Debate: como seriam as adaptações da vida aos exomundos?

Ilustração feita por John Schoenherr do exomundo Mesklin de Hal Clement, capa da edição de 1960 do romance de ficção cientifica Mission of Gravity. Poderia alguém capturar a essência de uma história melhor do que o notável Schoenherr?

Ilustração feita por John Schoenherr do exomundo Mesklin de Hal Clement, capa da edição de 1960 do romance de ficção cientifica Mission of Gravity. Poderia alguém capturar a essência de uma história melhor do que o notável Schoenherr?

Até agora, apenas Gliese 581 d surge como um exoplaneta candidato a se falar em vida extraterrestre. Todos nós nos lembramos do furor inicial que recaiu sobre Gliese 581 c, o qual sabemos agora que se parece mais com um Vênus massivo que qualquer outra coisa, tendo em vista sua proximidade em relação a estrela hospedeira, a anã vermelha Gliese 581.

Refinando os cálculos da órbita de Gliese 581 d, descoberto em 2007, os astrônomos confirmaram a sua presença dentro da zona de habitação de Gliese 581, onde a água liquida pode existir. O diagrama acima mostra os planetas do Sistema Solar (na barra superior) comparando suas distancias com os exoplanetas de Gliese 581 (barra inferior). A zona de habitação está representada pela zona azulada, mostrando Gliese 581 d como um planeta dentro da zona de habitação. Crédito: ESO {2}

Refinando os cálculos da órbita de Gliese 581 d, descoberto em 2007, os astrônomos confirmaram a sua presença dentro da zona de habitação de Gliese 581, onde a água liquida pode existir. O diagrama acima mostra os planetas do Sistema Solar (na barra superior) comparando suas distancias com os exoplanetas de Gliese 581 (barra inferior). A zona de habitação está representada pela zona azulada, mostrando Gliese 581 d como um planeta dentro da zona de habitação. Crédito: ESO

A gravidade

Enquanto isso, Gliese 581 d orbita nos limites da região externa da zona habitável neste interessante sistema planetário. Assim, recentemente, Dirk Schulze-Makuch sustentou na conferência de exobiologia em Houston que esta super-Terra, se tem a capacidade de manter a vida, pode ter criaturas sobre ela que conseguiram se adaptar a à gravidade de um exoplaneta com pelo menos sete vezes a massa da Terra. Fazendo os cálculos: se inferirmos que a densidade média de Gliese é similar a da Terra, a gravidade em sua superfície deveria ser quase o dobro, ou melhor, 191,3% (raiz cúbica de 7) da gravidade da Terra.

Podem as super terras serem superiores a hospedar a vida? O exoplaneta recém descobero orbita a estrela Gliese 667 C a qual pertencem a um sistema triplo de estrelas. Este exoplaneta com 6 vezes a massa da Terra circula em volta de sua estrela hospedeira de baixa massa (anã vermelha) a uma distância de 'apenas' 5% da distância Terra x Sol. A estrela mãe é companheira de duas outras estrelas anãs vermelhas, que podem ser vistas nesta concepção artística à esquerda. Crédito: ESO

Podem as Super Terras serem superiores para hospedar a vida?

Tal gravidade em excesso, provavelmente, poderia talvez produzir uma população que tende a rastejar em vez de voar, sugeriu o investigador do estado de Washington, e podemos deixar a nossa imaginação trabalhar em cima das possibilidades.

Pensando na morfologia do exoplaneta Gliese 581 d em si, sua órbita em torno desta anã vermelha deve colocá-lo na mesma posição relativa que Marte é do nosso Sol, em termos de luminosidade que recebe de sua estrela mãe. Por outro lado, sua muito maior massa em relação a Terra deve resultar em uma frenética atividade tectônica de placas, uma enorme quantidade de vulcões, uma blindagem magnética poderosa e uma atmosfera espessa, com extensos oceanos abaixo. Em Gliese 581 d você possivelmente encontrará os corretos cenários astrobiológicos para o desenvolvimento da vida. [Estes cenários presentes em super-Terras foram analisados no artigo “Podem as Super Terras serem superiores para hospedar a vida?”]

