ESO: o projeto GigaGalaxy Zoom libera uma fantástica visão do centro da Via Láctea

Mosaico com 1.200 imagens em 340 megapixels: o centro da Via Láctea por Stéphane Guisard

Mosaico com 1.200 imagens em 340 megapixels: o centro da Via Láctea por Stéphane Guisard

Este mosaico que apresenta uma extensão de 34º × 20º dos céus exibe um exemplo de imagens que são observadas normalmente pelos astrônomos amadores em todo o mundo. No entanto, sua beleza intrínseca deve-se tanto à qualidade do local de observação quanto à perícia do famoso fotógrafo Stéphane Guisard, engenheiro francês que trabalha no ESO [1]. Esta segunda imagem foi claramente beneficiada pela excepcional qualidade do céu de Cerro-Paranal, um dos melhores lugares da Terra para observação dos céus e local onde reside o Very Large Telescope do ESO. Adicionalmente, Guisard tirou partido de sua experiência profissional como engenheiro óptico especialista em telescópios, uma rara combinação no mundo dos fotógrafos. Guisard é o diretor da equipe de engenharia ótica do Paranal, responsável por assegurar ao Very Large Telescope a obtenção do melhor desempenho ótico possível.

29 noites, 200 horas de exposição, 1.200 imagens em uma só visão

Para criar este mosaico em cores reais do centro de nossa galáxia, a Via Láctea, Guisard reuniu cerca de 1.200 imagens individuais, somando mais de 200 horas de tempo de exposição. Estas imagens foram obtidas ao longo de 29 noites, durante seu tempo livre [2].

A imagem mostra a zona do céu que vai desde a constelação do Sagitário até a constelação do Escorpião. As regiões, bastante coloridas, de Rho Ophiucus e de Antares, aparecem em destaque à direita, embora as regiões mais escuras, como as nebulosas do Cachimbo e da Serpente, também sejam notáveis. A “rota da poeira” da Via Láctea, atravessa a imagem na direção oblíqua, salpicada por nebulosas brilhantes avermelhadas, tais como as nebulosas da Lagoa (M8), Trífida e as NGC 6357 e NGC 6334. Esta região escura hospeda também o centro de nossa Galáxia, onde reside um buraco negro supermassivo em Sagittarius A*.

“A área que vos mostro nesta imagem é uma região extremamente rica do céu e a que eu considero mais bonita”, disse Guisard.

Stéphane Guisard e o seu telecópio usado para capturar as imagens da Via Láctea em Cerro Paranal

Stéphane Guisard e o seu telecópio usado para capturar as imagens da Via Láctea em Cerro Paranal

Este maravilhoso campo estelar é a segunda das três imagens de alta resolução que fazem parte do projeto GigaGalaxy Zoom project, desenvolvido pelo ESO dentro do escopo do Ano Internacional da Astronomia em 2009 (AIA2009). O projeto visa fornecer aos exploradores assíduos do céu a hipótese de explorarem e experimentarem o Universo tal como é visto a olho nu a partir de um dos melhores e mais escuro local de observação do planeta, o Cerro Paranal. O GigaGalaxy Zoom contém um sistema que permite aos utilizadores mergulharem de cabeça na nossa Via Láctea. Com este sistema e apenas com um clique no objeto pretendido, os utilizadores têm a possibilidade de conhecer melhor os diferentes e fascinantes objetos da imagem, tais como nebulosas multicores e estrelas fulgurantes. Deste modo, o projeto pretende ligar o céu que nós conhecemos ao cosmos profundo e “escondido” que os astrônomos estudam diariamente. A magnífica qualidade das imagens é um testemunho ao esplendor do céu noturno nos locais de observação do ESO, no Chile, nos quais se encontra um dos observatórios astronômicos mais produtivos do mundo inteiro.

A terceira imagem do projeto GigaGalaxy Zoom será lançada na próxima semana em 28 de Setembro de 2009.

Vá até http://www.gigagalaxyzoom.org/ para acessar as fantásticas imagens da Via Láctea!

Vejamos a seguir alguns dos mais belos objetos desta região da Via Láctea…

A nebulosa Trífida

A nebulosa M20 (Trífida) sob a lente de Adam Block

A nebulosa M20 (Trífida) sob a lente de Adam Block

Uma beleza indescritível pode ser encontrada na Nebulosa Trífida. Também conhecida como M20, esta nebulosa fotogênica está visível através de bons binóculos na direção da constelação de Sagittarius. Os processos energéticos de formação estrelar criam não apenas as belas cores mais também o caos. O gás brilhante em vermelho resulta da luz estelar irradiando o gás hidrogênio. Os filamentos de poeira cósmica escura que enlaçam a M20 foram criados a partir das camadas externas expulsas de frias estrelas gigantes vermelhas e dos escombros de explosões de supernovas. Quais são as estrelas brilhantes que iluminam a nebulosa de reflexão azul é ainda um assunto que está sob investigação. A luz da M20 que vemos hoje a deixou cerca de 3.000 anos atrás, embora a distância exata permaneça desconhecida. Sabemos, no entanto, que a luz leva 50 anos para cruzar a nebulosa M20.

