Os lagos de Titã possuem alguns componentes químicos surpreendentes, de acordo com os últimos dados enviados pela sonda robótica Cassini que estuda Saturno, suas luas e anéis.
Um dos exóticos atrativos de Titã, lua de Saturno, é a possibilidade de que esta lua gigante tenha oceanos e lagos com ondas, não muito diferentes dos da Terra. Desde a década de 90, os Astrônomos descartaram a possibilidade de existir um oceano global em Titã usando medições por radar tomadas a partir da Terra, porém a possibilidade haver de lagos por lá ainda permanecia. Com certeza, em 2005, a sonda robótica Cassini observou uma grande área similar a um lago conhecido como Ontario Lacus perto do pólo sul. A partir daí temos observado muitos outros lagos de menor tamanho.

Lagos de hidrocarbonetos em Titã, lua de Saturno (Crédito: Steven Hobbs, Brisbane, Austrália)
Mas, de que são feitos estes lagos? A idéia comum é que os lagos titânicos devem ser uma mistura de etano, metano e nitrogênio, todos em estado líquido, devido as temperaturas baixíssimas em Titã (temperatura média = -179° Celsius). Entretanto, a quantidade de metano na atmosfera torna difícil detectá-lo sob a forma líquida ao nível do solo de Titã e só se tem observado diretamente o etano líquido no Ontario Lacus.
A única outra forma de deduzir a composição dos lagos é criar um modelo termodinâmico da atmosfera usando dados das sondas e dos laboratórios além dos cálculos teóricos. E, sem dúvida, os dados da sonda robótica Cassini estão revolucionando estes cálculos.
A composição dos lagos de Titã
Agora, Daniel Cordier et al., da Escola Nacional Superior de Química de Rennes na França, apresentaram a última aproximação destes dados. Seu refinamento dos cálculos revela que: “os constituintes principais dos lagos são etano (C2H6) com ~76 a 79%, propano (C3H8) com ~7 a 8%, metano (CH4) com ~5 a 10%, cianureto de hidrogênio (HCN) com ~2 a 3%, buteno (C4H8) com ~1%, butano (C4H10) ~1% e acetileno (C2H2) com ~1%”.
Esta é uma mistura mais rica e com uma composição inesperada pelos cientistas. Mas isto nos é útil pois permite a elaboração de cálculos mais detalhados sobre o papel das substâncias líquidas na superfície de Titã. “Nossos resultados proporcionam os dados químicos necessários para calcular a quantidade de deposição dos diferentes hidrocarbonetos e nitrilas em vales fluviais localizados nas latitudes médias de Titã”, disse o time de cientistas.

Ontario Lacus é a região negra no centro, à esquerda, nesta imagem do pólo Sul de Titã, lua de Saturno
Assim, estas descobertas permitirão aos geólogos planetários construir e testar uma nova geração de modelos que demonstram como os rios e fluxos líquidos têm escavado a superfície de Titã. Os geólogos planetários esperam por isto ansiosamente. Tanto as diferenças como as semelhanças com os processos que ocorrem aqui na Terra deverão constituir uma leitura fascinante.
Fontes e referências
MIT – Technology Review: The Surprising Contents of Titan’s Lakes
ArXiv.org: An Estimate of the Chemical Composition of Titan’s Lakes
Como Titã conseguiu sua atmosfera rica em Metano?
Navegando nos mares alienígenas de Titã
Exército multifuncional de robôs exploradores irá invadir Titã
Astrobiology Magazine: Titan’s Ethane Lake
3 comentários
4 menções
Felipe Leonardo
22/11/2009 às 01:56 (UTC -3) Link para este comentário
é possivel respirar em Titã? 😀
ROCA
22/11/2009 às 20:45 (UTC -3) Link para este comentário
Felipe Leonardo,
Infelizmente não para nós. A atmosfera de Titã lembra um pouco a atmosfera da Terra há 4 bilhões de anos, quando a vida estava apenas começando por aqui… 95% Nitrogênio e 5% Metano.
Em Titã os astronautas terão que usar equipamentos especiais para respirar e roupas próprias para resistir ao frio criogênico de -179° Celsius.
Mirian Martin
21/11/2009 às 18:42 (UTC -3) Link para este comentário
Isso é fantástico…
Comportamento orbital de Titã pode sugerir a presença de vasto oceano sob a superfície da maior lua de Saturno? « O Universo – Eternos Aprendizes
26/04/2011 às 21:58 (UTC -3) Link para este comentário
[…] Por sete anos a sonda Cassini tem nos enviado informações importantes de Saturno e suas luas, dados estes que mudaram drasticamente a maneira pela qual entendíamos o planeta ‘senhor dos anéis’ e seus intrigantes satélites. Titã, a maior lua de Saturno e que disputa com Ganimedes (lua de Júpiter) o título de maior lua do Sistema Solar, tem sido um alvo particular de atenção pela missão Cassini devido a sua densa e complexa atmosfera, sua atividade meteorológica e a marcante presença superficial de lagos e oceanos. […]
As grandes luas devem ser chamadas de planetas-satélite? « Eternos Aprendizes
26/05/2010 às 13:07 (UTC -3) Link para este comentário
[…] outro lado, a lua gigante de Saturno, Titã, pode ser considerada uma espécie de Pandora “no gelo”, pois sua superfície é […]
Blog de Astronomia do astroPT » As grandes luas devem ser chamadas de planetas-satélite?
25/05/2010 às 21:56 (UTC -3) Link para este comentário
[…] outro lado, a lua gigante de Saturno, Titã, pode ser considerada uma espécie de Pandora “no gelo”, pois sua superfície é criogênica: […]
Cientistas de Caltech explicam a desconcertante assimetria dos lagos de Titã « Eternos Aprendizes
03/12/2009 às 00:02 (UTC -3) Link para este comentário
[…] O surpreendente conteúdo dos mares e lagos de Titã […]