Cometas não só podem aniquilar a vida, mas também impedir que ela apareça!

Impressão artística de um planeta esterilizado pelo contínuo bombardeio de cometas e meteoros. Crédito: David Hardy em

Impressão artística de um planeta esterilizado pelo contínuo bombardeio de cometas e meteoros. Crédito: David Hardy

Algumas estrelas têm um elevado nível de cometas à sua volta e isso pode trazer o apocalipse sobre as possíveis formas de vida enraizadas em seus planetas. Visando entender melhor como isso funciona, há uma investigação em curso para determinar qual fração de sistemas estelares que podem ser inabitáveis por causa de impactos de cometas.

Muitos dos cometas no nosso sistema Solar estão no Cinturão Kuiper, um disco cheio de detritos que se estende desde a órbita de Netuno (30 UA) para quase duas vezes o superior a essa distância. Outras estrelas têm mostrado discos de detritos semelhantes a esse. Um exemplo disso é Epsilon Eridani, estrela gêmea do Sol a 10 anos-luz da Terra, que é um sistema jovem que possui três anéis.

rp_epsilon-eridani.jpg

Impressão artística do Sistema Epsilon Eridani

 

Cerca de 20 por cento das estrelas semelhantes ao Sol têm discos de detritos que são mais substanciais que o nosso Cinturão de Kuiper, de acordo com os dados do Telescópio Espacial Spitzer. Mais detritos podem significar mais cometas, mas isso também pode significar mais impactos assassinos em planetas semelhantes à Terra orbitando essas estrelas?

Para responder isso temos que saber se existem planetas gigantes como Júpiter ao redor dessas estrelas semelhantes ao Sol.

O poder de Júpiter

Júpiter é conhecido por atuar como um escudo da Terra defendendo-a de alguns cometas, desviando-os para longe do sistema Solar ou absorvendo seu impacto como no caso do Shoemaker Levi 9 em maio de 1994. No entanto, novos estudos demonstraram em 2007 que Júpiter também injetou cometas em órbitas que cruzam com a Terra. Na verdade, se Júpiter fosse do tamanho de Saturno, o número de impactos sobre a Terra seria muito mais elevado.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/71/Shoemaker-Levy_9_on_1994-05-17.png

Fragmentos do cometa Shoemaker Levy 9 em 17/05/1994

Jane Greaves da Universidade de St. Andrews, Escócia, está estudando a forma como os cometas são afetados pelos grandes planetas gigantes gasosos. Seus resultados iniciais indicam que os cometas constituem, de fato, um grande problema em uma pequena porcentagem de estrelas semelhantes ao Sol.

No início da história do nosso sistema Solar, havia muitos vestígios deixados pela formação planetária. Todo esse escombro espacial levou a um pesado bombardeio de cometas e asteróides nos planetas interiores (próximos ao Sol), como fica evidenciado nos registros visíveis deixados nas crateras da Lua e no planeta Mercúrio (na Terra, a maioria destas cicatrizes foi erodida ao longo do tempo ou desapareceram pela atividade tectônica).

O número de impactos foi reduzido há cerca de 3,8 bilhões de anos atrás, cerca de 700 milhões de anos após a formação do sistema Solar.

A causa dessa redução pode ter sido a mudança nas órbitas dos planetas gigantes gasosos afastando muitos desses cometas. Júpiter e Saturno parecem ter migrado para fora (para mais distante do Sol), empurrando as órbitas de Urano e Netuno. E estes dois perturbaram o Cinturão de Kuiper expulsando muitos cometas para o espaço interestelar, disse Greaves. “Este pode ser um evento muito especial, ou pode estar a acontecer em outros sistemas – ainda não sabemos, porque nós temos poucas informações sobre os planetas gigantes”, completa Greaves.

Mesmo assim, o nosso planeta não ficou completamente imune a impactos mortais posteriores…

Extinções Massivas

dinossauros em extinçãoMuitos cientistas acreditam que os dinossauros foram aniquilados por um asteróide ou cometa com diâmetro entre 4 e 20 km que atingiu a Terra há 65 milhões de anos em um ponto na península de Yucatán. O impacto levou a uma tempestade global de fogo e a extinção de mais de metade das formas de vida sobre a Terra.

Recentemente descobriram-se evidências de uma queda de um cometa menor, porém mortal, cujos pedaços atingiram a América do Norte. Tal cataclismo que resultou na extinção do povo de Clóvis e no fim de pelo menos 35 espécies de grandes animais, incluindo o mamute-lanoso, o tigre dentes-de-sabre (smilodon), o megalonyx (parente do Megatério), o teratornis e outras feras, há 12.900 anos.

Por outro lado, um impacto maior de um cometa com 100 km de diâmetro não teria deixado sobreviventes. Tal “impacto catastrófico” destruiria toda a crosta da Terra e expulsaria sua atmosfera para o espaço.

A Terra provavelmente experimentou alguns desses impactos catastróficos muito cedo, antes que a vida tivesse se estabilizado, no período denominado Hadeano.

