“O que aprendemos a partir da Via Láctea sobre o cenário da formação hierárquica de galáxias pode ser aplicado a outras grandes galáxias” (Puragra Guhathakurta)
Detalhe e realismo em partes iguais são as características que o professor Puragra (Raja) Guhathakurta gosta de espelhar tanto em seus projetos de investigação científica como em suas criações artísticas. Aficionado desenhista de retratos, este professor de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Califórnia tem trabalhado no Observatório Lick desde 1985, ano em que imigrou de sua terra natal, a Índia, para os Estados Unidos. Ele considera a galáxia de Andrômeda como um laboratório cosmológico ideal para estudar o que mais lhe apaixona como astrofísico: a interação entre galáxias, os aglomerados estelares e seus processos hierárquicos de formação.
Puragra Guhathakurta esteve presente no evento anual de astrofísica XX Canary Islands Winter School of Astrophysics:
– Por que você utiliza a galáxia de Andrômeda como um laboratório cosmológico? O que faz de Andrômeda tão especial e o que a torna tão similar a Via Láctea?
As combinações de uma perspectiva global e externa com observações de seus detalhes tornam a galáxia de Andrômeda um objeto ideal para estudo. Em muitos sentidos, a galáxia de Andrômeda é uma galáxia mais fácil de se estudar que a própria Via Láctea, devido a nossa localização interna dentro de nossa galáxia (que nos impede de visualizar a Via Láctea em sua plenitude).

Essa imagem em cor-falsa de nossa brilhante galáxia vizinha, Andrômeda, foi criada combinando em camadas 400 imagens individuais capturadas pela câmera PTF ao longo do mês de fevereiro de 2009. A câmera PTF tem 7º quadrados de campo de visão, equivalente a cerca de 25 luas-cheias. Crédito: Palomar Transient Factory/Peter Nugent, Berkeley Lab
– Segundo os estudos que confirmam o cenário da formação hierárquica da Via Láctea, você crê que se pode extrapolar o comportamento de Andrômeda [que também é uma galáxia espiral gigante] a outras galáxias?
O que aprendemos de galáxias como a Via Láctea e Andrômeda sobre a formação hierárquica pode certamente tornar-se extensível a outras grandes galáxias. As diferenças entre a Via Láctea e Andrômeda nos proporcionam tanto conhecimento sobre a formação galáctica como o que podemos obter a partir de suas semelhanças.
– Você espera encontrar os mesmos fenômenos de formação estelar fora do Grupo Local?
Em geral, sim, mas em detalhes, não. Torna-se cada vez mais evidente que a taxa e as características da formação estelar em galáxias são função da composição ou ambiente da galáxia. O ambiente do Grupo Local de Galáxias é representativo de um conjunto, mas as taxas de formação estelar são provavelmente diferentes em aglomerados de galáxias mais ricos que nas galáxias com constituições mais esparsas.
– Você é astrofísico e, além disso, tem predileção pela pintura e pelos retratos realistas. Considera que o criador de uma idéia científica põe nela tanto de sua personalidade como qualquer artista em sua obra? Você crê que o conceito de beleza não é um terreno exclusivo das artes e que pode estar também presente na investigação astrofísica?
Sim, existem estreitos paralelismos entre a arte e a ciência. Ambas envolvem processos criativos. Os estilos de meus retratos, detalhados e realistas, espelham a maneira em que abordo meus projetos científicos: com atenção ao detalhe e ênfase na técnica.
Fontes
The Extended Stellar Halo of the Andromeda Spiral Galaxy and its Dwarf Satellites: Results from the SPLASH Survey por Puragra Guhathakurta (UCSC)
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