ESO: VLT estuda a maior estrela hipergigante amarela conhecida

Esta impressão artística mostra a estrela hipergigante amarela HR 5171, um tipo muito raro de estrelas com apenas cerca de uma dúzia conhecidas na nossa Galáxia. O seu tamanho é superior a 1,300 vezes o tamanho do Sol e é uma das maiores estrelas conhecidas até à data. Observações obtidas com o Interferómetro do Very Large Telescope do ESO mostraram que se trata na realidade de um sistema duplo, onde a companheira está em contacto com a estrela principal.  Crédito: ESO

Esta impressão artística mostra a estrela hipergigante amarela HR 5171, um tipo muito raro de estrela. Há apenas cerca de uma dúzia como esta, conhecidas na nossa Galáxia. O seu tamanho é superior a 1.300 vezes o tamanho do Sol e é uma das maiores estrelas conhecidas até à data. Observações obtidas com o Interferômetro do Very Large Telescope do ESO mostraram que se trata na realidade de um sistema duplo, onde a companheira está em contato íntimo com a estrela principal. Crédito: ESO

O interferômetro do Very Large Telescope do ESO revelou os segredos da maior estrela amarela já encontrada, uma das maiores estrelas conhecidas até hoje. Descobriu-se que esta hipergigante tem um tamanho de cerca de 1.315±260 vezes o diâmetro do Sol e faz parte de um sistema estelar duplo, com uma segunda componente tão próxima que ambas as estrelas são binárias de contato. Observações obtidas ao longo de sessenta anos, algumas por observadores amadores, indicam também que este objeto raro e extraordinário está mudando muito depressa. Tal significa que o estamos observando uma fase muito breve do seu ciclo de vida.

http://www.eso.org/public/images/eso1409a/

HR 5171 A e a região do céu a sua volta. Crédito: ESO

Com o auxílio do Interferômetro do Very Large Telescope do ESO (VLTI), Olivier Chesneau (Observatoire de la Côte d´Azur, Nice, França) e uma equipe internacional de colaboradores descobriram que a estrela hipergigante amarela HR 5171 A [1] é absolutamente monstruosa, com 1.300 vezes o diâmetro do Sol, ou seja, um tamanho muito superior ao esperado [2]. Este fato faz com que esta seja a maior estrela amarela que conhecemos e também uma das maiores estrelas conhecidas, 50% maior que a famosa supergigante vermelha Betelgeuse e cerca de um milhão de vezes mais brilhante que o Sol.

Chesneau explicou:

As novas observações mostraram também que esta estrela tem uma companheira binária muito próxima, o que foi uma verdadeira surpresa. As duas estrelas estão tão próximas que se tocam e todo o sistema parece um amendoim gigantesco.

Os astrônomos usaram uma técnica chamada interferometria para combinar a radiação coletada pelos vários telescópios individuais, criando assim um telescópio virtual gigante de 140 metros de diâmetro. Os novos resultados levaram a equipe a verificar cuidadosamente observações anteriores desta estrela, em um período que abrange mais de sessenta anos, no intuito de estudar o seu comportamento no passado [3].

As estrelas hipergigantes amarelas são objetos muito raros, apenas se conhecendo cerca de uma dúzia na nossa Galáxia. O melhor exemplo nesta classe de estrelas é a fenomenal Rho Cassiopeiae. Estes objetos, que estão entre as maiores e mais brilhantes estrelas conhecidas, encontram-se em uma fase das suas vidas em que são instáveis e por isso mudam muito rapidamente. Devido a esta instabilidade, as hipergigantes amarelas expelem quantidades significativas de massa para o exterior, formando uma nebulosa extensa em volta da estrela.

Apesar da relativa distância a que se encontra da Terra (quase 12.000 anos-luz), esta estrela ainda pode ser vista a olho nu [4] por pessoas com excelente visão. Descobriu-se que a HR 5171 A tem aumentado de tamanho nos últimos 40 anos, arrefecendo à medida que cresce. A evolução desta estrela está de fato sendo observada ao vivo. Apenas algumas estrelas são observadas nesta fase muito breve das suas vidas, altura em que sofrem variações dramáticas de temperatura, originadas pela sua rápida evolução.

http://www.newscientist.com/article/dn25207#.U1a5cfldV8E

Comparação do tamanho da binária de contato HR 5171 e o nosso Sistema Solar. Créditos: ESO/New Scientist

Ao analisar os dados da variação do brilho da estrela, através de observações obtidas por outros observatórios, os astrônomos confirmaram que o objeto é um sistema binário de eclipse, com a componente menor a passar à frente e atrás da maior, à medida que a orbita. Neste caso, a HR 5171 A tem na sua órbita uma estrela companheira que demora 1.300 dias para dar uma volta completa. A companheira menor é apenas ligeiramente mais quente que a temperatura de superfície de 5.000º Celsius da HR 5171 A.

Chesneau concluiu:

A companheira que descobrimos é bastante importante, pois a sua presença pode influenciar o destino da HR 5171 A, ao arrancar-lhe, por exemplo, as camadas exteriores, modificando assim seu processo de evolução.

Esta nova descoberta põe em destaque a importância de estudar estas estrelas hipergigantes amarelas de vida curta, podendo ajudar também a compreender melhor o processo de evolução das estrelas de grande massa, de modo geral.

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “The yellow hypergiant HR 5171 A: Resolving a massive interacting binary in the common envelope phase”, assinado por Chesneau et al., publicado na revista especializada Astronomy & Astrophysics.

Notas

[1] A estrela é também conhecida como V766 Cen, HD 119796 ou HIP 67261.

[2] Objetos comparáveis em geral são as supergigantes vermelhas, os quais atingem 1.000 a 1.500 vezes o raio do Sol e têm massas iniciais não superiores a 20-25 massas solares. Esperava-se que o raio de uma supergigante amarela fosse 400-700 vezes o do Sol.

[3] Foram obtidos dados espectroscópicos com o instrumento University College London Echelle Spectrograph (UCLES) montado no Anglo-Australian Telescope, que está instalado no Observatório Astrônomico da África do Sul (SAAO), com o instrumento PUCHEROS, da Pontificia Universidad de Chile (PUC) e a partir de observações coronográficas obtidas com o Near-Infrared Coronagraphic Imager (NICI) montado no telescópio Gemini Sul. Foram igualmente examinados conjuntos de dados fotométricos de arquivo de 1983 a 2002, incluindo alguns de observações amadoras. O acordo entre os resultados profissionais e os do amador Sebastian Otero (2000-2013) foi considerado pelos autores “excelente” e “ilustra bem a qualidade destas observações amadoras”.

[4] A magnitude visual da HR 5171 A varia entre 6,10 e 7,30 e a estrela pode ser vista na constelação de Centauro.

Fontes

ESO: VLT Spots Largest Yellow Hypergiant Star – Mix of new and old observations reveals exotic binary system

New Scientist: Largest ever yellow star is 1300 times bigger than sun

Artigos Científicos

ArXiv.org: The yellow hypergiant HR 5171 A: Resolving a massive interacting binary in the common envelope phase

The yellow hypergiant HR 5171 A: Resolving a massive interacting binary in the common envelope phase

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