Éris devolve para Plutão o status de maior planeta anão

Éris e sua lua Dysnomia. Crédito: Hubble Space Telescope/NASA/ESA/Mike Brown/Caltech

Este fim-de-semana passado teve lugar um evento que pode perturbar a família de TNOs (objetos-trans-netunianos). Se os resultados preliminares forem confirmados desta vez será o planeta-anão Éris que sofrerá as consequências: Plutão vai recuperar o seu status de maior objeto do Cinturão de Kuiper.

Sequência mostra Éris ocultando estrela. Crédito: Atacama Celestrial Explorations Observatory

Este drama iniciou-se no alto dos Andes do Chile, onde há alguns dias 3 equipes de astrônomos flagraram Éris em trânsito, passando diretamente na frente de uma estrela de magnitude 17, na constelação de Baleia. Os astrônomos há algum tempo sabiam desta ocultação, mas o percurso estimado sofreu variações ao longo da América do Sul, deixando os astrônomos incertos se seriam capazes visualizar o evento.

Felizmente, três equipes de astrônomos, usando telescópios modestos, viram a estrela piscar com a passagem de Éris.

Telescópio TRAPPIST do ESO, inaugurado em junho de 2010, é operado na Bélgica, a 12.000 km de distância. Crédito: ESO/E. Jehin

Emmanuël Jehin (Universidade de Liège, Bélgica), que observou o evento com o telescópio TRAPPIST de 24-polegadas (600 mm) do Observatório de La Silla afirmou: “obtivemos sete ‘frames’ (quadros) onde a luz da estrela desaparece.” Como as imagens foram capturadas com intervalos de 4,5 segundos, Jehin calculou em 27 segundos o tempo total da ocultação.

O trânsito foi observado por outros dois telescópios, 740 km ao Norte. Sebastian Saravia, Alain Maury e Caisey Harlingten viram a estrela desaparecer por 76 segundos através do telescópio PlaneWave de 20-polegadas (500 mm) em Harlingten, no Observatório de Explorações Celestes em San Pedro de Atacama.

A ocultação foi também registada pelo telescópio de 16-polegadas (400 mm), operado remotamente, sob o controle de Jose-Luiz Ortiz (Instituto de Astrofísica da Andaluzia, Espanha).

Qualquer resultado positivo já é suficiente para celebrarmos, nunca antes uma ocultação tinha envolvido um objeto tão distante. O importante é que observações em locais distintos criam duas medidas independentes para a sombra de Éris, que fornecem uma solução única para o seu diâmetro (considerando, é claro, que Éris é esférico).

O diâmetro de Éris, segundo Bruno Sicardy (Observatório de Paris), é um parâmetro difícil de determinar com exatidão devido ao grau de incerteza na cronometragem dos três telescópios. Mesmo assim, Sicardy afirmou: “Há forte probabilidade de que Éris tenha efetivamente um raio menor que 1.170 km”. Assim, constata-se que Éris é ligeiramente menor que Plutão, cujo raio estima-se em 1.172 (±10) km. Refinamentos podem tornar possível que o valor obtido seja reduzido em 50 a 60 km.

É uma descoberta intrigante. Mike Brown (Caltech), que liderou a equipe que descobriu Éris há uns anos atrás, não pretende discordar. “A maioria dos métodos que dispomos para medir os tamanhos de objetos no Sistema Solar exterior estão carregados de imperfeições”, acrescentou Brown. “As ocultações deste gênero, cronometradas com precisão, conseguem dar-nos respostas incrivelmente precisas.”

Medições anteriores contestadas

Imagens obtidas em Dezembro de 2005, por Brown e sua equipe através do Telescópio Espacial Hubble, indicavam um diâmetro de 2.400 km, apenas 5% maior que o de Plutão. Mas o tamanho verdadeiro permanecia incerto uma vez que olhar poderoso do Hubble ser incapaz de resolver o disco de Éris (devemos nos lembrar que Éris orbita o Sol a uma distância de 96,7 UA, quase três vezes a distância orbital de Plutão).

