, também é possível avaliar a habitabilidade global de qualquer planeta extra-solar terrestre detectado no futuro. Estudos irão expandir a definição de habitabilidade para incluir outras variáveis ambientais tais como luz, dióxido de carbono, oxigênio, e as concentrações de nutrientes. Isto vai ajudar a expandir os modelos, especialmente em escalas locais e assim melhorar a sua aplicação na avaliação de zonas habitáveis da Terra e além.”

Estudos sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre a vida são interessantes quando aplicados a própria Terra. A quantidade biofísica de Standard Primary Habitability – Padrão Primário de Habitabilidade – (SPH), “é sempre um limite superior para a habitabilidade do planeta, mas outros fatores podem contribuir para diminuir o seu valor. O SPH atual do nosso planeta está próximo de 0,7; mas foi até 0,9 durante vários paleoclimas, como durante o período Cretáceo, quando os dinossauros foram extintos. Estou trabalhando agora em como o SPH poderia mudar sob o aquecimento global.”

A busca de ambientes habitáveis no universo é uma das prioridades do instituto Astrobiology da NASA e de outras organizações internacionais. Os estudos de Mendez também irão centrar-se na busca por vida no Sistema Solar, bem como nos planetas extra-solares.

“Este trabalho é importante porque fornece uma medida quantitativa para a comparação de habitabilidade”, disse o cientista planetário da NASA Chris McKay. “Ele fornece uma maneira objetiva de comparar diferenças de climas e sistemas planetários.”

“Fiquei contente de ver Enceladus sair como vencedor“, disse McKay. “Eu tenho pensado há algum tempo que era o mundo mais interessante para a astrobiologia no Sistema Solar.”

Mendez apresentou seus resultados na Divisão de Ciências Planetárias da reunião da Sociedade Astronômica Americana no início de Outubro.

Fonte

Universe Today: Where Could Humans Survive in our Solar System? por Nancy Atkinson

11 comentários

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    • Marco Oliveira em 30/04/2010 às 15:25
    • Responder

    Tanto, Marte como a Lua, podem ser moradas permanentes de terraqueos. Temos uma grande tecnologia, para fazermos ambientes artificiais habitáveis por humanos. Não vejo problemas para isso. Para irmos a outros planetas fora do Sistema Solar é muito mais difícil e é muito longe, quantos anos duraria ir a um planeta como o recém descoberto na estrela Gliese581d? Não sei. Mas isso é muito dificil. Penso que precisamos nos concentrar em Marte e na Lua.

  1. Obrigado pela resposta. No entanto, permanece uma dúvida: Qual a distancia máxima que a missao Kepler conseguirá identificar planetas similares a Terra? A dezenas milhares de anos luz ? Ou de outra forma, quantas estrelas em potencial, podem ser investigadas? Milhares, milhões, bilhões? A minha impressão é que embora seja uma maravilha tecnológica, a missão Kepler somente poderá investigar uma pequena fração da Via Láctea…

      • ROCA em 23/12/2009 às 12:12
        Autor

      Exatamente o que você pensou, Kepler tratará de “uma fração da Via-Láctea”

      A missão Kepler foca uma parte do céu: “O observatório espacial Kepler passará os próximos três anos e meio vasculhando em mais de 100.000 estrelas buscando por sinais que indicam a presença de exoplanetas.”

      Para detalhes, desenhos e imagens esclarecedoras, veja aqui:
      http://eternosaprendizes.com/2009/07/14/o-telescopio-kepler-comeca-sua-missao-de-caca-dos-exoplanetas-similares-a-terra/

      e aqui:
      http://eternosaprendizes.com/2009/08/09/hat-p-7b-primeiro-exoplaneta-detectado-pela-missao-kepler/

      ou acompanhe na tag:
      http://eternosaprendizes.com/tag/kepler/

  2. Estou achando esse espaço sensacional. Parabéns a todos que colaboram para isso.
    Vários exo-planetas já foram encontrados, em diversas estrelas… mas via de regra são planetes parecidos com os gigantes gasosos do sistema solar ou são as super-terras, orbitando bem próximo de suas estrelas….. Então a pergunta: Qual é a máxima distância que a tecnologia atual, pode detecar um planeta igual a terra ( mesmo massa, volume, mesmo raio orbital e orbitando uma estrela igual ao sol ? Tenho a impressão que é bem pouquinho….

      • ROCA em 18/12/2009 às 13:56
        Autor

      A tecnologia para detectar exoplanetas com massa similar a Terra nós já temos. Esse é o alvo principal da missão Kepler que não só vai descobrir ‘Terras-extrasolares’ como também tentará descobrir exoplanetas em zonas habitáveis de estrelas similares ao Sol (anãs-amarelas) ou um pouco menores (anãs-laranjas e vermelhas).
      Para saber mais leia os artigos que falam do Kepler nesta tag: http://eternosaprendizes.com/tag/kepler/
      .
      Um pouco de paciência é contudo necessária… o Kepler só vai apontar exoplanetas deste tipo dentro de 2 a 3 anos, pois eles necessitam orbitar em torno de sua estrela para Kepler notá-los.
      .

