Partículas ultra primitivas são encontradas na poeira cósmica coletada em vôos de grande altura

Partículas de poeira interplanetária com grãos componentes pré-solares

Aqui temos as imagens a partir do microscópio eletrônico de duas partículas de poeira cósmica E1 (painel A) e G4 (painel B) bem como os mapas (painéis C e D) espectroscópicos da massa iônica secundária. O isótopo de oxigênio das partículas E1 (C) e G4 (D) mostram respectivamente quatro e sete regiões isotopicamente anômalas, indicadas pelos círculos e por isso foram identificadas como grãos com origem pré-solar. A barra de escala tem 2 mícrons.

Amostras de pó interestelar coletadas por aeronaves que realizam vôos em grandes altitudes têm encontrado freqüentemente relíquias do antigo Cosmos, de acordo com cientistas do Instituto Carnegie.

Este pó estratosférico inclui diminutos grãos que provavelmente se formaram no interior de estrelas que viveram e morreram muito antes do nascimento do nosso Sol, assim como o material de nuvens moleculares do espaço interestelar. Este material “ultra primitivo” provavelmente seguiu à deriva pelo espaço interplanetário até a atmosfera da Terra passando através da trilha de pó do cometa periódico 26P/Grigg-Skjellerup, dando aos cientistas uma raríssima oportunidade de estudar pó de origem cometária em laboratório.

O cometa periódico 26P/Grigg-Skjellerup

O cometa periódico 26P/Grigg-Skjellerup

Os astrônomos julgam que os cometas são repositórios de matéria primitiva inalterada, contendo as sobras da matéria componente da formação do Sistema Solar. Este material interplanetário que tem se mantido durante éons no gelo cometário tem amplamente escapado em grande parte do aquecimento e dos processos químicos que afetaram  outros corpos do Sistema Solar, tais como os planetas e suas luas.

Em busca do pó interplanetário…

Em grandes alturas, a maior parte do pó da atmosfera procede efetivamente do espaço e não (como se poderia pensar) da superfície terrestre. Milhares de toneladas de partículas de pó interplanetário, chamadas de IDPs (Interplanetary Dust Particles), entram na atmosfera por ano. “Sabemos que muitas IDPs procedem de cometas, mas nunca havíamos sido capazes de associar uma IDP concreta a um cometa em particular”, disse o co-autor do estudo Larry Nittler, do Departamento de Magnetismo Terrestre de Carnegie. “As únicas amostras cometárias conhecidas que temos estudado no laboratório são aquelas que retornaram do cometa 81P/Wild 2 pela missão Stardust”. A missão Stardust usou uma nave lançada pela NASA para coletar amostras de pó do cometa 81p/Wild 2, retornando a Terra em 2006.

O pó do cometa Wild 2 retornado pela missão Stardust incluía material que sofreu mais mudanças do que era esperado, indicando que nem todo o material cometário é altamente primitivo.

As IDPs coletadas pela aeronave da NASA em abril de 2003 procedentes da trilha de poeira do cometa 26P/Grigg-Skjellerup foram usadas pela equipe de investigação, a qual incluía os cientistas da Universidade de Carnegie, Nittler, Henner Busemann (agora na Universidade de Manchester no Reino Unido), Ann Nguyen, George Cody, além de outros sete colegas. Este time analisou uma sub-amostra do pó para determinar a composição química, isotópica e micro estrutural dos grãos. Os resultados dos estudos foram reportados no website Earth and Planetary Science Letters.

Partículas mais antigas que a formação do Sistema Solar foram encontradas

“O que encontramos é que estas sub-amostras são muito distintas das IDPs típicas”, disse Nittler. “São mais primitivas e possuem uma maior abundância de material cuja origem é anterior a formação do Sistema Solar”. Não só a diferença notada nas partículas, como também a sincronia de sua coleta na estratosfera logo após a passagem da Terra através da cauda deste cometa, apontam para o cometa 26P/Grigg-Skjellerup como a fonte original do material analisado.

“Isso é emocionante, pois nos permite comparar na escala microscópica no laboratório as partículas de pó de cometas diferentes”, disse Nittler. “Podemos usá-los para rastreamento dos distintos processos que tiveram lugar no Sistema Solar há 4,5 bilhões de anos”.

A maior surpresa para os pesquisadores consistiu na presença abundante de grãos conhecidos como pré-solares na amostra de pó. Os grãos pré-solares são diminutas partículas de pó que se formaram em gerações de estrelas anteriores e em explosões de supernovas antes da formação do Sistema Solar. Depois, ficaram presos em nosso Sistema Solar conforme se formava e se encontram atualmente em meteoritos e nas IDPs. Os grãos pré-solares são identificados através de suas composições isotópicas extremamente incomuns em comparação com o resto do Sistema Solar. Mas os grãos pré-solares são em geral raríssimos, com abundâncias de só algumas poucas partes por milhão mesmo nos meteoritos mais primitivos e de algumas centenas de partes por milhão nas IDPs.

“Nas IDPs associadas com o cometa 26P/Grigg-Skjellerup a concentração [de partículas pré-solares] sobe até o nível percentual”, disse Nittler. “Isto é, dezenas de vezes a maior abundância que vemos em outros materiais primitivos”.

Além disso, é surpreendente a comparação com as amostras coletadas no cometa Wild 2 pela missão Stardust. “Nossas amostras parecem ser muito mais primitivas, muito menos processadas, que as amostras do cometa Wild 2″, disse Nittler, “o que poderia indicar que há uma enorme diversidade no grau de processamento dos componentes de cometas distintos”.

Fontes e referências

Science Direct (artigo original de referência) – Earth and Planetary Science Letters: Ultra-primitive interplanetary dust particles from the comet 26P/Grigg–Skjellerup dust stream collection

Centauri Dreams: Cometary Clues to Solar System Origins

Astrobiology: ‘Ultra-Primitive’ Particles Found in Comet Dust

“Ultra-Primitive” Particles Found in Comet Dust

Science Daily:

Ciência Kanija: Partículas ultra-primitivas encontradas no pó cósmico da Terra

Aminoácido descoberto pela sonda Stardust no cometa Wild 2 causa comoção nos cientistas que buscam pela vida extraterrestre

1 comentário

4 menções

  1. Sim, é possivel que no passado o cometa 26P/Grigg-Skjellerup tenha se aproximado ainda mais da Terra, e pode estar associado às paleolagoas, resultante da explosão troposférica de megametoros, encontradas no Brasil e em outras partes do mundo.

    http://sites.google.com/site/cosmopier/
    abs
    pierson

  1. […] fontes, incluindo partículas ricas em compostos orgânicos na poeira interplanetária, as quais caíram a Terra mais suavemente que os asteróides e cometas. “Estas [partículas de pó interestelar] se aquecem, mas não […]

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    • Blog de Astronomia do astroPT » Está a vida baseada no cianureto gerado pelos impactos espaciais? em 26/11/2009 às 10:22

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