Observações adicionais feitas com o Telescópio Espacial Spitzer indicaram um diâmetro perto dos 2.600 km, e outro grupo de cientistas, usando o radiotelescópio IRAM na Espanha, elevaram o valor para perto dos 3.000 km. Contudo, os astrônomos sabem agora que o eixo de rotação de Éris aponta na direção do Sol, um aspecto que torna o hemisfério iluminado mais quente que o normal e que acentua e distorce as medições infravermelhas.

A relativamente breve ocultação (tinha sido prevista a durar quase 2 minutos), combinada com as observações negativas de um par de telescópios na Argentina, sugeriu rapidamente que Éris não era tão grande como se pensava. Por isso o resultado obtido no Chile está bem alinhado com os resultados do Hubble em na campanha de 2005.

A elevada densidade de Éris

A massa de Éris, determinada a partir da órbita da sua lua, Dysnomia, foi aferida em 125% a massa de Plutão. Este valor não se alterou com os novos resultados. Assim, se os resultados da ocultação estiverem corretos, a densidade de Éris se eleva para 2,5 g/cm³ ou até mais. Seu alto albedo (refletividade) foi calculado na faixa dos 90%.

“Há um ano atrás eu pensava que este resultado era exorbitante”, comentou Brown, “pois essa densidade seria alta em demasia” para um TNO. Brown acrescentou, “o albedo já tem um valor tão alto que um pouco a mais, mal não faz”. Entretanto, no início deste ano, Brown e outros astrônomos descobriram que outro importante TNO, Quaoar, é essencialmente uma rocha densa (com uma densidade média de pelo menos 3 g/cm³) e isto pode reforçar os resultados refinados na densidade de Éris.

Além disso, as ocultações são métodos muito poderosos de determinar se um objeto tem uma atmosfera, no entanto todas as equipes ainda não constataram se Éris a tem ou não. O grande albedo deste objeto, combinado com a sua grande distância, sugere que a superfície deve estar a absorver muito pouca luz solar para vaporizar qualquer gelo lá presente. Por outro lado os astrônomos ficaram chocados ao descobrir (durante a ocultação de 1988) que Plutão tem uma pequena atmosfera – por isso devemos ficar atentos!

Fontes

Mike Brown’s Planets: The shadowy hand of Eris

Occultation of asteroid 136199 Eris – November 6th 2010 2h15 TU

New Scientist: Former ‘tenth planet’ may be smaller than Pluto

Sky & Telescope: Eris Gets Dwarfed (Is Pluto Bigger?)

Artigo Científico (Mike Brown sobre Quaoar)

Quaoar: A Rock in the Kuiper Belt

._._.

2 comentários

1 menção

  1. Na verdade, se formos ver o negócio mais “de perto”, veremos que nem Plutão nem Éris são os maiores planetas do Cinturão de Kuiper; pois o cinturão começa antes da órbita de Netuno (ou seja, Netuno seria o maior objeto no Cinturão de Kuiper).

    Sou da opinião que tanto Plutão como Éris (e todos os outros corpos) devem ser considerados planetas. Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Ceres, Haumea, Makemake e Éris (e tantos outros que ainda estão para ser descobertos) seriam Planetas Estelares Rochosos (pois orbitam estrelas e possuem propriedades de planetas rochosos); Júpiter, Saturno, Urano e Netuno são Planetas Estelares Gasosos; Plutão e Caronte formam um Sistema Planetário Binário e os 15 objetos a seguir são Planetas Satélites: Lua, Ganímedes, Calisto, Io, Europa, Titã, Réia, Jápeto, Dione, Tétis, Titânia, Oberon, Ariel, Umbriel e Tritão.

      • ROCA em 08/07/2011 às 22:47
        Autor

      Concordo, quando descobrirem um objeto massivo como Marte nos confins gelados do Sistema Solar, bem além do Cinturão de Kuiper, os conceitos mudarão.

  1. […] do Sistema Solar. O corpo 2012 VP113 é possivelmente um candidato a planeta anão (como Plutão e Éris), categoria atribuída aos objetos em órbita em torno do Sol, suficientemente grandes para que a […]

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