O observatório espacial Herschel da ESA, o maior telescópio orbital atualmente em operação, captou várias imagens espetaculares de nuvens de gás frio próximas do plano da Via Láctea, revelando uma atividade intensa e imprevista. A região escura e fria está pontilhada de berçários estelares, como pérolas amarradas em um colar cósmico.
Em 3 de Setembro, o telescópio Herschel apontou para a constelação do Cruzeiro do Sul, próximo ao disco galáctico visando descobrir os segredos de um reservatório de gás frio. Enquanto o poderoso telescópio varria o céu, seu receptor Spectral and Photometric Imaging REceiver, SPIRE junto com o instrumento Photoconductor Array Camera and Spectrometer, PACS obtinham as fotos desta área. A região está localizada a 60° a partir do Centro Galáctico, a milhares de anos-luz da Terra.
Os 5 olhos infravermelhos combinados
As cinco imagens foram obtidas em faixas de freqüência distintas do infravermelho. A câmera SPIRE opera nos comprimentos de onda entre 250 e 500 mícrons, combinados aqui com as imagens da câmera PACS que opera entre 70 e 160 mícrons. Nesta composição temos o azul associado aos 70 mícrons da PACS, o verde aos 160 mícrons também da PACS e tons de vermelho relacionados às três bandas do SPIRE (250/350/500 mícrons).
As imagens revelam a estrutura do material frio da nossa galáxia, de uma maneira inédita. Assim, mesmo antes de uma análise mais profunda, os cientistas já têm coletado informação sobre a quantidade de material, sua massa, sua temperatura, sua composição e se a matéria está colapsando para criar novas estrelas.
Visão inédita
Os cientistas não esperavam encontrar uma atividade tão evidente em uma área escura e fria como essa. Mas as imagens revelam uma surpreendente quantidade de turbulência: o material interestelar está se condensando em interligados filamentos contínuos que brilham com a luz emitida por estrelas recém-nascidas que se apresentam em diferentes estágios de desenvolvimento. Vivemos em uma galáxia que trabalha de forma incansável forjando continuamente novas gerações de estrelas.
As estrelas formam-se em ambientes frios e densos e nestas imagens é fácil localizar as estrelas escondidas, formando-se em filamentos que seriam muito difíceis de isolar através uma imagem singular resultante de um comprimento de onda único.
Como ver através da poeira
Tradicionalmente, numa região densamente povoada como esta, que está situada no plano da nossa Galáxia e que contém muitas nuvens moleculares ao longo da linha de visão, os astrônomos têm tido muitas dificuldades em resolver os detalhes. Mas o telescópio Herschel e seus sofisticados instrumentos que operam nas faixas de freqüência do infravermelho não tiveram muita dificuldade em observar através da poeira cósmica, opaca para a luz visível, mas transparente para o infravermelho. Trata-se de uma observação astronômica impossível de ser obtida a partir dos equipamentos disponíveis no solo terrestre.
O resultado do Herschel se apresenta como uma incrível rede de estruturas filamentosas, que indicam uma cadeia de eventos de formação simultânea de proto-estrelas, que brilham como colares de pérolas nas profundezas da nossa Galáxia, a Via Láctea.
Verificação de Performance
Este trabalho do Herschel faz parte da etapa de verificação de performance que acarreta testes do seu equipamento e do seu software nos diversos tipos de operação possíveis. Os testes irão prosseguir até meados de outubro de 2009 quando então este observatório espacial estará 100% operacional. Neste teste foram verificadas as integrações entre os equipamentos SPIRE e PACS, trabalhando ao mesmo tempo e tratando a mesma imagem cósmica.
Fontes e referências
Centauri Dreams: Herschel: Lighting Up the Interstellar Medium
ESA: Herschel views deep-space pearls on a cosmic string
Universe Today: Herschel Sees Hidden Stars in the Southern Cross por Nancy Atkinson
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