Cientistas provam que CoRoT-7b é o primeiro planeta rochoso similar a Terra já encontrado

O lado diurno aquecido de CoRoT 7b apresenta temperaturas acima de 1.000o Celsius

A face diurna sempre aquecida de CoRoT 7b apresenta temperaturas acima de 1.000° Celsius

CoRoT-7b, um dos menores exoplanetas já descobertos teve sua estrutura rochosa confirmada pelos cientistas. Assim este objeto passou a ser o primeiro planeta além do nosso sistema solar com densidade comprovadamente similar a da Terra, diferentemente da maioria dos exoplanetas conhecidos que têm estrutura joviana.

Claire Moutou, membro da equipe do Laboratoire d’Astrophysique de Marseille na França disse:

Nós temos indicações que outros exoplanetas também podem ser rochosos, mas esta é a primeira vez que a densidade de tal exoplaneta foi efetivamente medida. Estamos confiantes que este exoplaneta é rochoso.

Embora a densidade de um planeta telúrico torne CoRoT-7b o exoplaneta ‘parecido com a Terra’, na verdade, a situação por lá não é nada simpática ou familiar. O exoplaneta orbita a uma distância ínfima da sua estrela hospedeira: 2,5 milhões de km de distância, 23 vezes mais perto da estrela CoRoT-7 que Mercúrio é do nosso Sol. Nessa exígua distância a temperatura na superfície deste planeta extrasolar é escorchante, mais de 1.000º Celsius no lado que se apresenta sempre voltado para a sua estrela-mãe.

Corot-7b está preso em rotação sincrônica, uma face está sempre às escuras

Devido a proximidade da sua estrela CoRoT-7b tem seu movimento de rotação bloqueado e apresenta sempre a mesma face para a estrela CoRoT-7. Assim, este exoplaneta infernal encontra-se em rotação sincrônica (como a Lua está em relação a Terra). Moutou informou a SPACE.com:

Provavelmente o lado do ‘dia’ é extremamente quente e a superfície é pura lava, a outra face, contudo, deve ser bastante fria, e pode até ser rochosa com algumas montanhas. Não há possibilidade de existir água líquida por lá.

Um exoplaneta em trânsito provoca a queda da luminosidade de sua estrela hospedeira

Um exoplaneta em trânsito provoca a queda da luminosidade de sua estrela hospedeira. Crédito: CNES / ESA (European Space Agency)

CoRoT-7b foi descoberto em fevereiro de 2009 pelo telescópio espacial multinacional CoRoT. A estrela CoRoT-7 é ligeiramente menor e mais fria que o Sol e dista 500 anos-luz da Terra. Quando o exoplaneta transitou na frente de sua estrela ele eclipsou uma pequena fração da luz estelar, causando um leve declínio em seu brilho.

O decréscimo no brilho de CoRoT-7 foi suficiente para comprovar a existência do exoplaneta e também forneceu dados para que os cientistas estimassem não só a distância do mesmo a sua estrela hospedeira como também o seu diâmetro, 80% maior que o da Terra. Mas, para conhecer sua densidade, que revelaria se o exoplaneta é rochoso ou gasoso, é necessária uma medição precisa da velocidade da estrela-mãe, que é ligeiramente agitada pela pequena massa do exoplaneta.

Animação mostra Corot-7b em trânsito (dê um clique na imagem)

Animação mostra Corot-7b em trânsito (dê um clique na imagem)

Para conseguir esta avaliação, os astrônomos usaram o espectrógrafo High Accuracy Radial velocity Planet Searcher (HARPS) no telescópio de 3,6 metros de diâmetro do observatório de La Silla no Chile operado pelo ESO (European Southern Observatory’). Os astrônomos de La Silla determinaram que a massa de CoRoT-7b é 5 vezes a massa da Terra o que o coloca entre os exoplanetas mais leves já encontrados.

Sabendo então sua massa e diâmetro, os pesquisadores calcularam sua densidade média: 5,6 ± 1,3 g/cm³ (entre 4,3 e 6,9 g/cm³). Esta densidade o coloca na classe dos planetas telúricos.

Planeta

Densidade (gramas/cm³)

CoRoT-7b

5,6 ± 1,3

Terra

5,52

Mercúrio

5,43

Vênus

5,24

Marte

3,93

“Esta é a primeira prova da descoberta de um planeta rochoso”, disse à SPACE.com o especialista em formação planetária Alan Boss da Carnegie Institution of Washington, que não estava diretamente envolvido nesta pesquisa. Boss afirmou:

Isto mostra qe planetas rochosos são comuns. As estimativas são que 30% das estrelas similares ao Sol têm estas super-terras-quentes e agora que nós sabemos a densidade de uma delas, será mais fácil concluir que a maioria dos outros é provavelmente rochosas também. As evidências de que vivemos em um universo repleto de planetas rochosos é notória.

À procura da vida

Encontrar um planeta rochoso com densidade similar a da Terra é mais um passo na direção de descobrimos outro planeta parecido com o nosso. Uma terra-gêmea além do sistema solar poderá oferecer-nos a melhor chance de encontrarmos a vida em outro lugar no Universo, é o que os cientistas esperam. Embora CoRoT-7b provavelmente apresente falta de água liquida e isto signifique que seja inóspito a abrigar vida, a descoberta deste exoplaneta é um sinal promissor. Os observatórios espaciais CoRoT da ESA/CNES e Kepler da NASA estão ambos a caça da descoberta de novos mundos.