A nebulosa NGC 6357 – um complexo de nebulosas de emisão

A nebulosa NGC 6357 fotografada por Johannes Schedler (Panther Observatory)

A nebulosa NGC 6357 fotografada por Johannes Schedler (Panther Observatory)

Estrelas massivas residem dentro de NGC 6357, um complexo de nebulosas de emissão em expansão a 8.000 anos-luz de distância, no rabo do Escorpião (Scorpius). De fato, posicionada logo abaixo do centro desta visão em close-up da NGC 6357, o aglomerado estelar Pismis 24 é composto de algumas das mais massivas estrelas conhecidas na galáxia, supergigantes com 100 vezes ou mais a massa solar. A região central brilhante da nebulosa contém também os pilares de poeira de uma nuvem molecular, escondendo proto-estrelas massiva dos olhares curioso e insistentes dos instrumentos óticos, os quais não conseguem ver através das nuvens obscurecidas. Formatos complexos na nebulosa foram criados por fortes ventos interestelares e radiação energética ionizante das jovens e recém formadas estrelas massivas. Este belo panorama da nebulosa NGC 6357 nos mostra uma região com 50 anos-luz de diâmetro.

A nebulosa NGC 6334 – A Garra do Gato (Cat’s Claw)

NGC 6334 - A nebulosa da 'Pata do Gato'. Crédito: T. A. Rector (Universidade do Alaska), T. Abbott, NOAO, AURA, NSF

NGC 6334 – A nebulosa da ‘Pata do Gato’. Crédito: T. A. Rector (Universidade do Alaska), T. Abbott, NOAO, AURA, NSF

As nebulosas são famosas por serem associadas a formatos familiares. Assim é a vasta Nebulosa da Garra do Gato visível na constelação de Scorpius (Escorpião). A uma distância de 5.500 anos-luz, A garra do gato é uma nebulosa de emissão com uma coloração vermelha que se originou de uma abundância de átomos de hidrogênio ionizados. Também conhecida como a Nebulosa da Garra do Urso ou NGC 6334, possui estrelas jovens e brilhantes com massa quase 10 vezes a massa do Sol que nasceram por lá há poucos milhões de anos. Na imagem acima, a Nebulosa da Garra do Gato foi fotografada a partir do telescópio de 4-metros Blanco no Chile por T. A. Rector (Universidade do Alaska) e T. Abbott, NOAO, AURA, NSF

Notas:

[1] O francês Guisard trabalha para o ESO, no Chile, desde 1994, tendo neste momento o cargo de Engenheiro Óptico Principal do Very Large Telescope do ESO (VLT). É responsável pelo alinhamento óptico dos telescópios do Paranal, assim como pela manutenção e melhoria da qualidade de imagem destes telescópios e da sua ótica ativa. Guisard passa a maior parte do seu tempo livre a fotografar o céu noturno, tirando proveito dos mesmos céus cristalinos que o VLT. As suas fantásticas imagens astronômicas e os seus filmes têm sido usados em muitos livros e programas de televisão. Stéphane Guisard também é um colaborador do famoso site de astrofotografia The World At Night (TWAN).

[2] A imagem foi obtida no Cerro Paranal, onde se encontra o Very Large Telescope do ESO, com um telescópio de 10 cm Takahashi FSQ106Ed f/3.6 e uma câmara SBIG STL CCD, com uma montagem NJP160. As imagens foram recolhidas através de três filtros diferentes (B, V e R), tendo-se juntado as três cores posteriormente. Este mosaico foi composto a partir de 52 campos estelares distintos, obtidos a partir de cerca de 1.200 imagens individuais, somando um total de 200 horas de tempo de exposição. A imagem final produzida tem um tamanho de 24.403 ×13.973 pixels (340 megapixels).

Fontes e Referências:

ESO 34/09 – Photo Release: Zooming to the centre of the Milky Way — GigaGalaxy Zoom phase 2

ESO 32/09 – Photo Release: ESO unveils an amazing, interactive, 360-degree panoramic view of the entire night sky

GigaGalaxy Zoom: http://www.gigagalaxyzoom.org

Stéphane Guisard : www.eso.org/~sguisard

The World At Night

Science Daily:

Astronomy.com: European Southern Observatory unveils an interactive, 360° panoramic view of the entire night sky

Universe Today:

APOD:

._._.

5 menções

  1. […] visão em cores falsas é uma cortesia do observatório espacial SPITZER. Na imagem acima a nebulosa Trífida aparece em uma área de 30 anos luz de diâmetro, a uma distância de cerca de 5.500 anos luz da […]

  2. […] visão em cores falsas é uma cortesia do observatório espacial SPITZER. Na imagem acima a nebulosa Trífida aparece em uma área de 30 anos luz de diâmetro, a uma distância de cerca de 5.500 anos luz da […]

  3. […] a vermelha e azul nebulosa Trífida (M20) (veja: ESO: o projeto GigaGalaxy Zoom libera uma fantástica visão do centro da Via Láctea); […]

  4. […] (Trífida) [ veja os detalhes em ESO: o projeto GigaGalaxy Zoom libera uma fantástica visão do centro da Via Láctea […]

  5. […] Veja também: ESO: o projeto GigaGalaxy Zoom libera uma fantástica visão do centro da Via Láctea […]

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