“Embora um impacto do tipo ‘assassino de dinossauros’ ocorra estatisticamente a cada 100 milhões de anos (na Terra), seria improvável experimentar um evento associado a um cometa maior com 100 km de diâmetro, nos próximos bilhões de anos, ou seja, ao longo da vida útil do Sol”, disse Greaves.

Qual seria a taxa grandes impactos sobre um planeta para evitar que a vida sequer se inicie?

Cometa em colisãoGreaves acredita que a vida não poderia evoluir num planeta onde os impactos com cometas de 10 a 100 km de diâmetro ocorram a cada 20 milhões de anos. Este tipo de bombardeio não permite que os organismos se desenvolvam o suficiente e que tenham tempo de recuperação entre os impactos. O nível de biodiversidade permaneceria baixo e, portanto, há menos probabilidade de que qualquer espécie sobreviva ao próximo impacto devastador.

Em trabalhos anteriores, Greaves e seus colegas especularam sobre o sistema Tau Ceti – uma estrela antiga a 11,9 anos-luz do Sol que tem sido um dos principais alvos das pesquisas do SETI (Search for Extra-Terrestrial Intelligence, que significa Busca por Inteligência Extraterrestre) – é inabitável devido ao grande número de cometas que parecem  estar em movimento em torno dela (embora esta afirmação possa ter sido muito pessimista na ocasião, afirma ele agora).

Sua equipe está atualmente analisando a ameaça global representada pelos cometas. Eles já modelaram diferentes sistemas planetários representativos (com e sem planetas gigantes gasosos). A partir disso, estimam que pelo menos uma pequena porção das estrelas é muito afetada pelos cometas para serem consideradas como possíveis candidatas a ter planetas com vida.

Fonte e referências:

Space.com:

Extinção em massa há 12.900 anos: a Terra foi atingida por um cometa?

Centauri Dreams: Tau Ceti: Life Amidst Catastrophe?

Sol Station: Tau Ceti

εγε

._._.

4 comentários

5 menções

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    • Victória Regina em 22/10/2009 às 19:22
    • Responder

    Eu achei a reportangem muito boa mais eu gostaria de saber se existem estrelas que podem explodir e causar grande danos ao nosso planeta Terra ?

      • em 15/11/2009 às 07:50

      Até onde sabemos não existe nenhuma estrela que passará por uma supernova e que esteja próxima da Terra o suficiente para causar danos no nosso planeta nos próximos milhares de anos. Porém no passado pode ter havido algo desse tipo. Veja a minha resposta no Yahoo Respostas no link abaixo para mais detalhes.

      http://br.answers.yahoo.com/question/index;_ylt=Aq_niF9imHWZxolzREJZvSPJ6gt.;_ylv=3?qid=20090618143502AAWTErE&show=7#profile-info-749c548b41abd9acb919f285abcf4c01aa

      Obrigado pela participação.

  1. Caro Claudio Schmidt,

    Considerando a escala de Torino que é um índice risco de colisão (probabilidade e impacto) que varia de 0 a 10 (zero a dez) somente há um único asteróide com grau 1 (normal), o 2007 VK184. Todos os demais objetos tem grau 0 (risco = zero – chance de colisão é nula ou o tamanho do objeto é pequeno e será vaporizado se cair na Terra). O asteróide 2007 VK184 vai passar perto da Terra dentro de 39 anos, em 03/06/2048, seu diâmetro é 130 m e ficará a distância de ‘apenas’ 4.880 km (76% do raio da Terra) da superfície terrestre. A chance de impacto é de 1/2.940, ou seja, é baixa.
    O grau 1 da escala de Torino é considerado ‘normal’ e significa: o objeto que irá passar perto da Terra e não possui nível alarmante de perigo. Os cálculos atuais mostram que a chance de colisão é extremamente improvável e não deverá ser objeto de preocupação por parte do público. Novas observações da trajetória irão provavelmente recategorizá-lo no nível 0 – zero (não há perigo).
    Você pode até achar que o número de asteróides perigosos tem aumentado… Não é bem assim, na verdade, comentou o Phd astrofísico Ian O’Neill na Universe Today em 17 de março, “o que está ocorrendo é que a capacidade de detecção de objetos perigosos tem aumentado consideravelmente nos últimos anos” (e isso é um boa notícia).

    Veja sobre isto aqui:
    http://eternosaprendizes.com/2009/03/03/asteroide-2009-dd45-passou-de-raspao-pela-terra-nesta-segunda-feira/#more-1192

    E aqui:
    http://neo.jpl.nasa.gov/torino_scale.html

    Obrigado pela participação.

    • Claudio Schmidt em 11/04/2009 às 17:04
    • Responder

    Boa tarde, sou professor de escola bíblica e gostaria de receber mais informações sobre cometas(pedras) que possam atingir nosso planeta, outro dia vi no final da matéria no canal History um vídeo falando sobre uma grande pedra que está por vir em nosso planeta, vocês teriam alguma informação deste tipo e poderia me passar o histórico e vídeo se houver.

    Desde já, agradeço,

    Claudio Schmidt

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