Os leitores poderão até apontar para possíveis cenários de ficção científica em planetas extrasolares de maior gravidade em configurações menos radicais do que o escritor Hal Clement criou no clássico Mission of Gravity. Neste romance de ficção científica o exomundo Mesklin tem 16 vezes a massa da Terra e sua gravidade é 3 vezes a nossa, onde as formas de vida inteligentes têm meio metro e rastejam na forma de centopéias.

Teoria da Convergência?

Entrementes, a detecção de um análogo da Terra provavelmente não está tão longe e quando o encontrarmos, o que devemos esperar por meio dos seres vivos lá? É óbvio que nós não teremos informações sobre os seres alienígenas ainda por um longo tempo, mas vale a pena destacar que Simon Conway Morris, há muito tempo sustentou que certas formas presentes nos corpos dos animais como os olhos, cérebros e asas continuam aparecendo como interessantes soluções, porque são as respostas ideais para interagir com um ambiente como o nosso.

Contudo, este é um argumento que Charles Lineweaver (Australian National University), não tem concordado, como foi observado neste resumo da conferência de Houston, na Astrobiology Magazine, onde Lineweaver é citado com relação ao tema que trata dos caminhos evolutivos únicos da vida:

“A “teoria da convergência”, disse Lineweaver, apresenta falhas, porque ignora o fato de que praticamente toda a vida na Terra compartilha certos genes, e estes genes são a base para que formas corporais podem eventualmente se desenvolver. Por exemplo, muitas vezes as pessoas apontam para o tamanho do cérebro dos golfinhos como uma instância de convergência com relação aos seres humanos. Lineweaver diz que tal afirmação é ridícula, porque simplesmente ignora o fato de que há cerca de 60 milhões de anos, os humanos e os golfinhos divergiram de um ancestral comum.”

Inteligência extraterrestre? Que é isso?

E a vida que nós iremos encontrar no futuro? Será esta eventualmente inteligente? Mais uma vez, haverá um longo tempo pela frente antes que nós tenhamos um contato real, mas nesta mesma conferência foi dito por C. Lineweaver e divulgado pelo twitter: “A palavra ‘inteligência’ está agora tão carregada que se tornou quase inútil. Melhor seria dizer algo como: ‘aparato de sinalização das espécies’.”

Quem discorda da força da ferramenta twitter * deve ter em mente o quanto uma pequena mensagem como esta – enviada por um participante em uma sessão da conferência de Lineweaver – pode influenciar na escolha de um tema interessante para se escrever.

Você vai encontrar resumos de bolso de alguns dos pontos mais interessantes das sessões da conferência no Astrobiology Magazine, juntamente com as previsões de Chris Impey (University of Arizona), que aponta para a participação futura (talvez tentando influenciar) das empresas privadas na exploração do Sistema Solar exterior. Houve também quem exortou (não há certeza quem foi que disse, se Impey ou o autor Leslie Mullen) na despedida: “Em 2060 – Viagem a Alfa Centauro!”, mas eu (Paul Gilster) sou totalmente a favor da idéia, mesmo que o realista em mim pensa que a viagem acontecerá em cerca de 250 anos a frente. A beleza do futuro está no fato que em geral nossas previsões são muitas vezes mal elaboradas, como eu espero que seja a minha.

