Triplicou o número de estrelas do Universo Observável!

As maiores galáxias do Universo, as elípticas, são também as que contêm a maior concentração de estrelas anãs vermelhas. Crédito: CfA/David A. Aguilar

Dois astrônomos dos EUA descobriram que as pequenas e fracas estrelas anãs vermelhas são muito mais prolíficas do que antes se pensava. Tanto é que os especialistas afirmam agora que é provável que o número total de estrelas no Universo observável seja três vezes maior do antes estimávamos.

As anãs vermelhas são relativamente pequenas e tênues em comparação com estrelas amarelas como o nosso Sol e assim os astrônomos não foram capazes de detectá-las até agora em diferentes galáxias fora da Via Láctea, mesmo em galáxias vizinhas mais próximas. Por esta razão os cientistas desconheciam a efetiva proporção de anãs vermelhas estão dentro da população estelar do Universo observável.

Os olhos dos telescópios gêmeos Keck

Dois astrônomos da Universidade de Yale e Princeton (EUA) usaram os poderosos telescópios gêmeos do Observatório Keck, no Havaí, para detectar débeis rastros da presença de anãs vermelhas em oito galáxias massivas relativamente próximas. Foram tratadas na amostra apenas galáxias elípticas situadas entre 50 e 300 milhões de anos-luz de distância. As galáxias elípticas, em geral, são as maiores galáxias do Cosmos, com mais de 1 trilhão de estrelas (valores estimados pelos censos cósmicos antes desta pesquisa), bem mais que as 400 bilhões encontradas na Via Láctea.

Anãs vermelhas aos borbotões!

Os pesquisadores descobriram que as anãs vermelhas, estrelas pequenas com entre 10 e 40% da massa do Sol, são, de fato, muito mais abundantes do antes se estimava. “Ninguém sabia quantas dessas estrelas verdadeiramente existem [fora da nossa galáxia]”, exclamou Pieter van Dokkum, principal autor do estudo publicado na revista Nature e astrônomo da Universidade de Yale. O pesquisador esclareceu:

Diferentes modelos teóricos previram uma vasta gama de possibilidades, de modo que este agora responde a uma pergunta feita há muito tempo sobre até que ponto estas pequenas estrelas são abundantes.

Contagem de anãs vermelhas em 8 galáxias elípticas mostrou (à direita) uma concentração de anãs vermelhas 5 a 10 vezes maior que em nossa galáxia, a Via Láctea (Milky Way, à esquerda). Crédito do diagrama: Yale University

UAU! Cinco a dez vezes mais anãs vermelhas em galáxias elípticas!

De acordo com Charlie Conroy, co-autor do estudo da Universidade de Princeton e Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, a equipe descobriu que há cerca de cinco a dez vezes mais anãs vermelhas nas galáxias elípticas que na concentração contada aqui na nossa galáxia espiral, a Via Láctea. Conroy explicou:

Muitas vezes se assume [algumas vezes erroneamente] que as outras galáxias são em geral  semelhantes à nossa. Agora, esta descoberta nos sugere que outras condições são plenamente possíveis e que este estudo pode ter um grande impacto na nossa compreensão da formação das galáxias e em sua evolução.

Por exemplo, podemos inferir que as galáxias podem efetivamente conter uma fração menor de matéria escura (uma substância exótica, que tem massa, mas não pode ser observada diretamente pois não interage com a força eletromagnética) do que as medições anteriores indicaram sobre suas massas. Assim, a abundância de anãs vermelhas pode compensar a matéria escura, respondendo por mais massa do que foi previamente estimado.

Nosso inventário estelar mudou drasticamente!

Opa! Se há mais estrelas então há mais exoplanetas!

De acordo com Van Dokkum, ao aumentar o número total de estrelas no Universo observável a descoberta também incrementa consistentemente o número de exoplanetas que orbitam em torno delas e conseqüentemente também se eleva o número de exoplanetas que potencialmente poderiam abrigar vida.

Na verdade, entre os planetas extrasolares descobertos recentemente, há um que os astrônomos acreditam capaz de hospedar a vida. Este exoplaneta gira em torno de uma anã vermelha chamada Gliese 581.

