ESO: Telescópio VISTA de infravermelho busca objetos variáveis e revela detalhes da Nebulosa da Lagoa

Nebulosa da Lagoa em infravermelho rastreada pelo VISTA dentro do programa VVV (Variáveis VISTA na Via Láctea) de procura por objetos variáveis. Créditos: ESO/VVV/Cambridge Astronomical Survey Unit

Esta nova imagem infravermelha da Nebulosa da Lagoa foi obtida num estudo da Via Láctea que durará 5 anos e que está a ser realizado com o telescópio VISTA do ESO instalado no Observatório do Paranal, no Chile. Esta é uma pequena parte de uma imagem muito maior da região que rodeia a nebulosa, a qual é por sua vez apenas uma parte de um vasto rastreamento realizado pelo VISTA.

Os astrônomos utilizam atualmente o telescópio VISTA (acrônimo do inglês: Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy) do ESO para esquadrinhar as regiões centrais da Via Láctea procurando objetos variáveis e mapeando a sua estrutura com detalhes inéditos. Este enorme programa de rastreamento chama-se VVV (Variáveis VISTA na Via Láctea) [1]. A nova imagem capturada nas freqüências do espectro de  infravermelho aqui apresentada foi obtida como parte deste programa.Aqui vislumbrarmos a maternidade estelar chamada Nebulosa da Lagoa (também conhecida como Messier 8, leia detalhes em eso0936 – ‘The Trilogy is Complete’), a qual se situa a entre 4.000 a 5.000 anos-luz de distância na direção da constelação de Sagitário.

No painel temos a comparação entre as visões em infravermelho pelo VISTA (acima) e por telescópio ótico (MPG 2,2 metros do ESO). Através do infravermelho surge uma pletora de estrelas antes escondidas pelas densas nuvens de poeira e gás da nebulosa da Lagoa (Messier 8). Créditos: ESO/VVV/Cambridge Astronomical Survey Unit

VISTA remove os véus de poeira e revela estrelas escondidas

As observações em infravermelho permitem aos astrônomos observar através dos véus de poeira que impedem as observações de objetos celestes no espectro visível. Isto se deve ao fato da radiação visível, que tem um comprimento de onda aproximadamente do mesmo tamanho das partículas de poeira, ser fortemente dispersada, enquanto que a radiação infravermelha com um comprimento de onda mais largo consegue passar através da poeira mantendo-se praticamente inalterada. O VISTA, com o seu espelho de 4,1 metros de diâmetro (o maior telescópio de rastreio do mundo) se dedica ao mapeamento de grandes áreas do céu de forma rápida e profunda, usando filtros de infravermelho próximo. Assim, o VISTA está particularmente adaptado para estudar a formação estelar.

As estrelas formam-se tipicamente em grandes nuvens moleculares de gás e poeira, as quais colapsam sob o seu próprio peso. No entanto, a Nebulosa da Lagoa hospeda igualmente alguns dos chamados glóbulos de Bok [2], regiões muito mais compactas de gás e poeira em colapso gravitacional. Estas nuvens escuras são tão densas que, mesmo no infravermelho, conseguem bloquear a radiação das estrelas de fundo. Mas a característica mais famosa da nebulosa, que origina seu nome, é a estreita região de poeira em forma de lagoa que se entrelaça pela nuvem de gás brilhante.

Estrelas recém-nascidas e objetos Herbig Haro

As estrelas jovens e quentes, que irradiam fortemente no ultravioleta, são responsáveis pelo intenso brilho da nebulosa. Entretanto, a Nebulosa da Lagoa hospeda também estrelas muito mais jovens. Estrelas que acabaram de nascer foram detectadas na nebulosa, tão jovens que se encontram ainda rodeadas pelos seus discos de acresção (ou casulos) primordiais. Estrelas recém-nascidas ejetam ocasionalmente jatos de matéria  dos seus pólos. Quando este material ejetado atinge o gás circundante formam-se os objetos Herbig-Haro [3], rastos brilhantes e de curta duração, o que torna as estrelas recém-nascidas facilmente detectáveis. Nos últimos cinco anos foram detectados vários objetos Herbig-Haro na Nebulosa da Lagoa, o que quer dizer que o baby boom estelar ainda está em progresso.

A equipe científica do programa de rastreamento VVV [1] conta com a participação de Dante Minniti (Universidad Catolica, Chile), Phil Lucas (University of Hertfordshire, UK), Ignacio Toledo  (Universidad Catolica) e Maren Hempel  (Universidad Catolica).

Notas

[1] O rastreamento VVV, um dos seis empreendimentos do VISTA atualmente em desenvolvimento, fará imagens das regiões centrais da Via Láctea muitas vezes durante um período de cinco anos e detectará enormes quantidades de novos objetos variáveis.

[2] Bart Bok era um astrônomo holandês/americano que passou a maior parte da sua longa carreira nos Estados Unidos da América e na Austrália. Foi o primeiro a observar as manchas escuras, que agora têm o seu nome, nas regiões de formação estelar e a especular que poderiam estar associadas aos estádios mais precoces da formação estelar. As estrelas bebê escondidas apenas puderam ser observadas diretamente quando a obtenção de imagens no infravermelho se tornou possível algumas décadas mais tarde.

[3] Embora não tenham sido os primeiros a observar tais objetos, os astrônomos George Herbig e Guillermo Haro foram os primeiros a estudar os espectros destes estranhos objetos de forma detalhada e perceberam que não se tratava apenas de glóbulos de gás e poeira que refletiam a radiação ou brilhavam sob a influência da radiação ultravioleta emitida pelas estrelas jovens, mas que era uma nova classe de objetos associada à formação estelar.

Fonte

ESO: VISTA Stares Deeply into the Blue Lagoon

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3 menções

  1. […] julgam que a formação estelar continua a se desenvolver na Nebulosa da Lagoa, dada a observação da presença de vários glóbulos que por lá […]

  2. […] [1] O ESO já produziu anteriormente várias imagens extraordinárias deste objeto, – digna de nota é a enorme imagem de 370 milhões de pixels que fez parte do projeto GigaGalaxy Zoom (eso0936) – tendo igualmente fornecido uma imagem completamente diferente obtida pelo rastreamento VVV do VISTA (Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy), o qual explorou os mistérios da Nebulosa da Lagoa no infravermelho (ESO: Telescópio VISTA de infravermelho busca objetos variáveis e revela detalhes da Nebulosa da La…). […]

  3. […] telescópio de rastreamento em infravermelho VISTA [1], pertencente ao ESO (Observatório Europeu Meridional) no Monte Paranal, deserto de Atacamama, […]

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