P/2016 J1: asteroide fragmentado desenvolve caudas similares a de um cometa

Seria esperado que asteroides do Cinturão Principal de Asteroides desenvolvam caudas como as que vemos em cometas?

Imagens do par de asteroides P/2016 J1 capturadas em 15 de maio de 2016. Os quadros mostram a região central, o asteroide e uma mancha difusa correspondente a cauda de poeira. Créditos: Moreno et al.

Sabemos que suas órbitas são circulares o suficiente para que os asteroides do cinturão principal não experimentem as variações radicais de temperatura que usualmente afetam os cometas quando estes mergulham na direção do periélio. No entanto, nós conhecemos cerca de 20 casos de asteroides que fazem justamente isso.

Na imagem abaixo, capturada pelo Grande Telescópio das Canárias de 10,4 metros, temos visões do asteroide P/2016 G1, com uma difusa cauda de poeira espalhada atrás do objeto.

O asteroide P/2016 G1 em três diferentes ocasiões em 2016: no final de abril, no final de maio e em meados de junho. A flecha no centro do painel aponta para uma característica assimétrica que pode ser explicada se o asteroide anteriormente ejetou material em uma direção única, talvez devido a um impacto. Crédito: Fernando Moreno (Instituto de Astrofísica de Andaluzia, Espanha)

Moreno e seu time, os quais se especializaram em estudar o ambiente de poeira em volta dos objetos do Cinturão Principal de Asteroides, acabaram de descobrir mais um asteroide intrigante, com uma cauda ainda mais curiosa.

Paradoxalmente, o asteroide P/2016 J1 consiste, de fato, em um par de corpos, situação não tão infrequente no Cinturão Principal de Asteroides. Uma possível origem do par de asteroides poderia ser um impacto que teria quebrado o asteroide original em dois pedaços. No entanto, os astrônomos, ao estudar o objeto, julgam ter outra hipótese para explicar o fenômeno: o asteroide se fragmentou devido ao excesso em sua velocidade de rotação. Pares de asteroides em geral acabam por se afastar entre si uma vez que a gravidade mútua não é forte o suficiente para mantê-los juntos. Contudo, em geral, pares de asteroides permanecem em órbitas aproximadamente similares em volta do Sol.

Essa é parte da Figura 1 do artigo de Moreno et al. sobre o asteroide P/2016 J1. Imagens de P/2016 J1-A e J1-B foram capturadas com a MegaCam do telescópio de 3,6 metros Canada-França-Havaí (CFHT) em 17 de março de 2016 (imagem a), bem como com a câmera OSIRIS do telescópio de 10,4 metros GTC (Gran Telescopio Canarias) em 15 de maio de 2016, 29 de maio de 2016 e 31 de julho de 2016 (imagens b,c e d). Nos painéis (a),(b),(c) e (d) as dimensões físicas são, respectivamente: 170.982×33.925, 133.788×26.545, 135.616×26.908 e 184.964×36.699 quilômetros. Créditos: Moreno et al.

Moreno denota o que faz o par de asteroides P/2016 J1 serem raros: ambos os fragmentos mostram estruturas similares a de cometas, o que os torna o primeiro par de asteroides a apresentar conjuntamente esse comportamento. Ambos os objetos se tornam ativos próximos do periélio, entre o final de 2015 e o início de 2016, a medida que ambos passaram a mostrar suas caudas por até 9 meses.

Moreno e equipe usaram o GTC (Grande Telescópio das Ilhas Canárias) e o CFHT (Telescópio Canadá-França-Havaí) para estudar o par P/2016 J1, descobrindo que o asteroide original se fragmentou há cerca de seis anos, baseando-se na análise de sua evolução orbital. Isto faz da dupla a mais jovem conhecida até então. O par de asteroides leva 5,65 anos para completar uma órbita, o que implica que a fragmentação se deu na órbita anterior a atual.

Uma outra visão de um asteroide ativo com uma cauda. Esse par de fotos foi obtido pelo Hubble retratando o asteroide P/2013P5. Créditos: NASA/ESA/Hubble

É importante salientar que as caudas não foram causadas diretamente pela fragmentação original, mas, ao que parece, elas surgiram como um efeito posterior. Moreno julga que estamos olhando emissões de poeira causadas pela sublimação dos gelos que foram originalmente expostos pelo processo de ruptura. Tal cenário é contrastante com o a cauda do asteroide P/2016 G1 anteriormente analisada, a qual Moreno e seu time estimam que foi resultante de um impacto. Os modelos da equipe de astrônomos revelam que o material ejetado pelo asteroide P/2016 G1 não foi emitido isotopicamente.

Fonte

Centauri Dreams: Fragmented Asteroid Develops Comet-like Tails

Artigos Científicos

  1. O artigo sobre P/2016 J1, assinado por Moreno et al., intitulado “The splitting of double-component active asteroid p/2016 J1 (PANSTARRS),” foi publicado noThe Astrophysical Journal Letters  837, No 1 (2017). Abstract / artigo completo.
  2. O outro artigo sobre P/2016 G1 assinado por Moreno et al., intitulado “Early Evolution of Disrupted Asteroid P/2016 G1 (PANSTARRS)” foi publicado noThe Astrophysical Journal Letters  836 No 2 (2016). Abstract / artigo completo.

._._.

1702.03665 – The splitting of double-component active asteroid P_2016 J1 (PANSTARRS)

1607.03375 – Early evolution of disrupted asteroid P_2016 G1 (PANSTARRS)

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