“Podem haver bilhões de Terras em órbita destas estrelas”, disse Van Dokkum, que nos lembra que os sistemas com anãs vermelhas em geral têm sido encontrados com idades da ordem de 10 bilhões de anos ou até mais (o nosso Sistema Solar tem cerca de 4,65 bilhões de anos de idade). Dokkum especula que estes velhos sistemas tiveram tempo suficiente para que a vida complexa tenha evoluído em exoplanetas nas zonas habitáveis. “Esta é uma das razões pela qual nós nos interessamos por este tipo de estrelas.

Os resultados da pesquisa foram publicados em 02 de dezembro de 2010, na revista Nature, com o título “A substantial population of low-mass stars in luminous elliptical galaxies”.

Estes resultados estão em linha com outras pesquisas estelares, como a do GALEX, leia: Recenseamento estelar usando o GALEX aponta que há muito mais estrelas pequenas do que pensávamos

Fontes

Space.com: Discovery May Triple the Number of Stars In the Universe

SINC: Triplican el número de estrellas del universo

CfA: The Universe Does Think Small

Artigo Científico

Pieter G. van Dokkum e Charlie Conroy. A substantial population of low-mass stars in luminous elliptical galaxies”. Nature 468 (7324), 02 de dezembro de 2010 Doi:10.1038/nature09578.

Links

AstroPT: Anãs Vermelhas aos montes

Recenseamento estelar usando o GALEX aponta que há muito mais estrelas pequenas do que pensávamos

._._.

7 comentários

1 menção

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  1. Agradeço pela retificação, Ricardo. Muito bom seu comentário, principalmente os “marcos do universo”.

    Só mais um detalhe: eu sabia que Andrômeda iria colidir-se com a nossa via lactea daqui a 3 bilhões de anos, e que durante 1 bilhão de anos elas se uniriam para formar uma galáxia elíptica; só não sabia que, avançando no tempo, em trilhões de anos, ela se fundiria com outras galáxias do grupo local, sobrando uma grande galáxia, possivelmente elípitica e solitária. Boa informação científica. Vlw.

      • ROCA em 10/12/2010 às 12:46
        Autor

      Andrômeda vai colidir em 3 a 4 bilhões de anos, mas o processo de fusão total leva mais vários bilhões de anos. Na verdade uma galáxia passa por dentro da outra e se afastam novamente, depois colidem de novo, sucessivamente, na dança de galáxias… Como dois fantasmas em dança (um passa por dentro do outro…).

      As demais galáxias do grupo local tem 3 destinos possíveis:

      1) Continuar gravitacionalmente ligada orbitando a grande galáxia elíptica;
      2) Ser expulsa do grupo local por interações gravitacionais (problema dos 3 corpos) e se afastar para sempre na expansão Universal (dominada pela energia escura);
      3) Ser aglutinada na grande galáxia elíptica, a “Andro-Láctrea”.

      Veja sobre colisões de galáxias, aqui:

      http://eternosaprendizes.com/2010/11/11/arp-226-a-colisao-galactica-atomos-pela-paz-revelada-pelo-eso/

      http://eternosaprendizes.com/2010/05/07/arp244-uma-dupla-de-galaxias-em-colisao-na-constelacao-do-corvo-lembra-as-antenas-de-um-inseto-cosmico/

      http://eternosaprendizes.com/2009/12/07/arp-299-colisao-de-galaxias-gera-fabrica-de-supernovas-na-explosiva-ic-694/

      http://eternosaprendizes.com/2009/10/08/chandra-revela-imagem-do-par-de-buracos-negros-supermassivos-que-irao-se-fundir-na-galaxia-ngc-6240/

      http://eternosaprendizes.com/2009/09/27/galaxias-em-guerra-m81-contra-m82-fotografadas-por-rainer-zmaritsch-e-alexander-gross/

      abs

  2. Você percebe que quando nosso poder de observação aumenta, alguns dados são ignorados: onda havia matéria escura em demasia, agora há anãs vermelhas. Isso é bom, porque consequentemente, há mais exoplanetas como o Gliese 581G por aí. A potencialidade para a vida é enorme. Falando mais amplamente: Os cientistas estão dividivos entre teorias como Big Crunch, e Big Rip. Li o artigo acima recomendado: “… Em aproximadamente cem bilhões de anos, todas as outras galáxias desaparecerão da visão da Via Láctea… e finalmente, o superaglomerado local de galáxias também se desintegrará.” Então basicamente o fim do universo é exatamente é a expansão continuada, impulsionada pela energia escura, que mesmo deixando “espaço” para anãs vermelhas, continua sua influência. Seria isso, não? Abraço.

