18 de maio de 1966 – Nikolai Kamanin: A tola ansiedade dos patriotas

Não Há Dia Sem História

18 de maio de 1966

Nikolai Kamanin: A tola ansiedade dos patriotas

No dia 18 de maio de 1966, há 50 anos, um memorando assinado por Nikolai Petrovich Kamanin, oficial da aviação militar, alto funcionário burocrático e herói nacional da União Soviética, circulou pelos escritórios do Kremlin, da Cidade das Estrelas e da Academia Militar Zhukovskiy.

Nikolai Petrovich Kamanin (18 de outubro de 1908 - 11 de março de 1982) foi um aviador Soviético, que recebeu o título de herói da União Soviética em 1934 pelo resgate da tripulação do SS Chelyuskin através de um pouso improvisado na superfície congelada do Mar Chukchi perto da Ilha Kolyuchin

Nikolai Petrovich Kamanin (18 de outubro de 1908 – 11 de março de 1982) foi um aviador Soviético, que recebeu o título de herói da União Soviética em 1934 pelo resgate da tripulação do SS Chelyuskin através de um pouso improvisado na superfície congelada do Mar Chukchi perto da Ilha Kolyuchin

Já havia passado quatro anos desde o vôo pioneiro de Gagarin. O programa espacial soviético evoluíra. O documento de Kamanin descrevia um “triste estado de coisas”. A primeira queixa era de que “não havia um único órgão do Estado Soviético encarregado de gestão sistemática do programa espacial”. Criticava nominal e diretamente autoridades por “tratarem o programa espacial como um mero ítem de expediente”. Os termos eram bem claros: “… não há ninguém na Academia das Ciências, na indústria, ou no Ministério da Defesa encarregado de gerir um vôo espacial tripulado (apenas 4% – 8 de 200 lançamentos por parte da União Soviética – foram missões tripuladas), nos últimos seis anos nenhuma nova espaçonave tripulada foi lançada (a Voskhod é apenas uma modificação da Vostok), a nova nave espacial Soyuz está com 3 ou 4 anos de atraso, devido à insistência de ela ser plenamente capaz de fazer a acoplagem automática no espaço; somente componentes não adequados para naves tripuladas vem sendo entregues”. Salta aos olhos o desprezo pelo aprimoramento da “acoplagem automática no espaço”.

Yuri Gagarin (segundo da esquerda para a direita), o primeiro homem no espaço, e Nikolai Petrovich Kamanin (o quarto), em visita a Budapeste.

Yuri Gagarin (segundo da esquerda para a direita), o primeiro homem no espaço, e Nikolai Petrovich Kamanin (o quarto), em visita a Budapeste.

Tudo indica que Kamanim, embora fosse um soviético exemplar e um notável membro da nomenklatura, concordava – ou invejava – com a escola aeroespacial norte americana dos anos 60, que era obstinada pela presença humana nos vôos. Os norte-americanos tinham um bom motivo para isso: eles precisavam chegar à Lua num vôo tripulado, para recuperar a dignidade diante da seqüência de derrotas sofridas para os “bolchevistas”. Já os engenheiros soviéticos, liderados por Sergey Korolev, mais realistas e menos influenciados por necessidades espetaculosas, ,esmo porque haviam vencido todas as etapas da corrida espacial até então, anteviam as necessidades futuras e agiam com objetivos de eficácia, economia. Kamanin mordera a isca. A escola de Korolev, não.

Entre soviéticos e americanos o que ocorria era uma disputa inteligentíssima, de gênios contra gênios. E de ambos os lados do tabuleiro o que estes gênios estavam defendendo era a astronáutica, bem mais do que o conceito de pátria. Nikolai Kamanin, não obstante herói nacional, hábil piloto, membro notável da nomenklatura, um grande patriota e tudo mais, parece não ter entendido aquele xadrêz sofisticado. Ao assinar um documento em que desprezava a importância do aprimoramento das acoplagens automáticas, ele revelou ignorar que o futuro estava traçado para as estações orbitais – Salyut, Mir, Skylab, ISS – e que a engenharia aeroespacial soviética vinha trabalhando nisso, silenciosa e pacientemente.

Hoje, 49 anos depois, podemos ver que a arquitetura e logística de uma estação espacial é um puro exercício de acoplagem e que a manutenção e a segurança depende fundamentalmente de cargueiros não tripulados, eficazes, práticos, baratos, automáticos. A precipitação de Kamanin, além de ser um documento que encerra um notável dado de pesquisa histórica, provou que Korolev estava trabalhando no rumo certo.

Milton W.

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