ESO: Os segredos do Unicórnio foram revelados pelo observatório VISTA

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Esta dramática visão no infravermelho revelada pelo VISTA mostra o berçário estelar Monoceros R2 que reside a 2.700 anos-luz da Terra na constelação do Unicórnio. Créditos: ESO/J. Emerson/VISTA/Cambridge Astronomical Survey Unit

Desta vez foram os segredos do Unicórnio (Monoceros) desvendados pelos olhos infravermelhos do VISTA.

Esta nova imagem divulgada pelo ESO revela uma paisagem extraordinária de filamentos brilhantes formados por gás aquecido, nuvens escuras e estrelas recém-nascidas na constelação do Unicórnio. Este berçário estelar ativo, conhecida como Monoceros R2, encontra-se imerso dentro de massiva uma imensa nuvem molecular enegrecida. Assim, a poeira estelar presente torna esta maternidade estelar obscura quando observada no espectro visível, no entanto, a região torna-se espetacular quando analisada nas frequências do espectro no infravermelho.

Embora esta nuvem molecular pareça mais próxima no céu que a mais conhecida Nebulosa de Órion, na realidade a nuvem molecular Monoceros R2 encontra-se quase duas vezes mais afastada da Terra, a cerca de 2.700 anos-luz, enquanto que a nebulosa de Órion reside a 1.500 anos-luz da a Terra. No espectro visível observamos uma vistosa coleção de nebulosas de reflexão formadas quando a radiação azulada das estrelas quentes de grande massa é dispersada pelas camadas exteriores escuras da nuvem molecular. No entanto, a maioria das estrelas recém-nascidas permanece invisível para os telescópios óticos uma vez que as espessas camadas de poeira interestelar não permitem a passagem tanto da radiação ultravioleta quanto da luz visível.

Comparação da região no visível (à esquerda) e no infravermelho (à direita) do berçário estelar Monoceros E2. Créditos: ESO/J. Emerson/VISTA/Digitized Sky Survey 2/Cambridge Astronomical Survey Unit

Comparação da região no visível (à esquerda) e no infravermelho (à direita) do berçário estelar Monoceros E2. Créditos: ESO/J. Emerson/VISTA/Digitized Sky Survey 2/Cambridge Astronomical Survey Unit

Nesta bela imagem infravermelha obtida a partir do Observatório do Paranal do ESO, no norte do Chile, o telescópio de rastreamento no infravermelho VISTA (acrônimo do inglês Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy) [1] remove o escuro véu de poeira e revela com um detalhe surpreendente as dobras, voltas e filamentos esculpidos na poeirenta matéria interestelar pelos intensos ventos de partículas e radiação emitidos pelas estrelas quentes jovens.

“Quando da primeira vez que vi esta imagem fiquei surpreso pela capacidade de vermos tão claramente as correntes de poeira em torno do aglomerado Monoceros R2, assim como os jatos de matéria provenientes dos objetos jovens imersos profundamente na poeira. Estas imagens reveladas pela câmera do VISTA revelam uma enorme quantidade de detalhes excitantes,” disse Jim Emerson, do Queen Mary, Universidade de Londres e líder do consórcio VISTA [2].

Com o seu enorme campo de visão, largo espelho e sensível câmera, o VISTA é o telescópio ideal para obter imagens profundas de grande qualidade no infravermelho de grandes áreas do céu, tais como a região Monoceros R2. A largura do campo de visão do VISTA é equivalente a cerca de 80 anos-luz a esta distância. Uma vez que a poeira é transparente no espectro do infravermelho, as estrelas imersas na nuvem molecular não podem ser observadas em imagens no espectro visível, mas se revelam no infravermelho. Os cientistas estimaram que a estrela de maior massa da região possui menos que dez milhões de anos de idade.