      • ROCA em 10/12/2010 às 10:31
        Autor

      Tomei a liberdade de corrigir seu comentário para ‘impulsionada pela energia escura‘, pois a matéria escura + a matéria convencional levariam a contração do Universo, mas atualmente o Universo é dominado pela ‘energia escura’ que supera a gravidade inerente a matéria (escura e normal).

      Do ponto de vista local (humano), a Via Láctea se fundirá com Andrômeda e possivelmente com outras galáxias do grupo local. Sobrará uma grande galáxia possivelmente elípitica e solitária. Nossos descendentes (se sobreviverem) acharão que o Universo é composto de apenas 1 grande galáxia (e talvez algumas pequenas galáxias satélites) e um grande vazio, com alguma radiação cósmica de fundo tendendo a zero.

      Esta grande galáxia solitária elíptica, em trilhões de anos, terá apenas uma coleção de anãs vermelhas com massa de 10% a 20% da do Sol ainda acesas junto com as cinzas das ‘estrelas aposentadas’ (anãs brancas, estrelas de neutrons e buracos negros estelares)…

      Mas estamos falando de trilhões de anos e o Universo ‘só’ em 13,73 bilhões de anos de idade…

      Alguns marcos do Universo

      . 10^(-30) segundos: inflação cósmica
      . 100 segundos: hélio e deutério são criados
      . 380 mil anos: a radiação de fundo em microondas é liberada (Universo deixa de se opaco e torna-se transparente)
      . 8 bilhões de anos: a expansão começa a se acelerar (domínio da energia escura)
      . 13,73 bilhões de anos: hoje
      . 20 bilhões de anos: a Via Láctea e Andrômeda se fundem em uma só galáxia
      . 100 bilhões de anos: todas as outras galáxias se tornam invisíveis (ficam fora do ‘Universo Observável’)
      . 1 trilhão de anos: isótopos primordiais foram perdidos ou diluídos
      . 100 trilhões de anos: últimas estrelas saem da sequência principal e terminam sua vida útil (a últimas anãs vermelhas)

      Fonte: Scientific American Brasil – abril/2008 – ‘O Fim da Cosmologia’

    • André Luiz Neves da Silva em 09/12/2010 às 23:10
    • Responder

    Alem de haver mais anas vermelhas tambem deve haver mais anas marrons. E isso podera forçar novos calculos de quanto materia escura desconhecida deve ter no Universo.
    Será que pelo menos grande parte desta deconhecida materia escura não seja anas vemelhas e marrons ?

  3. Huum… Fico pensando que se há mais estrelas, então existe mais massa no Universo, certo?

    Se há mais massa no Universo, é provável que a expansão pare, o Universo se contraia e tenhamos a sua destruição para o começo de um novo ciclo.

      • ROCA em 09/12/2010 às 21:06
        Autor

      Não é bem assim Estefferson. Se há mais estrelas no Universo, há mais matéria bariônica, a matéria convencional da qual nós somos constituídos. Por outro lado, isto pode significar que há menos matéria escura que os cosmologias previam. Tal compensaria este aumento da massa correspondente a maior população de estrelas de menor porte.

      O Universo é dominado pela energia escura e seu destino é inexorável, a expansão cósmica, sem retorno, sem novos ciclos. Um destino gelado: a ‘morte térmica do Universo’.

      Leia aqui para entender:

      Estudo independente confirma: o destino do Universo é controlado pela Energia Escura (A Energia Escura atua inibindo o crescimento das galáxias)

      Para mais detalhes, pesquise em cosmologia:

      http://eternosaprendizes.com/category/cosmologia/

      Assista a aula da Patrícia Burchat sobre matéria escura e energia escura (com legendas):

      http://eternosaprendizes.com/2010/01/23/ted-patricia-burchat-esclarece-sobre-materia-escura-e-energia-escura/

  1. […] This post was mentioned on Twitter by deldebbio, Estefferson Torres. Estefferson Torres said: Triplicou o número de estrelas do Universo Observável!: Dois astrônomos dos EUA descobriram que as pequenas e fr… http://bit.ly/fYQNPZ […]

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