Haumea: uma enorme mancha escura vermelha detectada no planeta-anão deixa os astrônomos intrigados

Mosaico mostra a mancha vermelha de Haumea observada ao longo do seu dia de 3,9 horas

Mosaico mostra a mancha vermelha de Haumea observada ao longo do seu dia de 3,9 horas

Uma área vermelha escura encontrada no planeta anão Haumea parece ser mais rica em minerais e componentes orgânicos que o resto de sua superfície congelada. Como Haumea é tão pequeno está tão longe este plutóide aparece nos telescópios como apenas um singelo ponto de luz, mas a mancha foi descoberta através das medições das mudanças no seu brilho durante seu rápido giro. As pequenas porém persistentes diferenças indicam que a mancha escura é mais avermelhada na luz visível e mais azulada nos comprimentos de onda na faixa do infravermelho.

Que mancha é essa?

A mancha poderia ter sido causada por impacto recente, mas os cientistas não estão seguros se os materiais investigados são do próprio Haumea ou do corpo que o impactou. O planeta anão é considerado um objeto rochoso coberto por gelo.

“Nossas primeiras medidas de Haumea nos indicaram esta mancha na superfície”, disse o Dr. Pedro Lacerda, da Universidade Queen em Belfast. “Os dois máximos e os dois mínimos de brilho na curva de luminosidade não são exatamente iguais, como seria de se esperar de uma superfície uniforme. Isto indica a presença de uma mancha obscura na esperada superfície brilhante. Mas a curva de brilho nos mostrou novos detalhes somente quando analisamos os dados de infravermelho e assim conseguimos entender o que a mancha poderia ser”.

Como possíveis interpretações das mudanças na luminosidade de Haumea os cientistas podem deduzir as seguintes opções:

  1. A mancha é mais rica em minerais e compostos orgânicos que o resto de Haumea; ou
  2. A mancha contém uma maior fração de gelo cristalino.
Curva de luz do Haumea em dois comprimentos de onda.

Curva de luz do Haumea em dois comprimentos de onda.

Haumea orbita o Sol além de Netuno, em uma região chamada ‘cinturão de Kuiper’. Haumea é o quarto maior KBO (Kuiper Belt Object), depois de Éris, Plutão e Makemake. Estes grandes KBOs, juntamente como o asteróide Ceres do cinturão de asteróides formam a família dos planetas anões.

O giro mais rápido do sistema solar…

Uma das mais notáveis características de Haumea é sua rotação em alta velocidade em torno do seu eixo. O dia em Haumea dura apenas 3,9 horas terrestres. Nenhum outro objeto de grande porte no sistema solar gira tão rápido quanto Haumea. Esta alta rotação deforma Haumea tornando-o um elipsóide alongado, semelhante a um ‘charuto-gordo’ ou mesmo uma ‘bola de futebol americano com pouca pressão’, com dimensões assimétricas de 2.000 km por 1.600 km por 1.000 km. Este formato balanceia tanto as acelerações gravitacionais quanto as rotacionais. Os cientistas envolvidos na pesquisa (Pedro Lacerda, David Jewitt e Nuno Peixinho) julgam que Haumea deve ter sido atingido por um objeto massivo há pouco mais de 1 bilhão de anos, o que explica a sua rotação extra-rápida.

Por causa de sua rotação e formato alongado, Haumea varia seu brilho periodicamente quando reflete mais ou menos a luz solar. A extensão desta variação nos mostra quanto Haumea é alongado e o tempo entre seu brilho máximo e mínimo implica que ele tem uma densidade de 2,5 g/cm³ (2,5 vezes a densidade da água). Uma vez que sabemos pelas observações espectroscópicas que Haumea está coberto de gelo, esta alta densidade sugere que Haumea deve possuir um interior rochoso, contrastando com sua brilhante superfície de gelo, que é responsável pelo altíssimo albedo (0,84 +0.1−0.2) observado neste estranho mundo (obs.: o albedo da neve é 0,9).

Próximos passos?

Mais observações deste fenômeno estão planejadas para o início de 2010 através do VLT (Very Large Telescope) da ESO (European Southern Observatory) no Chile. “Agora nós iremos obter a espectroscopia detalhada da mancha escura para identificar sua composição química e resolver o enigma sobre sua origem”, completou Lacerda.

Há dois artigos científicos explicando em detalhes esta descoberta.

  1. Pedro Lacerda, David Jewitt e Nuno Peixinho: “High Precision Photometry of Extreme KBO 2003 EL61”, Astronomical Journal Vol. 135 (Maio de 2008), pp. 1749-1756
  2. Pedro Lacerda, David Jewitt e Nuno Peixinho: “Time-Resolved Near-Infrared Photometry of Extreme Kuiper Belt Object Haumea”, Astronomical Journal Vol. 137 (February 2009), pp. 3404-3413

Fontes 

Centauri Dreams:

Science Daily: Spot Discovered On Dwarf Planet Haumea Shows Up Red And Rich With Organics — A dark red area discovered on the dwarf planet Haumea appears to be richer in minerals and organic compounds than the surrounding icy surface.

Universe Today: Spot Discovered on Haumea Rich With Organics and Minerals por Nancy Atkinson

1 menção

  1. […] prós e contras da viabilidade de se criar uma missão orbital rápida para estudar o planeta anão Haumea, que, como Éris, é altamente reflexivo (possui elevado albedo) e, possivelmente, deve estar […]

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

error: Esse blog é protegido!