  3. Ou seja, para mudarmos de mala e cuia para Encedalus teríamos que, antes, fazer buracos profundos, por que só é habitável abaixo daquele gelo todo?

    Que tal ser um planeta presídio? 🙂

      • em 23/11/2009 às 19:23

      Você tem senso de humor hehe! Bom, Enceladus talvez seja uma boa opção para os microorganismos como os da Terra, para nós, fora de cogitação… Lembre-se que a pergunta do título do post não foi respondida durante o post. Enceladus tem o maior SPH – Standard Primary Habitability – do Sistema Solar, mas isso se restringe a vida microbiana apenas… Uma morada para nós, humildes humanos, é bem provável que esteja além do reinado do Sol, em sistemas solares onde outras estrelas são absolutas… Mas descobrir tais moradas será missão para o Terrestrial Planet Finder, ou um de seus sucessores quem sabe… De qualquer forma, fique a vontade para perguntar, suas perguntas são importantes para melhor entendimento de todos aqui. 🙂

      • ROCA em 23/11/2009 às 19:56
        Autor

      Enceladus, junto com Europa, é um dos lugares mais interessantes para a busca da vida extraterrestre. Microbiana, é claro… As águas ‘quentes’ de lá, mantídas em estado líquido por causa da amônia, podem ser ambientes propícios ao desenvolvimento da vida unicelular, será? Confira aqui: Enceladus: o mistério do oceano de água líquida na lua de Saturno foi resolvido?
      .
      Por outro lado, eu não coloco muitas fichas apostando em Titã, pois lá é um mundo muito diferente, embora repleto de matéria orgânica, a química lá é bem mais lenta devido a baixa temperatura local (~ -180C). Vida por lá em Titã, como diz Peter Ward no seu livro de astrobiologia, é como “Não a conhecemos”.
      .
      Life as We Do Not Know It: The NASA Search for (and Synthesis of) Alien Life

    1. Pensando no sentido inverso, se algum tipo de vida diferente da que conhecemos existisse, seria difícil para eles também conseguir habitar na Terra, não?

      E se há possibilidades de microorganismos habitarem Enceladus, Europa ou Titã, estes mesmos microorganismos não podem alterar o ambiente tornando-o mais amigável ao homem?

      • em 24/11/2009 às 21:04

      Respondendo a primeira pergunta, creio que sim. Seria muito difícil para um organismo alienígena sobreviver as condições oferecidas pelo nosso planeta. Com toda a certeza isso só pode ser possível, em minha opinião, se o organismo alienígena for um extremófilo, ou seja, um organismo capaz de se adaptar em condições totalmente desfavoráveis. Mas, vale lembrar que existe uma hipótese que afirma que a vida na Terra pode ter vindo do espaço, em cometas, essa hipótese chama-se Panspermia, ela não foi comprovada, mas também não foi descartada. Se essa hipótese um dia for comprovada, teremos que aceitar que a vida é muito mais resistente do que imaginamos, afinal sobreviver ao ambiente hostil do espaço numa viagem épica agarrada a “cauda” de um cometa, é uma vitória incrível da vida sobre a morte.

      Respondendo a segunda pergunta, creio que não. Pois, na Terra, de fato os microorganismos mudaram a história do planeta produzindo o oxigênio e também colaborando para o estabelecimento da nossa atmosfera. Mas, acontece que a Terra já tinha os elementos básicos que possibilitaria aos seres humanos surgirem e sobreviverem no nosso planeta. Pense o seguinte, os microorganismos não resolveriam o problema de atrofiamento muscular no caso de humanos se estabelecerem nessas luas, o atrofiamento muscular está ligado a baixa gravidade desses corpos em relação à Terra; pois nossos músculos estão acostumados com a gravidade da Terra. Nessas luas nossos músculos atrofiariam devido a baixa gravidade. Também tem o problema da ausência de calor. A Terra é quente comparada a essas luas. A Terra está na zona habitável do Sistema Solar, uma zona quente (mas não quente ao extremo) do sistema onde a água pode permanecer em estado líquido. Essas luas são muito geladas. Só existe calor no subsolo. Nem mesmo os nossos esquimós mais dedicados suportariam o frio… Enfim, é uma questão complexa.

  4. Comentário malvado: se fazer mudança de casa já é difícil, chato, complicado, caro, imagine de planeta! 🙂

    Depois eu volto para ver os links que os EternosAprendizes já colocaram sobre Enceladus, antes de encher de perguntas aqui. 😉

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