Motou esclareceu:

Estamos todos procurando por quaisquer tipos de exoplanetas. Estamos tentando não ser guiados pelo nosso sistema solar, mas é claro que estaremos muito interessados em encontrar um exoplaneta onde a vida poderia se desenvolver. Este não é um mundo habitável, mas alguns dos futuros planetas deste tipo talvez possam permitir a vida desenvolver-se. Este é nosso objetivo de longo-termo: achar um mundo análogo a Terra.

A estrela CoRoT 7 está no centro desta imagem fornecida para ESO (European Southern Observatory)

A estrela CoRoT 7 está no centro desta imagem fornecida pelo ESO (European Southern Observatory)

O time de pesquisadores liderado por Didier Queloz do observatório de Genebra na Suíça publicou seus resultados no jornal do ESO, Astronomy & Astrophysics. Traduzimos abaixo o que eles escreveram no ABSTRACT:

Nós relatamos aqui os resultados de uma intensiva campanha de observações da estrela CoRoT-7 que desenvolvemos com o instrumento HARPS do telescópio de 3,6-metros do ESO em La Silla, Chile. Medições fotométricas adicionais tomadas com o telescópio Suíço Euler demonstraram que as variações na velocidade radial são dominadas por modulações rotacionais de manchas frias na superfície estelar. Várias abordagens foram usadas para extrair a velocidade radial do planeta do sinal da atividade estelar. Primeiramente, um procedimento de pré-branqueamento foi utilizado para encontrar e subseqüentemente remover sinais periódicos da complexa estrutura de freqüência dos dados de velocidade radial. A freqüência dominante no espectro de radiação foi calculada em 23 dias, o que corresponde ao período rotacional da estrela CoRoT-7. O período calculado em 0,8535 dias do candidato a exoplaneta CoRoT-7b foi detectado com uma amplitude de 3,3m/s. A maioria das outras freqüências, algumas com amplitudes maior que o sinal proveniente de CoRoT-7b são provavelmente associadas as atividades estelares. Uma segunda abordagem usou a decomposição harmônica do período rotacional até os 3 primeiros harmônicos para filtrar o sinal de atividade das variações da velocidade radial causadas por planetas em órbita. Depois de corrigir a velocidade radial por atividade, dois sinais periódicos foram detectados: o período de trânsito para o CoRoT-7b e um segundo exoplaneta com período de 3,69 dias e uma amplitude de 4 m/s. Este segundo sinal foi também encontrado na analise de pré-branqueamento. Nós atribuímos o segundo sinal ao segundo exoplaneta, mais remoto, o CoRoT-7c. A solução orbital de ambos os planetas é compatível com órbitas circulares.A massa de CoRoT-7b é 4,8±0,8 (M⊕) e a massa de CoRoT-7c é 8,4±0,9 (M⊕), assumindo que ambos os exoplanetas estão em órbitas co-planares. Nós também investigamos um cenário ‘falso-positivo’ da existência de uma tênue binária estelar e tal situação foi rejeitada pela estabilidade do sistema. De acordo com as suas massas, ambos os exoplanetas pertencem à categoria de ‘super-terras’. A densidade média de CoRoT-7b é ρ = 5,6 ± 1,3 g/cm³, similar a densidade da Terra. O sistema planetário da estrela CoRoT-7 nos fornece um primeiro vislumbre dentro da natureza física das super-terras de pequeno período orbital, detectados recentemente pelo método de velocidade radial. Estes planetas devem ser mais densos que Netuno e provavelmente feitos de rochas como a Terra, ou uma mistura de água congelada e rochas.

Fontes e referências:

ESO: First Solid Evidence for a Rocky Exoplanet [Mass and density of smallest exoplanet finally measured]

ESA: COROT discovers smallest exoplanet yet, with a surface to walk on

Centauri Dreams: CoRoT-7b: A Small, Rocky World Examined

Space.com:

Universe Today:

ScienceDaily:

Artigo científico: http://www.aanda.org/10.1051/0004-6361/200913096/pdf

._._.

2 comentários

5 menções

    • ana patricia sousa de araujo em 01/10/2009 às 15:47
    • Responder

    o planeta é uma das coisas de que eu mais gosto de pesquisar , gosto mais é de falar do planeta mercurio apesar de que o mais falado é o marte, O MEU SONHO É DE UM DIA IR NA LUA .

  1. Muito interessante!
    sempre estou de olho nesse website, sem dúvidas uns dos melhores do brasil, se não o melhor!
    e tenho certeza que um dia iremos encontrar um planeta com semelhanças idênticas a da terra, e com vida, não tenho dúvida disso!

    “e gostaria de pedir ao dono se possível criar uma comunidade no orkut para melhor debatermos sobre esses assuntos tão interessantes”.

    sou fã desse website!

  1. […] O programa teve um sucesso excepcional. Utilizando o HARPS, a equipe de Michel Mayor descobriu, por exemplo, em 2004 a primeira super-Terra em torno de µ Ara (ESO 22/04); em 2006 um trio de ‘Netunos’ em torno de HD 69830 (ESO 18/06); em 2007 Gliese 581d, a primeira super-Terra na zona de habitabilidade de uma pequena estrela (ESO 22/07); e em 2009 o exoplaneta mais leve detectado até agora em torno de uma estrela normal, Gliese 581e (ESO 15/09). Mais recentemente a equipe encontrou um mundo potencialmente coberto de lava, com uma densidade semelhante à da Terra (ESO 33/09). […]

  2. […] maior, e isto nos sugere que a composição dos dois planetas deve ser muito diferente. Enquanto CoRoT-7b tem provavelmente um núcleo rochoso e poderá estar coberto de lava, os astrônomos pensam que 75% […]

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