Mapa celeste mostra a constelação do Unicórnio. No círculo vermelho está a região de formação estelar Monoceros R2, estudada pelo VISTA. Crédito: ESO, IAU and Sky & Telescope

Mapa celeste mostra a constelação do Unicórnio. No círculo vermelho está a região de formação estelar Monoceros R2, estudada pelo VISTA. Crédito: ESO, IAU and Sky & Telescope

A nova imagem foi criada através de várias exposições obtidas em três faixas distintas do espectro, no infravermelho próximo. Em nuvens moleculares como a Monoceros R2, as baixas temperaturas e as densidades relativamente altas permitem que as moléculas se formem, tais como o hidrogênio molecular (H2) que, em certas condições, emite intensamente no infravermelho próximo. Muitas das estruturas vermelhas e rosas que aparecem na imagem VISTA devem-se provavelmente ao brilho do hidrogênio  molecular (H2) causado pela radiação emitida pelas estrelas jovens.

Monoceros R2 possui um núcleo denso com, no máximo, dois anos-luz de extensão, o qual se encontra repleto de estrelas recém formadas de grande massa, possuindo igualmente uma pletora de fontes infravermelhas brilhantes, que são geralmente estrelas massivas recém-nascidas e que por isso estão ainda envolvidas por casulos de poeira. Esta região encontra-se no centro da imagem, onde podemos observar uma maior concentração de estrelas e onde as estruturas avermelhadas proeminentes indicam muito provavelmente emissão de hidrogênio molecular (H2).

A nuvem brilhante na parte mais à direita no centro da imagem é NGC 2170, a nebulosa de reflexão mais brilhante desta região. Em radiação no espectro visível, a nebulosa assemelha-se a ilhas azuis brilhantes em um obscuro oceano, enquanto que no espectro infravermelho se revelam  fábricas estelares frenéticas onde centenas de estrelas de grande massa sendo produzidas. A nebulosa NGC 2170 pode ser observada de modo tênue através de um pequeno telescópio e foi descoberta por William Herschel na Inglaterra, em 1784.

Em geral as estrelas se formam através de um processo que tem a duração típica de alguns milhões de anos no núcleo das enormes nuvens de gás e poeira interestelar, com centenas de anos-luz de extensão. Uma vez a poeira interestelar é opaca no visível, as observações no infravermelho e no rádio são cruciais para o correto entendimento dos primeiros estádios da formação estelar. Ao mapear o céu meridional de modo sistemático, o VISTA tem coletado cerca de 300 gigabytes de dados por noite, fornecendo uma enorme quantidade de informação relativa as tais regiões que, serão posteriormente dissecadas em maior nível de detalhe pelos equipamentos do Very Large Telescope (VLT), o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) e, até o final da década, o European Extremely Large Telescope (E-ELT), novo projeto do ESO.

Este painel mostra detalhes da região de formação estelar Monoceros R2 capturados pelo VISTA. Créditos: ESO/J. Emerson/VISTA/Cambridge Astronomical Survey Unit

Este painel mostra detalhes da região de formação estelar Monoceros R2 capturados pelo VISTA. Créditos: ESO/J. Emerson/VISTA/Cambridge Astronomical Survey Unit

Notas

[1] Com um espelho primário de 4.1 metros, o VISTA é o maior telescópio de rastreamento do mundo, equipado com a maior câmera infravermelha construída em telescópio, a qual dispõe de 67 milhões de pixels. Dedica-se ao mapeamento do céu, tendo começado as operações no início de 2010. Situado em um pico próximo ao Cerro Paranal, local do VLT do ESO, no norte do Chile, o VISTA partilha das mesmas condições de observação excepcionais no deserto do Atacama, o local mais seco da Terra.

[2] O Consórcio VISTA é liderado pelo Queen Mary, Universidade de Londres e é composto por: Queen Mary, Universidade de Londres; Queen’s University of Belfast; Universidade de Birmingham; Universidade de Cambridge; Universidade Cardiff; Universidade de Central Lancashire; Universidade de Durham; A Universidade de Edinburgh; Universidade de Hertfordshire; Universidade Keele; Universidade Leicester; Universidade Liverpool John Moores; Universidade de Nottingham; Universidade de Oxford; Universidade de St Andrews; Universidade de Southampton; Universidade de Sussex e Universidade College London.

Fonte

ESO: VISTA Reveals the Secret of the Unicorn

._._.

1 menção

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