* Alguns comentários interessantes durante a conferência de Astrobiologia

  • “It looks like the Moon is not as high a priority as President Bush thought it was” – J. Levine (Human Exploration Session) [Parece que a Lua não é tão alta prioridade quanto o presidente Bush pensava que era].
  • Seth Shostak says they tackle pseudoscience once a month on SETI’s radio program. [Seth Shostak diz que eles combatem a pseudociência, uma vez por mês no programa SETI de rádio] “This provides a more than adequate amount of hate mail.” [Isto origina uma quantidade mais do que adequada de correio de ódio].
  • On the Tree of Life, the human branch is a little nub next to corn and mushrooms. [Na Árvore da Vida, o braço humano é um pequeno ramo ao lado do milho e dos cogumelos] disse J. Haqq Misra.
  • Atmospheric molecules are like grad students & pizza, or geologists & beer. [Moléculas atmosféricas são como estudantes de graduação e pizza, ou geólogos e cerveja]. Bring them together, they react, and disappear. [Ao reuní-los, eles reagem, e a seguir desaparecem].
  • Andrew Steele, promising 35 slides in just 15 minutes… [prometendo expor 35 slides em apenas 15 minutos …] lets see how he accomplishes that! [vamos ver como ele consegue isso!].
  • ~4 billion years ago the Moon was 10x closer and the tides were 1,000x larger. [Há ~ 4 bilhões de anos a Lua era 10 vezes maior e as marés eram 1.000 vezes maiores] – disse C. Lineweaver.
  • On the scale of habitable planets, Earth is rated “fair”: not bad, but it could be better. [Na escala dos planetas habitáveis, a Terra é classificada como “razoável“: não como “ruim”, mas poderia ser “melhor”] – disse A. Mendez.
  • The Galaxy Garden – a maze-like walkthrough scale model of the Milky Way. [O Jardim Galáctico – um modelo em escala tipo-labirinto como explicação da Via Láctea] – segundo Near Kona, HI.
  • The word ‘intelligence’ is now so loaded it’s almost not useful. [A palavra “inteligência” está agora tão carregada que é quase inútil] Better to say ‘species signaling apparatus’. [Melhor dizer ‘aparato de sinalização das espécies] – disse C. Lineweaver.
  • Titan Mare Explorer (TiME) – 1st boat to explore a sea on another celestial body? [Titan Mare Explorer (TiME) – O primeiro barco para explorar um mar em outro corpo celeste?] – indagou Dirk Schulze-Makuch.
  • Did Viking find life on Mars? [Será que Viking (em 1976) encontrou vida em Marte?] Gil Levin says a proposed experimental change would have settled it but NASA nixed the idea. [Gil Levin disse que uma alteração proposta no experimento teria resolvido a questão, mas a NASA rejeitou a idéia].
Gliese 581 d pode ser um exoplaneta oceânico?

Gliese 581 d pode ser um exoplaneta oceânico?

Fontes e Referências

Artigo escrito por Paul Gilster em Centauri Dreams: “Life’s Adaptations Among the Stars

Astrobiology Magazine: Houston, We’ve Had a Conference…

Eternos Aprendizes:

3 comentários

  1. Olá…ontem pela noite (20/05/2010) notei à olho nú na diagonal para a direita inferior do CRUZEIRO DO SUL, uma estrela que está brilhando muito forte e tendo oscilações de iluminação…com cores azuis brancas e até vermelhas….vocês sabem dizer do que se trata?….não achei o local para perguntas como essas e por isso postei aqui mesmo….espero que possam sanar minha duvida estou muito curioso….abraço a todos o site é muito interessante…

  2. Creio que esse mundo deve ter algum tipo de vida, se for oceânico e os movimentos de tectonicas e a atmosfera serem suficientemente fortes para aguentar as variações de emissão de luz de uma anã vermelha. Pois Gliese 581 não é nem de perto estavel como o nosso sol. Por falar em mundo oceânico, acredito firmemente em vida na lua Europa, de Jupiter.

      • ROCA em 18/05/2010 às 17:33
        Autor

      Guilherme,
      De fato, Gliese 581, uma anã vermelha, é uma estrela instável. Seu brilho, em questão de minutos, pode variar enormemente (+/- 40%), perturbando os seus exoplanetas com solar-flares violentos. Por outro lado, sendo massivo, Gliese 581 d pode ter uma densa e espessa atmosfera, talvez coberta plenamente por nuvens que isolariam a sua superfície das intempéries solares. Além disso, seu poderoso campo magnético também o isolará do clima espacial. Um efeito estufa intenso pode levar a um oceano de água líquida, quem sabe? Se for um mundo gélido, talvez tenha uma estrutura como Europa, uma capa de gelo com um oceano interno profundo. Dado o intenso vulcanismo, por causa de sua enorme massa, a vida pode desenvolver-se nos pontos quentes no fundo dos oceanos, permanecendo isolada da sua estrela instável. Como compreender este mundo? Um dia entenderemos mais a respeito…

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